Prólogo

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"Steve Campbell". Repetia Steve na sua mente para ver se lembrava de quem ele era. Ora, Steve era filho de um escritor, um dos escritores mais incríveis que já conhecera, e tudo que ele conseguia fazer era escrever alguns versos sobre cabras. Não merecia o nome que tinha, era um idiota.

Steve jogou o caderno de capa dura no chão e pisou até sobrarem somente as migalhas dos papéis que o compunham. Gritou para afirmar a si mesmo que estava com raiva. Depois, corrigiu a postura a fim de parecer um homem normal; soprou os fios de cabelo que caíam sobre o rosto e respirou fundo agachando sobre o caderno maltrapilho. Pegou os papéis rasgados e tentou juntá-los, mas o que saíra era constrangedor: "Sua pele é tão alva quanto o pelo de ovelha que recobre a fêmea jovem."

Aquilo era horrível.

Não era à toa que ele era conhecido como o dramaturgo mais cômico de toda Londres. Era claro que o senhor Campbell esclarecia a todos que chegavam para comentar as suas peças que ele escrevia sobre romances e não comédias fúteis. De fato, seus romances eram... Nem sei a palavra para descrever, era mais fácil dizer sobre o que eles não eram. E mesmo assim ele ganhara um espaço para as representações de suas peças no grande teatro londrino. Havia conquistado a simpatia da alta sociedade tentando ser romântico e dramático, mas acabara sendo apelidado de Dom Burlesco.

Ele tinha imaginado algo melhor para si mesmo, como O Glorioso Segundo Shakespeare. Todavia precisava viver e, se ele era pago para ser o poeta engraçado, estava tudo magnífico, isso se ele não se referisse ao seu ego ferido.

_Maldito! -Disse Steve para o caderno ao sair do seu escritório.

Naquela mesma noite, a peça Maldição do Amor, de sua própria autoria, seria revelada à alta sociedade e, como dramaturgo, ele estaria lá para receber os elogios, os quais ele considerava mais como críticas ferozes que o devoravam por dentro.

🎩🌂

Evelyn Brown olhava para janela ansiosa, balançava os pés freneticamente, sentada no parapeito da janela. E só não comia as unhas porque estava de luvas. Olhou para os lados, tirou as luvas rapidamente e começou a saborear quase os pedaços de seus dedos, mas parou o ato quando ouviu um pigarrear alto.

Olhou para o lado e viu um de seus irmãos mais velhos recostado na porta. Evelyn era a do meio de cinco irmãos, o que a fazia perguntar se era a mais velha ou a mais nova muitas vezes. Merle era o mais velho, depois vinha Richard, Evelyn, John e Michael. Era a única mulher de cinco irmãos e, bem, isso lhe dera algumas vantagens e desvantagens. Evelyn era uma menina vestida de mulher que agia quase a maioria das vezes como um menino, não que ela não gostasse de quem era, era só porque agia pela força do hábito.

Sua mãe morrera e ela não aprendeu de maneira correta os bons modos de uma moça. O pai negou a si próprio a viver longe da menina e mandá-la para um internato, amava a filha demais para fazer isso e, além disso, ela era o mais perto que ele podia ter da esposa. E foi realmente, Evelyn crescia e cada pedacinho dela, a não ser a aparência que puxara seu pai, lembrava a Sra. Brown.

Kate Brown havia sido, em seu tempo de vida, a atriz mais magnífica de toda Londres, mas para Evelyn ela havia sido a melhor atriz do mundo. Sua mãe havia morrido de pneumonia quando ela tinha doze anos, fazendo com que as representações dela no teatro se mantivessem vivas em sua mente.

Todos os anos, os Browns iam ao teatro no aniversário de Kate assistir à alguma peça em cartaz. Não iam ao longo de todo ano mais devido à dor de lembrar-se de uma pessoa querida. Além disso, Evelyn achava muito incômodo os comentários das pessoas a respeito do que ela iria fazer, se almejava virar atriz. O cortejar dos Srs. que a queriam como esposa porque ela era filha do diretor do banco. E ás vezes, nas suas faltas de controle, deixava os olhos roxos de algumas Srtas. que diziam que ela nunca chegaria a beleza de sua mãe. E isso ela já sabia muito bem, não precisavam lhe dizer ela não era assim tão bonita. Todos os seus irmãos tinham os olhos azuis e cabelos loiros de sua mãe, mas ela tinha os cabelos e os olhos acastanhados idênticos ao do pai. Aqueles castanhos escuros e sem graça.

Merle foi até a irmã que estava com um dos dedos na boca espantada. Ele pegou as suas mãos delicadamente dando lhe um olhar reprovador e vestiu as luvas nelas.

_Estou nervosa. -Evelyn disse vendo os lábios do irmão se encurvarem em um sorriso.

_Mas não é obvio? -Ele comentou ironicamente.

Merle lhe ofereceu o braço e os dois saíram da sala caminhando para o hall da casa onde encontraram Michael e John brincando de descerem os corrimões da escada. O Sr. Brown agarrou os dois pedindo graças e mais anos de vida para aguentar aqueles pestinhas.

_Onde está Richard...-Comentou Evelyn vendo a figura do irmão aparecer a sua frente.

_ Estou aqui. -Richard pegou o outro braço da irmã e seguiram para carruagem.

Richard era igual e diferente a Merle. Ele possuía os mesmos olhos e cabelos, só que os cabelos de Richard eram curtos e ele sempre mantinha uma expressão séria em seu rosto enquanto Merle estava sempre sorrindo, com os olhos e lábios. Sorrindo até demais.

Olá meu nome é Júlia e estou compartilhando uma das coisas que mais gosto de fazer com vocês, que é escrever. Gostaria que me ajudassem comentando, dando estrelinhas e críticas que me ajudam a crescer.
Bjs a todos e espero de todo coração que apreciem essa obra!

Ela não é uma DamaOnde histórias criam vida. Descubra agora