Nascimento de Liana

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Era madrugada em um verão quente no sul do Brasil, o calor era típico para um dia no mês de janeiro. Martina, com 19 anos sentiu as contrações, eu ia nascer.
Apesar da dor, ela imaginou que talvez fossem dores normais, não que eu iria nascer aquela noite. Depois de um tempo ela chama Suzanna, minha avó para pedir ajuda, é ai que tudo começa.

Depois de algumas horas eu nasci, aconteceram problemas no parto, mas consegui sair viva. Em dois dias fui para casa, do lado de meus avós, que eram imigrantes de outro país e vieram para o Brasil em busca de uma qualidade melhor de vida.
Pouco tempo depois minha mãe foi embora, então ficamos apenas nós três no mundo inteiro. Éramos a Suzanna, Giuliano e Liana, ou botãozinho como eles preferiam me chamar.

Ambos sentiram que a vida dentro de si havia florescido por ter um bebê em casa, alguém que eles pudessem fazer ser diferente do que a própria filha. Mesmo os primeiros meses sendo difíceis para cuidar de uma recém-nascida que precisava do leite materno, eles fizeram de tudo para que eu fosse um bebê lindo, saudável e muito amado por cada segundo da vida deles.

Eu fui crescendo, e ficando doente também, com nove meses contraí pneumonia, o que foi devastador para eles. Minha vó conta que em nenhum momento saiu do meu lado no hospital, e agora eu estou aqui nessa psiquiatria, sem ela.

Eu melhorei é claro, mas os problemas ainda não haviam nem começado para nós, os Rossetti.

Fui crescendo aos poucos, ao lado dos meus avós sempre, eles sempre foram tudo na minha vida, as pessoas que eu mais amo nesse mundo inteiro. Espero que quando eu sair daqui, possa dar o amor que ambos merecem e deviam receber.

Fui uma criança muito introvertida sempre, nunca fui de muita conversa e sempre gostava de ficar sozinha. Não dormia a noite pelo medo que a escuridão me causava, pobre Liana, mal sabia que quando mais velha se tornaria parte dela.

Com três anos Martina decidiu me buscar, ela já tinha outra filha e agora um marido, o que olhando agora você acha estranho uma jovem de 22 anos casada e com dois filhos. O marido dela me adotou como filha mais velha, que por mais rara das ocasiões que algo assim aconteça, ele foi um padrasto incrível durante o tempo em que morei com ele e minha mãe.

Nós não éramos ricos, nem classe média, mas tínhamos uma condição financeira em que não passávamos dificuldades. Só que tudo de bom na minha vida tinha hora pra acabar, sempre acabava, não importava o quanto tinha pra dar certo.

Em dois anos morando com meus pais, ambos tiveram uma discussão e decidiram que a melhor opção seria o divórcio. Então voltei para casa dos meus avós, eles me acolheram com todo o amor de sempre, e Martina foi embora junto com meu irmão caçula Caio e a primeira filha dela com meu pai adotivo, Angelina.

Depois da separação não vi meu pai adotivo por um bom tempo, talvez anos, não sei dizer ao certo porque era apenas uma criança. Como poderia lembrar?
Mas logo depois veio a escola, o que seria muito pior do que a separação dos meus pais, porque junto com a escola, o bullying veio de brinde com ela.

Geralmente as crianças que sofrem bullying nos primeiros anos de escola são consideradas antissociais e esquisitas não só pelos alunos, mas pelos pais de alguns deles também. O que dificulta ainda mais quando se tenta fazer amigos. Quando as crianças descobriram que eu morava com os meus avós e não tinha pais, piadas maldosas até demais para crianças de cinco anos surgiram.

Ouvi coisas horríveis durante aquele primeiro ano, piadas maldosas, as vezes até empurrões ganhava de um grupo de meninas e meninos. Porém aquele ano passou rápido, a pré escola acabou e minha vó me trocou de turno, para não precisar mais conviver com aqueles colegas.

E realmente a ideia ajudou muito, comecei a me sentir melhor para ir à escola e também a me concentrar nas aulas sem ter crises de choro. Já fui para o primeiro ano sabendo ler, meus avós prezam muito pelos estudos e por uma formação, o que sempre foi motivo para eu me dedicar e ir bem nos estudos, sempre quis que eles sentissem orgulho da neta.

A professora me adorava, passava trabalhos extras que minha vó ajudava a fazer quando tinha alguma dificuldade. Meu avô passava boa parte do dia no trabalho, para poder dar digamos uma "condição" melhor para eles me criarem, então nós nos víamos apenas a noite quando ele chegava do trabalho.

Mesmo cansado ele fazia questão de ler até eu dormir, e depois me colocar na cama. Meus avós sempre foram pessoas que tem um instinto de proteção excessivo algumas vezes, mas fofo.

Tem pessoas que odeiam, mas não consigo não gostar, sempre foi o meu porto seguro saber que quando o mundo estivesse caindo, os dois estariam lá para me dar apoio. Em situações boas ou ruins, ele sempre vão estar aqui mesmo que eu seja a errada. O amor deles me tornou mais forte, foi a motivação que me fez melhorar para conseguir melhorar nem que seja aos poucos.

Ela Salva a Si PrópriaOnde histórias criam vida. Descubra agora