Era uma manhã de outono como as outras. Ou não, pois nunca sabemos o que realmente pode acontecer num pequeno espaço de tempo. O cheiro a abóbora e a lenha queimada pairava no meu quarto. Estas velas permitem nos sentir os cheiros da época no nosso cubículo. Mas, não há nada como sair à rua e sentir o ar frio a bater-me na cara e a deixar as bochechas e o nariz rosado. Adoro o outono. As suas cores são reconfortantes e aconchegantes. Não faz frio, mas também não faz calor.
São 07:10 e tenho de me levantar para outro dia monótono na minha vida. Trabalho, casa. É a vida normal de uma adulta de 22 anos. Setembro, o mês do início escolar. Após os meus 3 anos de licenciatura em psicologia, estou agora no segundo ano do meu mestrado em psicologia clínica. Os meus pais ajudam-me financeiramente. Sempre fizeram de tudo para nos ajudar e nos dar o melhor futuro possível, sempre dentro do nosso orçamento. Mas, como já tenho 22 e não tenho escola a tempo inteiro trabalho num café, o Amelia's, para ajudar, e aos fins-de-semana, ou faço horas extras no mesmo, ou vou ler num lar de idosos. Assim, além de me tornar mais independente, consigo pagar a renda do meu pequeno T1 e ainda ajudar com os gastos escolares. Apesar de ser um café ainda ganho um bom dinheiro e, sempre foi poupada, tive bolsa de estudo no secundário e na universidade, e fazia uns part-time durante as minhas férias do mesmo. Então tenho uma quantia generosa guardada.
Faço a minha rotina higiénica e visto umas simples calças de ganga com uma t-shirt de malha vermelha. Apostar em roupa com mais cor tem sido um desafio, mas até gosto. Adoro desafios e sair da minha pequena zona. Alem disso, é uma das cores da estação. Acabo por vestir um casaco de ganga peludo e preto. Arranjo o cabelo, encaracolado e pela altura do peito. Sem dúvida que este é a minha marca. Amo o meu cabelo e é como se fosse a minha identidade. Na realidade, é. Todos temos algo que, se não estiver bem, também na estamos. Ou pelo menos pensamos assim.
Nós, humanos, pensamos em tanta coisa desnecessária e fazemo-la necessária aos nossos olhos. Às vezes pergunto-me se realmente merecemos esta esfera viva, com detalhes maravilhosos e preciosos. Deram-nos a, mas não deveriam. Somos auto destruidores, cegos e egoístas. Não somos capazes de ver que, por exemplo, estamos a estudar para nos substituir. Até um simples camaleão via que isto é só ridículo. Mas, pronto, basta ser a raça humana. Incomodo-me demais com estas coisas pois somos uns grandessíssimos sedentários e insatisfeitos.
São 08:05h, caminho uns 2 minutos até a paragem de autocarro. O meu destino não é muito longe, então, às vezes, gosto de ir de transporte público. Hoje está mais frio, então aperto o casaco contra mim. O autocarro para e deixo-me ser a última. Desejo um bom dia ao motorista com um sorriso matinal e digiro-me ao meu lugar do costume. Adoro andar de autocarro, pois é quando penso em coisas que, por vezes, numa me lembraria de pensar. Acho que isto acontece agora pois estou mais madura e crescida, digamos. Como uma fruta invernal que começa a amadurecer agora para, no inverno, ser comestível. O ruido de fundo dos adolescentes deste espaço não me incomoda de todo, só quando exagera. Mas é bom. Outrora já fui uma dessas pessoas mas, o tempo muda e as pessoas também. Seguimos caminhos diferentes e fazemos ou desfazemos amigos a toda a hora. É um ciclo, dos muitos, da vida. E isso permite a experiência de novas realidades. As vezes sinto me um Fernando Pessoa contemporâneo. Sinto-me fora desta sociedade. Mas todos o sentimos, só que de pontos de vista diferentes. Desde o seu tempo que as coisas não mudam. Lá esta, outro ciclo, que por mais que pareça melhor ou melhorado, é o mesmo mas vestido de outra forma.
O meu caminho é todo feito a pensar em assuntos aleatórios, mas pertinentes. Chego ao centro da cidade e vou direta ao Two. Quando entro no meu café habitual vejo lá os meus amigos: o Chris, a Samantha, a Tris, o Tom e o Nate.
- Bom dia, Emily! – Exclama a Sam, acolhendo-me com o seu enorme sorriso, nos seus lábios volumosos e os seus olhos castanho mel. É uma rapariga espetacular, doce e muito genuína.
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Don't Go
RomansaUma vida normal como a de toda gente. Emily é uma rapariga normal de 22 anos que está a acabar o seu mestrado, em psicologia clínica, e trabalha num café acolhedor. Adora conversar com os clientes do mesmo e todos a adoram. Até que um rapaz, novo na...