I

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Era audível todas as noites os soluços dela. Todas as manhãs ele pedia para os empregados informá-lo se os travesseiros continuavam molhados pela manhã; sempre estavam. Bruno não sabia mais o que fazer em relação a Beatrice, por mais que tentasse, nada era o suficiente para fazê-la feliz. Por mais que mostrasse ternura e compreensão, ela o ignorava na maior parte do tempo. A realidade era que Beatrice tinha um comportamento bipolar quando se tratava dele.

Bruno tinha conhecimento da antiga paixão avassaladora dela. Todos sabiam, por mais que os pais dela tenham tentado de todas as formas esconder o escândalo de uma nobre se envolvendo com um plebeu. Não demorou muito para o casamento entre os dois ser arranjado e planejado de acordo como as famílias queriam. Ele não reclamou em nenhum momento, pois a partir do momento em que a viu, sentiu uma certa palpitação diferente no coração.

Casou-se com Beatrice em uma manhã de abril, na primavera. Todo o local cheirava as flores, todo o ambiente era feliz, menos ela. Se ela sorriu duas vezes na festa do casamento, foi muito. Gostaria de ter ficado chateado, mas no fundo entendia as razões dela. Ele sempre entendeu.

Nunca tinha superado a noite de núpcias; ela chorando, olhando para ele com nojo e repulsa. Saiu do quarto completamente atormentado, sentindo-se o pior dos homens. Ficou dias trancado dentro do próprio quarto, sem vontade alguma para qualquer coisa. Até que um dia ela apareceu na porta do seu quarto pedindo perdão e prometendo fazer com que as coisas dessem certo de alguma forma.

Não deu. E ela nunca tentou de verdade.

Um dia, quando estavam bêbados depois de uma festa, entregaram-se um para o outro. Mas, no momento do maior prazer, ela não chamou o nome dele, chamou o nome do outro. Não apenas uma vez, diversas vezes até perceber o erro que havia cometido. Beatrice se trancou no quarto por duas semanas seguidas, não conseguia olhar no rosto dele sem ficar vermelha.

Evitou qualquer contato com ela, precisava esquecer o que havia acontecido. Mas aquilo o fez chorar por diversas noites, coisa que nunca tinha acontecido antes.

Beatrice o fez chorar. E muito.

— Milorde?

Seu mordomo apareceu na frente dele de repente, despertando-o do seu devaneio.

— Sim?

— Deseja tomar seu desjejum agora?

— Não estou com fome, obrigado.

— Milady está na mesa, pediu para chamá-lo caso a resposta fosse negativa.

— Beatrice quer me ver?

— Sim, senhor.

— Diga a ela que não quero vê-la.

— Sim, milorde.

O homem saiu do seu escritório, fechando a porta logo em seguida.

Bruno girou o resto do conhaque no copo e bebeu o conteúdo. O líquido desceu queimando toda sua garganta, mas aquela sensação era boa. Sempre havia gostado daquela bebida, era a sua preferida.

— Bruno.

Pousou o copo na mesa, controlando cada instinto do seu corpo em ouvir aquela voz. Não queria demonstrar nenhum sentimento positivo em relação a ela, não naquele momento. Simplesmente não podia.

— Beatrice, pensei que eu tinha deixado bem claro que não queria vê-la.

— Preciso conversar com você. — começou a morder os lábios e enrolar um cacho do cabelo que havia desprendido do seu penteado. — Por favor, Bruno, eu preciso disso.

— Precisa? Agora você precisa. — respondeu com escárnio.

— Sei que é difícil...

— Sabe?

— Por favor, não seja tão rude.

Bruno deu uma risada debochada e indicou uma cadeira para ela sentar de frente para ele. Gostaria de ter aquela conversa olho a olho.

— Bruno, jamais queria ter falado o nome dele. Principalmente quando estávamos... — ficou ruborizada. — Perdoe-me.

— Apenas olhe para mim, maldição!

Beatrice olhou para ele assustada.

— Olhe para mim e veja quantas vezes eu chorei por você! — levantou-se da cadeira rapidamente, batendo as mãos na mesa com força, derrubando algumas coisas. — Saia daqui!

— Bruno...

— Saia!

Beatrice deixou escapar algumas lágrimas e saiu do escritório rapidamente.

E mais uma vez, por causa dela, ele chorou.


Não feche os olhos essa noiteOnde histórias criam vida. Descubra agora