3 - O início dos dias difíceis

6.4K 550 4
                                    

Seis dias para o casamento.

Amanheceu e Mikaela estava bem dolorida, as crises de asma somada ao nervosismo judiaram bastante dela.
Acordou vários vezes durante a noite mesmo cansada e esgotada, além de uma dor ao pé da barriga, não era uma dor forte, mas estava a preocupando e ela sabia que não poderia ir ao médico.

Durante a noite resolveu se controlar, ser forte principalmente por seu bebê.
O remédio para Asma é muito forte e certamente fará mal para o bebê.
Por isto por mais que chorasse, tentava ao máximo não ficar nervosa. Queria seu bebê saudável.

Também decidiu ouvir sua mãe, era a única que realmente estava preocupada e que a amava.
Por isto resolveu fazer de conta que nada tinha acontecido, mesmo sendo difícil. Faltavam seis dias para seu casamento, e nestes seis dias ela tentaria ser a mesma.
Pelo menos para James e Beverlly.

Escutou seus pais terem uma breve discussão.

Aquiles - Bárbara vá acordar Mikaela, hoje ela tem a última prova do vestido e depois almoçará com o James.

- Mikaela teve uma crise muito forte de Asma, a noite foi muito difícil para ela. Você sabe que ela precisa descansar. Bárbara respondeu já tensa, sabia que a filha não estava bem e temia por ela e pelo bebê.

- Então liga para o James, informe como ela passou mal e remarque o almoço. Talvez seja melhor, assim ela terá um tempo para se acostumar com o "verdadeiro" noivo dela. Aquiles respondeu um tanto irritado.

Estava saindo para a empresa, ao contrário do que sua esposa estava esperando, ele não passou a noite toda fora, chegou às 3:00hs da manhã.
Cheirando a perfume de mulher e bebida. Ficou muito bravo pois tentou entrar no quarto do casal, mas a porta estava trancada. E como não poderia fazer barulho e chamar a atenção dos empregados, teve que dormir em um dos quartos de hóspedes.

Quando estava descendo a escada, parou olhou para Bárbara, um olhar desconfiado como se suspeitasse de algo. Voltou apressadamente até o corredor dos quartos e abriu de forma bruta a porta do quarto de Mikaela.
Ela não estava na cama, rapidamente olhou pelo quarto a sua procura, e então viu a porta do banheiro entreaberta.
Foi até lá, bufando.
Acreditava que ela tinha fugido, e Bárbara estava acobertando.

Empurrou a porta de uma vez, e se assustou com o que viu.

Mikaela estava no chão, encolhida. Ela sempre foi magra, mas aparentava estar muito mais magra, os olhos fundos e com olheiras enormes.
Como ela é extremamente branca os braços estavam roxos, marcando o local que seu pai apertou.
Sua camisola estava bem larga, pois tinha emagrecido muito mais nesta última semana de enjôos.

Aquiles ficou chocado com o que viu, ficou parado sem reação.

Mikaela tinha acabado de por o pouco que comeu na noite anterior para fora. O enjôo a deixou muito fraca, estava suando frio, e sem forças para levantar. Ficou com medo de que seu pai tivesse percebido sobre a gravidez, e se encolheu mais ainda.

Bárbara ao notar o choque do marido e a falta de reação do mesmo. Pegou uma toalha no armário na lateral da entrada do banheiro, e correu para sua filha.
A abraçou e a embrulhou como fazia quando Mika era apenas um bebê.
Mika queria chorar novamente, mas tinha prometido ser forte, então nada mais de chorar por quem não merecia.
Nunca mais seria fraca por James ou qualquer outra pessoa.
Viveria para o bem e segurança do seu bebê.
Então juntou toda força que ainda tinha, e com ajuda da sua mãe se levantou.

O banheiro era bem grande, com uma banheira quadrada que cabia no mínimo três pessoas, piso branco e revestimento lilás e branco. Cor predileta de Mikaela. Mais a frente tinha o vaso sanitário, e logo após o vaso uma pia grande e larga, aonde ela deixava seus cremes, esfoliantes, óleos corporais e etc.. e acima da pia um grande espelho.
Seu objetivo ao levantar era ir até a pia, escovar os dentes e só então voltar para seu quarto enquanto sua banheira enchia para seu banho.

Porém ela estava fraca e mesmo com sua mãe a segurando, ela ainda estava cambaleando.

Aquiles acordou do seu transe e correu para ajudar a esposa.
Por um momento a irritação passou, ver sua filha que sempre foi tão alegre e doce, tão frágil, fraca e nitidamente sofrendo, o deixou sensibilizado.
Mas não poderia mudar sua decisão, sua empresa precisava deste contrato. Não que estivessem em crise, pelo contrário, estava longe disto.
Mas a ganância de ter sempre mais, o dominava.

Ajudou sua esposa a por Mika na cama.
Estava saindo apressado do quarto, mas parou na porta e olhou para trás, viu sua menina já uma moça de 19 anos, deitada em sua cama.
Seu quarto ainda um tanto infantil, um quarto grande, com teto branco e paredes em Lilás bem claro, uma estante com livros diversos, muitos ainda guardados de quando era criança.
A parede aonde tinha a janela, tinha enfeites com luzes coloridas, logo a baixo a cama de casal, também lilás estilo princesa.
Prateleiras em outras paredes com bastante bichos de pelúcia.
Era como se o quarto transmitisse a alma inocente de sua filha.
Então sentiu raiva, novamente raiva de sua Filha..

- TRATE DE APAGAR ISTO QUE VOCÊ CHAMA DE AMOR. SENTIMENTO É FRAQUEZA. VOCÊ É UMA ALBUQUERQUE, E SE TÊM UMA COISA QUE NÃO SOMOS É FRACOS.

E assim batendo a porta saiu, com muita raiva.
Ele mudou de idéia sobre James não saber de nada. Sua filha se casaria, mas James pagaria por magoar sua filha.

Aquiles não se achava um pai ruim, estava criando suas filhas como ele foi criado. Só dinheiro importava.
Ainda se culpava muito pelo mal que fez a Bárbara.
Ele nunca quis menina, seu sonho era ter menino.
Mas por culpa dele, o único menino que teria como filho infelizmente nasceu morto. Quando se lembra daquela noite e do mal que fez a Bárbara sente muita raiva, e com esta raiva remoendo dentro dele ele se encaminha para casa de James.
E espera que seus pais estejam lá, assim ele também se beneficiaria e poderia alterar parte do acordo entre eles.

Enquanto isto Mikaela esta no quarto com sua mãe.
Durante o banho ela não diz nada, estava cansada e apenas pensando em como escapar deste triste destino.

Porém quando resolveu reparar em sua mãe, viu algo em seus olhos, não mais medo, ou preocupação, embora a preocupação ainda estivesse lá, mas o que predominava era .. esperança.
Ficou observando sua mãe, enquanto ela estava a carinhando seus cabelos, mas a mente estava longe.

- Mãe? Mãe?
E nada da Bárbara reagir..

- MÃEEEEEEEE

- O que foi Menina? Que susto!

Mikaela então ri, mesmo triste era impossível não rir perante o pulo de susto que sua mãe deu.

- A senhora estava estranha, paralisada olhando para parede..

- Estava pensando Mika, consegui uma solução para você, mas você precisa fazer tudo que eu te falar e principalmente agir como se estivesse tudo normal, principalmente com aqueles três, aliás quatro, com seu pai também.
Você pode se mostrar triste para seu pai, mas haja conformada e principalmente como se estivesse tudo ok para seu casamento.

O coração de Mika disparou, mas ela manteve a calma, precisava pelo bem de seu bebê.

Bárbara se levanta, vai até a porta, chama uma das empregadas e manda trazer um café da manhã reforçado, além disto um suco de beterraba com maçã, usando como desculpa ajudar a combater anemia, mas na verdade é por ser ótimo para conter um pouco dos enjôos da gestação.

Enquanto Mika comia, Bárbara resolveu contar para ela sobre o telefonema importante da noite passada.

Afinal este telefonema era a única chance de Mikaela conseguir fugir de uma vida infeliz.

De repente Mãe.  Concluído Sem RevisãoOnde histórias criam vida. Descubra agora