Da janela de um ônibus observo o movimento das ruas. Vejo milhares de pessoas que nunca vão se encontrar e outras que, de maneira inacreditável, cruzarão seus caminhos. Cada um de nós tem sua história, seu passado, aquilo que nos torna o que somos. Costumam dizer que a partir da adolescência começamos a descobrir o mundo, nos apaixonamos, choramos por amor, construímos amizades para toda a vida e fazemos escolhas que provavelmente não farão sentido no futuro. Bom, tenho que concordar. Enquanto cruzo ruas e mais ruas, caio nos meus pensamentos e viajo até o meu passado.
***
O primeiro dia de aula no ensino médio tinha chegado e eu estava completamente nervosa. Minha mãe tentava me acalmar, dizendo que era normal e que a Luana, minha melhor amiga, estaria lá. Este ano as aulas começariam em uma terça-feira e eu não conhecia praticamente nenhum dos professores. Quando minha mãe finalmente saiu do quarto, dei uma olhada na bagunça que eu tinha feito.
Meu quarto não era enorme, mas exatamente do jeito que eu queria. Em uma das paredes ficava a minha cama de solteiro (que nesse momento parecia mais um guarda-roupas de tantas peças que estavam jogadas nela), na parede onde a cama estava encostada ficavam várias fotografias de momentos importantes da minha vida, algumas eu mesma tinha tirado. Fotografar fazia parte das minhas paixões. Do lado da minha cama ficava uma pequena mesinha, que imitava um modelo retrô, em cima dela eu costumava deixar um livro (nesse momento era possível enxergar um exemplar de Minha Vida Fora de Série). Logo em seguida, ficava minha estante de livros que eu vinha preenchendo aos poucos. No lado aposto do quarto, enfrente a estante, estava localizada a minha mesa de estudos, na parede tinha um papel parede de mapa-múndi. Um dia eu queria visitar cada cantinho dele. Já o meu guarda-roupas de verdade ficava na parede oposta a cama. E perto dele estava meu espelho.
Fui até ele checar, mais uma vez,se estava tudo certo. Eu não me encaixava exatamente nos padrões de beleza. Não era magrela, meu cabelo castanho escuro era cacheado e ia até a cintura e meus olhos também eram castanhos, mas claros. Eu finamente estava completamente satisfeita com minha aparência, apesar de durante muitos anos ter lutado a todo custo para mudá-la. Meu celular tocou e vi no visor que era a Luana.
-Nervosa? –perguntou assim que atendi.
-Muito. –não adiantaria dizer o contrário
-Larissa, eu já disse, nós não vamos mudar de escola, só de andar. - Além do mais, a Vivian e o Heitor estarão lá. Vai ser como no ensino fundamental, exceto pelos professores. –falou tentando me acalmar
-Você tem razão, é só besteira minha. – Concordei enquanto arrumava alguns fios de cabelo que estavam fora do lugar.
-Vou terminar de me arrumar. Por favor, não se atrasa, quero sentar perto de você. –antes que eu respondesse, ela desligou.
Sem dúvidas, escutar a voz dela tinha me acalmado um pouco. E saber que os nossos outros amigos também estariam lá, ajudava. Luana e eu éramos amigas desde o 6 ano e nunca mais tínhamos nos separado. Ela era incrivelmente linda. Tinha cabelos castanho claro, bem liso e de comprimento um pouco menor que o meu, os nossos olhos eram quase da mesma cor. Eu costumo dizer que a gente se completa, e é verdade, ela consegue me acalmar como ninguém. Já o Heitor é o melhor amigo homem que eu poderia ter. Seus olhos são bem escuros, com uma intensidade tão forte que posso sentir que ele descobre qualquer coisa só de olhar para mim. Também é um pouco mais alto que eu, tenho 1.65, e o cabelo vive meio bagunçado, mas acho que é o charme dele. A Vivian é a mais diferente, ela tem cabelos louros, não cor de ouro, um pouco mais escuros. É a mais baixinha, apesar de insistir que não, e os olhos são cor de mel. Assim era o nosso quarteto, o melhor que eu poderia ter.
***
Quando cheguei ao colégio, Luana já estava me esperando no portão. Dei um abraço nela e fomos procurar nossa sala. Não foi difícil de achar, Ricardo e Vivian já nos esperavam na porta.
-Larissa eu li um livro incrível nas férias, você precisa ler. –falou o Ricardo assim que me viu.
-Já vi que vai ser um grande ano sobre livros. –Vivian revirou os olhos, tentando parecer o mais entediada possível.
Eu e Heitor tínhamos muito em comum. Adorávamos ler e assistir séries, e esses eram assuntos constantemente entre a gente. A Vivian sempre se irritava, as vezes eu achava que ela gostava mesmo era de implicar com o Heitor, mas se pelo menos tentasse tocar nesse assunto, eles me esganavam. Heitor ignorou o comentário e continuou falando.
-Então, como foram as férias de vocês?
-Incríveis. – Luana respondeu com um grande sorriso.
Eu e ela passamos os últimos quinze dias de férias em uma casa de praia, com a família dela. Inclusive estávamos um pouco bronzeadas, uma das coisas que eu mais amava em ter praias tão lindas bem pertinho de Fortaleza. Heitor cutucou meu braço para ver se doía, mas afastei a mão dele.
-Vocês já sabem onde vão sentar? –perguntei
-Sim e já guardamos os lugares de vocês duas. – Vivian já estava nos levando em direção a quarta fila.
-Ótimo, nem na frente nem atrás. – Luana falou.
Sei que ela ia se aproveitar da localização estratégica para conversar e mandar papeizinhos, mas esse ano eu estava decidida em focar nos estudos. Afinal, tinha que aproveitar cada oportunidade se quisesse estudar em uma boa faculdade daqui a 3 anos.
O sinal tocou, olhei no horário e vi que a primeira aula era de química com o professor Lúcio. Apesar de não conhecer o professor e sabia muito bem que não gostava de química. Eu até achava a disciplina interessante, mas tinha muita dificuldade de entendê-la. O mesmo acontecia com física, matemática e biologia. Gostava mesmo era de estudar história, podia passar horas e horas folheando o livro.
-O ensino médio é um saco. –sussurrou Heitor quando o professor começou a escrever sobre leis ponderais no quadro.
-Não faz nem dez minutos que a aula começou. –rebati e ele deu de ombros. Eu sorri, seria fácil passar por tudo com eles ao meu lado.
O sinal da primeira aula tocou e alguns alunos atrasados começaram a entrar. Foi aí que avistei um dos meninos mais bonitos que já tinha visto no colégio. Poderia jurar que ele tinha saído de um dos meus livros. Seu cabelo era castanho, cortado rente ao pescoço e um pouco mais cheio no topo, e os olhos eram verdes cor esmeralda. Mas o que realmente me chamou a atenção foi o sorriso. E que sorriso. Apesar dele parecer um pouco envergonhado, não deixei de notar.
-Alerta gato. –cantarolou Vivian assim que o viu.
Eu ri imediatamente, atraindo alguns olhares de quem estava perto. Quando percebi, o menino havia sentando na minha frente. Foi aí que tudo mudou.
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Quando o Cupido Erra
RomanceAté que ponto nossas escolhas podem congelar nosso presente ? Larissa nunca achou que seria do tipo de menina que ficaria perdidamente apaixonada e perderia o chão quando as coisas não terminassem com o felizes para sempre. Cinco anos depois de ter...