Capitulo I

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– Eu não estava olhando pra ninguém, Victor! Você está louco!
– Você acha que eu sou cego, Lavínia? Você estava olhando sim, sua vagabunda!

16 de Março de 2017 - A Última Briga

     No início da tarde, recebi uma ligação do único hospital veterinário clínico e de emergência da cidade, o Animalia, a qual me ofereceu uma vaga na equipe de trabalho. Visto que eu era uma recém-formada da faculdade de medicina veterinária, essa oferta de emprego, com certeza, era motivo para se comemorar. Por isso, imediatamente, liguei para Victor, meu namorado, que estava no trabalho.
      Era uma sexta-feira, por isso falei que iríamos comer fora, talvez beber alguma coisa. Ele ficou mais feliz pelas bebidas do que pelo meu novo emprego, mas, pelo menos, eu ainda o tinha, mesmo com todo inferno que estava nossa relação desde que saí da casa dos meus pais e decidimos morar juntos. Talvez, naquela noite, ficasse tudo bem entre nós dois e, assim, pudéssemos ter um pouco de paz. Além disso, eu tinha até domingo para beber até cansar, uma vez que segunda já seria meu primeiro dia como médica veterinária.
       Extremamente animada com a notícia, passei a tarde brincando com a Zoé, nossa cachorrinha. Resolvi fazer um brigadeiro para assistir minha série favorita com ela, que, de uns tempos para cá, tornou-se minha única companhia. Quando percebi, já era noite e Victor em breve chegaria. Como eu queria sair logo com ele, dei um beijo na Zoé, pausei minha série e me levantei da cama para tomar um banho. Enquanto a água quente caía, eu não conseguia tirar o sorriso do rosto. O hospital era referência e o salário era excelente, minha vida profissional estava se encaminhando muito bem e nada, nesse sentido, poderia ser melhor. Quando saí do banho, Victor tinha acabado de chegar. Não perdi tempo e fui correndo abraçá-lo, mas ele não retribuiu do jeito eufórico que eu esperava.

– Você está atrapalhando a minha passagem.

     Essa foi a única coisa que ele disse. Eu saí de sua frente, ele foi para o banho e eu fui para o quarto me vestir. Ele tinha um trabalho cansativo, então talvez tenha acontecido alguns problemas por lá. Minha alegria agora estava contida, mas ainda existia. Abri o guarda-roupa e procurei por alguma coisa que eu pudesse usar, pois mesmo tendo poucas opções, sou libriana e nunca tenho certeza de nada. No fundo de uma gaveta, achei um vestido azul marinho, com o pano bem leve e solto, um pouco acima do joelho, de mangas compridas e um decote nos seios. Era perfeito. Eu nunca tinha usado e essa era uma excelente ocasião para fazer isso. Então, coloquei o vestido e me olhei no espelho. Ele ficou muito lindo em mim, era confortável e bonito, fez com que eu me sentisse sexy e bonita, coisa que já não era muito comum de acontecer. Comecei a arrumar meus cabelos e, pelo reflexo do espelho, vi Victor saindo do banheiro e entrando no quarto com a toalha enrolada na cintura. Como eu estava me sentindo radiante, virei de frente para ele, com um sorriso no rosto, e coloquei as mãos na cintura, mostrando-lhe o vestido.

E aí, ficou legal?

     Ele olhou e apenas sorriu. Por um segundo imaginei que tivesse gostado, porém Victor se aproximou, tocou em meu queixo e me deu um selinho.

O vestido é lindo e você também, mas você engordou um pouco. Não acho que combine com o seu corpo.

     Realmente, desde que me mudei, me senti um pouco mais gorda, mesmo sem me pesar pra saber ao certo, entretanto não achei que seria um problema com aquele vestido. Questionei-me quanto a perguntá-lo ou não se era necessário trocar, mas eu estava me sentindo tão bem com aquela roupa que decidi mantê-lo.

Bom, eu não tenho outro. Vou com ele mesmo.
– Tá bem. Já que você quer parecer ridícula, o problema é seu.

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