Parte A

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    Meia-noite. Me lembro perfeitamente de vê-la. Minha mãmã. Sem vida, dentro daquele porta-malas. Eu gritava, chamava seu nome, a ficha não queria cair. E quando ela caiu, eu morri junto com ela.

    Minha vida não tem graça, e meu mundo não tem cor, depois que ela se Foi. Nem ir no cemitério eu posso, infelizmente. Eu só queria que não tivesse sido assim pelo menos.
    Me lembro que quando a vi, parecia que ninguém havia nem tocado nela, não havia marcas, nem nenhum outro indício de como ela foi morta.

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   Corri. Chorei, perdi a única mulher da minha vida. Não tenho mais nada.
    Sentei em um banco, numa praça e já era tarde da noite. Vi uma distribuidora aberta, e fui comprar um litro de Whisky. Sentei no banco e comecei a beber. Quando um cara com um gorro vermelho na cabeça,se aproximou, e começou a falar comigo:

    ---- Oi, qual seu nome? -ele perguntou se sentando do meu lado.
    ---- Harryson Phark's, mas pode me chamar de Harry.
    ---- Cara, eu jurava que seu nome era Ítalo.
    ---- Ítalo?
    ---- É. Sabe você se parece com Ítalo. Bem que seu nome poderia ser.
    ---- Quer? -Falei dando a garrafa para ele.
    ---- Obrigada, mas eu não bebo.
    ---- O que aconteceu com você Ítalo? -ele disse com uma expressão preocupada.
    ---- Meu nome não é Ítalo. -Ele deu de ombros.
    ---- O que aconteceu? Sua cara não me agrada.
    ---- A sua também não me agrada, mas... Você quer mesmo saber?
    ---- Sim, mas eu acho que aqui não seja o lugar ideal. Vamos Ítalo? -Disse indo em direção à uma árvore na nossa frente.
   
   Chegamos no lugar onde ele queria, não muito longe da Praça, sentei em baixo da árvore, peguei seu gorro e coloquei na minha cabeça. Logo comecei a contar chorando, ele me olhava com um ar compreensivo e isso me tranquilizava. Ele me ouvia atentamente, sem desviar o olhar e quando terminei ele disse a frase que logo depois se transformou no meu mantra:

    ---- Está tudo bem, está tudo muito bem Harry...

   Ele disse com uma calma, e me trouxe uma paz... Gostei daquele cara. Ele era estranho, mas gostei dele. Após nossa longa conversa sobre como as borboletas se transformam, á propósito, ele explicou tudo extremamente bem. Foi aí que me dei conta que ele não tinha se apresentado e eu não perguntei o seu nome.

    ---- Qual seu nome mesmo? - cruzei os braços.
    ---- Meu nome? Eu tenho vários nomes. Só não me chame de Ítalo.
    ---- Cara, você é muito cismado com o nome Ítalo. -falei dando de ombros.
    ---- É talvez eu seja mesmo, mas você se parece com Ítalo. Já deu a minha hora, mas foi muito bom te conhecer. -Ele disse olhando pro relógio.
    ---- Foi muito bom te conhecer também... Carinha do gorro vermelho.
    ---- Tchau Ítalo. -Ele me abraçou, tirou seu gorro da minha cabeça e foi embora correndo.

    Me sinto um lixo por não ter dado conta de cuidar nem da pessoa que eu mais amava no mundo. Droga! Lá vou eu de novo.
    Vou cantar, talvez isso espante um pouco dessa tristeza...

A vida é feita de atitudes nem
Sempre descentes,

Não lhe julgo pela razão
Mas pelos seus antecedentes.
É quando eu volto a lembrar do que eu pensava nem ter feito,

Vem e me traz aquela paz...
Você procura perfeição
Eu tenho andado sobre efeito,
Mas posso te dizer
Que já não aguento mais.

Desencana não vou mudar
Por sua causa não tem jeito,
Mas quem é decide
o que é melhor pra minha
Vida agora?...

Ouvi dizer que só era triste quem queria...
Eu ouvi dizer que só era
Triste quem queria...

Lidei com coisas que eu
Já mais entenderei,
Há, se eu pudesse
Estar em paz, e me livrar
Do pesadelo de vê-lo nesse
Estado e não poder ajudá-lo
Não...

Mas triste é não poder mudar, porque estás tão
Revoltado irmão?...

Ouvi dizer que só era triste
Quem queria..
Eu ouvi dizer que só era triste
Quem queria...

Ouvi dizer que só era triste quem queria,
Eu ouvi dizer que só era
Triste quem queria...

A vida é feita de atitudes nem sempre descentes,
Não lhe julgo pela razão
Mas pelos seus antecedentes.

Cuidado com seus passos.

  Charlie Brown Jr.

  
    Após cantar me acalmei mais. Olhei para frente e vi que a vizinha nova estava me olhando pela janela comecei a encara-la. Uma moça tão linda assim, não pode simplesmente passar despercebida. Ela me encarou de volta, e senti meu coração bater forte. Por um minuto esqueci daquela dor que eu sentia.
    Isso tudo está muito gay mas é a verdade. É como se olhar para ela fosse calmante. O que eu estou fazendo? Não posso pensar em nada disso, afinal já já ela vai saber quem sou eu: o louco descontrolado.
    Virei meu rosto para o outro lado e ela foi embora.
   

Meses depois:
    Pois bem, já se completaram três anos, e nada muda. Enquanto eu não der o que eles querem, eu não saio desse pesadelo... Mas eu prometi para minha mãe que nunca contaria nada á eles.

   
    A tristeza cada dia fica pior, a dor aumenta, as lágrimas escorrem cada vez mais. Me sinto sufocado, desnorteado, sem rumo, sem vida, sem porra nenhuma!
    Em plena 2 horas da
madrugada e eu aqui, faz dias que não durmo direito e  essa dor só piora.
    Vou sair um pouco, sentar em um banco aqui perto, pra pensar e chorar. Nessa distância, minha tornozeleira eletrônica não vai alertar ninguém. Eu só preciso sair dessa casa um pouco, esse lugar me sufoca.
    Pulei a janela e fui pro Banco. Pensava em quando isso tudo ia acabar, se eu iria me matar, o que eu ia fazer. Pensava, chorava, Pensava, e chorava. Porque tem que ser assim? Merda de vida.
    Começou a chover. Pensei em voltar pra "casa", mas pensei: foda-se, já estou molhado mesmo. E daí se eu pegar um resfriado? Penamunia? E daí se eu morrer? FODA-SE.

Eu só quero uma lâmina pra
Cortar,
Uma arma para atirar,
Ou alguém pra conversar.
A sacada é muito alta, e eu não quero me jogar,
A sacada é muito alta, por favor alguém me ajuda, eu não quero me jogar ah, ah...

    Estava cantando baixinho pra mim mesmo, quando...

    ---- Olá, você precisa de ajuda? -disse colocando à não no meu ombro.
    ---- Acho que você não pode me ajudar.- Eu disse abaixando a cabeça.
    ---- Talvez eu possa. Venha comigo...

   Eu a segui, não entendi porque essa pessoa estava fazendo isso, mas eu fui atrás.
   
   

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