Menina

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#.Nove anos atrás...#

Eu sempre odiei ir para a escola; adorava ler, estudar, mas detestava ter quer fazer amigos! Eu queria ficar em casa com a minha mãe, estudar em casa... mas a vida não é como a gente quer né??? Lá estava eu outra vez, aos 7 anos eu já tinha me mudado no mínimo 5 vezes e todas as vezes  eu tinha que reiniciar uma vida nova em um novo lugar. Além de humor, sorrisos desnecessários e paciência para explicar pra aquele monte de curiosos a minha complicada vida de cigana sem causa.

Aquela cidade era incrível, tão pequena que parecia um lugar encantado, todos se conheciam nas vizinhanças e andavam devagar. Na escola não era diferente, as crianças corriam e brincavam umas com as outras, xingavam e pegavam as coisas escondidas rindo do desespero do outro. Todos se conheciam... menos eu claro, não que eu seja a estranhona da escola, longe de mim! Esse papel era de outra pessoa, eu sempre fui simpática e sem me bajular... tenho um sorriso contagiante, não era difícil fazer amizade apesar da timidez eu me saia bem na questão de amigos, logo me enturmei.

Foi nessa escola que eu conheci ELA, eu já tinha conhecido "menina macho" minha prima era uma, mas essa era muito estranha. Parecia um homem de verdade, gritava dentro da sala e batia em todos os meninos, brigava com a professora e eu nunca a via um sorriso naquela carranca... não naquele ano. Tinha medo dela, a garota estava sempre de cara fechada e nunca tinha ninguém ao seu lado, em uma das aulas descobri que ela adorava o Michael Jackson.

|Nada contra mas nós tínhamos 7 e 8 anos!!!|

Eu disse que detestava e ela me deu uma má resposta, foi aí que eu decidi simplesmente a ignorar. E foi o que eu fiz... Cheguei em casa e contei pra minha mãe que conheci uma menina muito estranha, minha mãe riu do meu relato. Eu a observava todos os dias e ela não tinha amigos e sumia nos intervalos, a encontrei diversas vezes chorando em qualquer canto que fosse afastado e escondido de todos, queria abraça-la mas nunca que iria admitir sentir algo pela bruta-montes grossa, mesmo que o sentimento fosse de pena, menina esquisita. Eu ignorava sua existência assim como todos faziam, mal sabia que ela iria me encontrar de um jeito ou de outro...

#.Uma parte triste.#

Naquele mesmo ano eu me mudei pra outro bairro, morava agora apenas eu e minha família sem minha irmãs, fiz mais amigos e minha vida estava maravilhosa, tudo estava bem até que... minha mãe brigava comigo na cozinha num sábado após minhas irmãs e meu cunhado saírem restando apenas meus pais juntamente com minha prima e irmão, e claro eu. Ela gritava comigo dizendo que eu não deveria ter dito nada a Dinah, eu chorava a cada beliscão e cascudo que era desferido contra mim, minha cabeça já estava a doer não aguentava mais apanhar. Minha mãe sempre foi muito nervosa e perdia a razão quando começava a me bater, meu pai sentado na porta apenas dizendo calmamente:

-Para de bater nela mulher. Já te disse que não é assim que se bate! Se você quer bater porque não pega um cinto?

Apenas para ela gritar em seu estado alterado.

-A filha é minha, bato como e quando eu quiser!!! Melhor do que você que não educa e não ta nem aí!!! Você sabe o que ela fez?! Ela contou tudo o que eu disse para Dinah!

-Quem manda ser fofoqueira! Ela é criança e Dinah é amiga dela, claro que iria contar.

-Ela vai ter que aprender!!!

-Eu tô perdendo a cabeça, já chega!!!

-Vem me parar se for homem, seu bosta!!!

Sinu avança nele como uma leoa enquanto ele tentava para-la coisa que não acontecia, ficava chutando ele e o empurrando, e ele a avisando para parar, até que... ele se levante e a pega pelos cabelos, minha mãe é uma mulher pequena com apenas 1,52 de altura, uma mulher frágil. No entanto meu pai é um homem forte, alto e musculoso, seria uma luta desigual. Alejandro segurava ela pelo pescoço suspendendo-a prensando contra parede e... bateu, eram socos e mais socos desferidos em seu pequeno corpo, por fim ela conseguiu fugir dele mas e partiu em sua direção mais uma vez, eu parei em sua frente chorando e peguei em seu braço.

-Para pai, por favor! Olha o que você tá fazendo!

Ele me olhou nos olhos e por um instante pensei que ele fosse parar, foi então que percebi... ele não estava completamente fora de si estava fazendo porque queria, então retirou o cinto o dobrando e disse:

-Sai de perto, ou vai ser pior!

Eu saí na rua desesperada e graças aos céus minha irmã voltou, entramos todos em casa e minha mãe estava sentada na cama, olhou-me nos olhos para então dizer:

-Era isso que você queria? Esta satisfeita?

Me afastei para correr pra bem longe, o mais longe que conseguisse, mas Dinah agarrou-me e me abraçou eu não conseguia nem chorar, tudo o que eu queria era morrer, mas... vida que segue né?

Meu pai foi embora Louis não disse nada no dia, mas se sentou com ele e disse que a passagem já estava comprada e ele precisava ir, quer queira ou não. Fui pra escola na segunda apagando qualquer vestígio daquele momento da minha mente , foquei apenas no fato de que aquele ser iria embora e eu estaria livre.

Chegando em casa estavam todos em um abraço coletivo na sala de jantar  com exceção do meu cunhado que se manteve calado e totalmente ¨neutro¨, ele não é um homem de muitas atitudes, mas quando toma uma não volta atrás.  Percebi que o abraço coletivo era pra Alejandro, que chorava com a maior falsidade. Todos me olharam e abriram pra mim um espaço no abraço, caminhei ate o corredor passando direto pela palhaçada que acontecia ali e quando passei minha mãe ainda teve a audácia de se pronuncia.

-Não vai pedir pra ele ficar filha?

Meu querido pai saiu dos braços de todos e abriu os braços para que fosse abraça-lo.

|Não poderia acreditar!!! Eles queriam mesmo que eu pedisse pra aquele filho de uma puta ficar?? Sinu não tem vergonha na cara não??|

Ele chorava e entre um soluço e outro me pediu.

-Me perdoa filha, papai nunca mais vai fazer isso.

Eu que ainda estava de costas, girei em meus calcanhares olhando nos olhos dele e com o maior desprezo do mundo falei baixo:

- Eu NUNCA vou te perdoar. Eu quero que você morra. E vocês, não veem a falsidade dele? Isso é tudo fingimento, a única coisa que quero de você é o chuveiro trocado antes de ir, não quero tomar banho frio. Tchau.

Depois de um tempo saí do quarto para ir ao banheiro e lá estava ele trocando o chuveiro.

-Você se lembra do que me prometeu quando eu tinha 2 anos?

-Não

-Você olhou no meu olho e disse que NUNCA mais iria bater na minha mãe, achou mesmo que eu tinha esquecido?

[...]

-Pois é, eu não esqueci. E eu te avisei que não iria mais te perdoar. Você não cumpriu, agora vai sofrer as consequências. Boa viagem.

Ele viajou, naquele meio tempo eu soube que ele estuprava Sinu e mantive minha palavra, não ligava, não me importava, não queria notícias. Meu coração congelou, nós fomos felizes por muito tempo mas não demorou muito pro meu irmãozinho pedir por sua volta, ele sentia falta daquele merda. Nós voltamos e eu entrei em depressão, não aceitava ver minha mãe se deitando com alguém que tinha batido e estuprado ela. Ele era um monstro e eu só queria morrer logo pra não ver aquilo, não aguentava mais ter desgosto. Mas o que fazer quando se é uma dócil menina procurando paz?

ConfusaOnde histórias criam vida. Descubra agora