Prólogo

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James achava que nunca se sentira assim antes. Não porque talvez nunca tenha passado por isso, mas sim porque se houvesse em sua memória qualquer relance de um momento parecido, ele há muito já se fora. Sua pouca idade e interesses limitados não o permitiam guardar muita coisa.

"Papai", ele queria perguntar, "alguém já morreu antes?", mas haviam dito, mais cedo naquele mesmo dia, que não deveria falar demais, que não deveria rir, correr, ou brincar. Haviam explicado que aquele era um momento delicado para a família e que não seria correto tagarelar. Diante daquilo, James entendia que morrer era algo bastante sério, o que fazia com que fosse ainda mais urgente se lembrar do sentimento; não parecia nada certo esquecer a morte de alguém.

Ele estava sentado em uma cadeira alta demais, os pés balançando na beirada, moles, um deles começando a ficar dormente. Vovó estava parada do outro lado da sala, uma xícara nas mãos, o rosto sério, olhando para os próprios sapatos. Ela não estava falando nada, com ninguém; James entendia que ela estava seguindo bem as regras, melhor do que a maioria das outras pessoas.

"O Vovô faleceu", Mamãe havia dito, na noite anterior, com os olhos úmidos. James e ela estavam sentados naquela mesinha de madeira escura, perto da janela, a qual chamavam de Mesa das Notícias, porque era onde Mamãe colocava a correspondência e chamava para conversar sobre assuntos importantes. James ligara para Damien depois disso, pois não tinha certeza do que "falecer" significava, mas sabia usar o telefone. Depois chorara um pouquinho, porque achara adequado, porque sabia ser isso o que as pessoas faziam quando alguém morria. Achava que tinha visto na TV.

Papai não parecia triste, apenas um pouco mais irritadiço do que o normal. Não parava de repetir que deveriam processar a prefeitura, afinal a morte tão imprevisível de um senhor de setenta anos só poderia ser por causa dos pesticidas.

"Essa droga que somos obrigados a respirar!", resmungava. "Não me olhe assim, Heloísa", acrescentava, mal humorado, "seu pai trabalhou nas plantações por anos mexendo com esse veneno, você mais do que ninguém sabe disso".

Era uma teoria plausível, mas James não achava que aquela era uma boa hora para aquele tipo de comentário.

Talvez ele devesse ter chorado mais, como Mamãe e Tia Jodi estavam fazendo desde ontem, mas chorar dava dor de cabeça, e ele acreditava que Vovô não se zangaria.

James pensava que nunca se sentira assim. E, bom, ele realmente não tinha visto alguém morrer antes, então entendia que tudo bem.



Considerado por muitos como um local de difícil acesso, a cidade de Santa Antonieta parecia o encontro de todas as estradas de terra do estado. Foi fundada sob um céu nublado, numa quarta feira, em 1837, há pouco mais de cento e quarenta e sete anos. Seus primeiros habitantes, famílias esperançosas, buscando uma vida nova, prontas para investir todo o seu dinheiro num pedaço de terra, espalharam o boato de que seria uma cidade vigorosa.

E talvez o fosse de fato. O perímetro de Santa Antonieta era montanhoso, com subidas tão íngremes, que de nada valiam as descidas, mas o clima era ameno, a terra era saudável e as casas se ergueram charmosas e coloridas e toda a sua população vivia naquela área, pois sua escassa parte plana tinha sido guardada para o plantio. Não se podia ser preguiçoso para viver lá; os empregos disponíveis eram de trabalho braçal duro e sem muitas regalias.

Durante muitos anos, Santa Antonieta foi um destino famoso, principalmente no outono. Tornou-se conhecida pela grande quantidade de árvores frutíferas, que davam os maiores frutos de que já havia se ouvido falar, e deles eram feitos as melhores geleias, doces e licores. Foram abertas inúmeras hospedarias para abrigar a grande quantidade de turistas que chegavam, e esse também se tornou um ramo lucrativo. A produção era farta e quase sempre cobria a demanda, mas a necessidade de novos trabalhadores fez com que as contratações fossem frequentes, e a cidade cresceu ainda mais com a chegada de pessoas em busca de oportunidades.

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