noivado

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- Fiz chá de camomila. - meu pai avisa quando apareço no andar de baixo. Ele equilibra caixas nos braços musculosos. - Sairemos em meia hora.

- Bom dia pai, eu dormi muito bem, obrigada por perguntar. - Aumento o tom para ele me escutar da porta.

Caminho ate a cozinha e pego uma caneca vazia para me servir chá. Levo ate o nariz e inspiro o cheiro bom que o liquido quente emana. Eu sempre preferi chá ou leite ou chá com leite, qualquer parece mais atrativo do que o líquido escuro e forte, que aparentemente, todos amam.

Me apresso em engolir todo o liquido e corro para meu quarto outra vez, papai pediu que eu fizesse um coque bem preso no topo da cabeça, como os que eu usava para frequentar as aulas de ballet. Ele apareceu no meu quarto ontem a noite me chamando para ajudá-lo no restaurante e a única coisa que consegui responder foi que sim, eu estava disponível e poderia acompanhá-lo.

Ele nunca chama Melanie, porque ela nunca vai, e desde o ano passado sempre que acontece um imprevisto ele me chama, não é sempre, mas eu gosto quando acontece.

- Alice? - me chama do outro lado da porta. - Podemos ir?

Pego a minha mochila e vou até a porta, ele está encostado na parede perto das escadas e digita algo no celular. Meu pai parece um modelo e não entendo porque ele não tentou a carreira quando era mais jovem.

- Vamos?

Ele guarda o celular e começa a descer os degraus, eu odeio descer escadas. Não queria que meu quarto fosse no andar de cima, mas o único quarto que tem no andar de baixo é muito pequeno. E é lá que meus avós maternos ficam quando vem para a Califórnia.

- Qual vai ser o evento? - pergunto quando ja estamos dentro da x6 do meu pai.

- O restaurante foi fechado para um noivado e infelizmente Kim está de férias e justo hoje o filho da Amy adoeceu, então ela não pode substituir a Kim. E como eu tenho uma filha linda e educada sei que ela vai dar conta de ser uma hostess por uma tarde. - explica, desviando o olhar do trânsito por míseros segundos para me olhar. - Na lista tem trinta convidados, bem menos do que você teria que atender em um dia normal.

- Pai! - minha voz sai alta e eu tenho certeza que estou com os olhos arregalados, porque eles sempre parece que vão sair do meu rosto quando estou apavorada. - Eu odeio falar com estranhos, e o senhor sabe disso.

- Você precisa encarar seus medos, filha. - Ele afaga meu joelho e joga um beijo no ar.

- E se eu não conseguir? - pergunto em um fio de voz. - Você precisa encontrar outra pessoa.

- Não precisa. Você vai conseguir.

E assim se encerra o assunto. Porque eu sei que ele não vai desistir de tentar me mostrar que eu consigo, porque ele é sempre assim, tentando ver o lado positivo de tudo. Mesmo que eu seja, claramente, um desastre lidando com pessoas.

Seria tão mais fácil se eu tivesse que ficar na cozinha. Ou em qualquer área que não tivesse que falar com os clientes.

• • •

Faltavam apenas meia hora para os convidados chegarem e eu minhas mãos já estavam tremendo. O único uniforme que tinha aqui ficou folgado, mas com a ajuda da Sam, uma funcionária que trabalha na cozinha, eu consigo usar sem ficar caindo. Tive que colocar saltos enormes e estou me sentindo um poste. E é por isso que eu quase não tenho saltos no meu closet, porque odeio a sensação que sinto quando estou com eles.

- O senhor Le Gaux mandou entregar para a senhorita. - Kevin, um dos garçons, me entrega um copo grande com um suco amarelo. - É de maracujá, vai te acalmar.

The End.Onde histórias criam vida. Descubra agora