Capítulo V

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Alô? – dessa vez, usei um tom mais rude.
Lavínia... – o homem parecia ter nervosismo empregado a sua voz.
Sim, o que deseja?
– Minha filha... – ouço som de choro e mais uma vez tosse. – Sou seu pai, Cássio.

5 de agosto de 2012 - A Face do Abandono

     Era final de julho, e minhas aulas já haviam retornado. Eu estava no meu segundo período de veterinária e já adorava a faculdade, as pessoas de lá e, aparentemente, gostaria muito mais das matérias desse período do que as do anterior.
     No período passado, eu aprendi na marra que acumular matéria não era a escolha mais inteligente a se fazer, então, assim que chegava a casa, eu ia para o meu quarto estudar. Geralmente, eu fazia isso para não ter que ficar presa durante os finais de semana. Além disso, durante a semana, Pérola ficava lá comigo estudando para seu vestibular. A gente conversava bastante, ela falava sobre Felipe e também sobre todo o sexo que eles faziam, enquanto eu falava sobre uns beijos aleatórios e coisas que nos fizessem rir. Mas eu sabia que quando o final de semana chegasse, eu não teria a companhia da minha irmã, pois o namorado dela sempre estava lá em casa. E, às sextas, eu quase sempre voltava para casa no início da madrugada, porque sempre acontecia alguma coisa que envolvia álcool e música na faculdade.
     Numa dessas ocasiões, cheguei por volta de meia noite. Assim que abri a porta, fui recebida por Marvin pulando em meu colo. Meu pai assistia televisão na sala e minha mãe estava sentada ao pé da escada, fazendo carinho no Willy Wonka. Dessa forma, dei um boa noite animado aos dois, mas a fisionomia de nenhum deles era boa, entretanto eu ainda não entendia o porquê daquele clima. Então, antes de subir, sentei ao lado de minha mãe.

O que aconteceu?
– Filha... O Cássio ligou.

     Naquele momento, parecia que a Terra havia parado de girar. Cássio, meu pai biológico, ou melhor, quem havia abandonado minha mãe quando ela mais precisou, estava querendo fazer contato. Como eu não esperava por tal acontecimento, fiquei completamente assustada com a notícia, apenas conseguia encarar minha mãe, com o desejo que aquilo fosse mentira. Eu tinha mil perguntas para ela e um milhão para ele. Aquele era o melhor momento da minha vida e ele estava aparecendo, provavelmente para estragar.

Ele foi até a casa de sua avó, quem deu o meu número a ele.
– Mas essa velha também é desnecessária. Quando você precisou que ela falasse com ele, ela não falou. – levantei e, com pressa, já fui subindo as escadas. – Eu já tenho um pai, e o nome dele é Bruno!
– Lavínia, calma...

     Fui para o meu quarto e bati a porta tão forte, que assustei Sushi. Eu sabia que minha mãe não tinha culpa de nada daquilo, uma vez que ela era tão vítima quanto eu. Porém, eu estava com tanta raiva por esse homem resolver reaparecer agora, que minha vontade era explodir. Claramente, eu não sabia lidar com essas situações, tanto que na maioria das vezes em que eu me irritava, a reação do meu corpo era apenas uma, chorar. Desse modo, deitei na minha cama e coloquei meu rosto bem no meio do travesseiro. E, sem perceber, comecei a chorar da maneira mais intensa da minha vida toda, talvez o efeito do álcool tenha intensificado essa minha reação também. Enfim, em meio a tantas lágrimas, ouvi alguém batendo na porta e, sem que eu liberasse, a pessoa já foi entrando.

Mãe, eu não quero conversar. – falei com voz trêmula
Filha, sou eu.

     Era a voz de Bruno, o único pai que eu tive e o único que eu teria pelo resto da vida. Quando eu percebi que era ele, me sentei na cama, tentando secar minhas lágrimas e cessar o choro. Ele sentou ao meu lado e eu o encarei, antes que eu conseguisse falar qualquer coisa, tornei a chorar e, dessa vez, fui consolada pelo seu abraço.

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