Capítulo 2

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A primeira semana de aula serviu apenas para conhecermos os professores e perceber que o ensino médio não seria fácil. Na segunda feira, eu estava sentada conversando com as meninas na cantina, esperando as aulas começarem.

-Preciso de férias. –disse Vivian com cara de choro

-Só está com uma semana de aula. lembrou Luana e ela deu de ombros, voltando a brincar com a garrafa de água que tinha em mãos.

Heitor chegou com o novato (sim, aquele da aula de química). Ele tinha uma facilidade de fazer amizade e pelo visto já estava bem enturmado com o menino.

-Eduardo essas são minhas amigas. Vivian, Luana e Larissa. –falou apontando para cada uma de nós, que acenamos. Assim que eles sentaram Luana começou a fazer perguntas para Eduardo. Típico dela.

-Então você já morava em Fortaleza ou chegou esse ano?

-Cheguei esse ano, eu sou de São Paulo. Meu pai trabalha em uma empresa e foi transferido. – me impressionei por ele responder tão detalhadamente, e continuei prestando atenção – Sou atrasado um ano, então, provavelmente sou um pouco mais velho que vocês.

Me surpreendi com essa revelação. Então ele ia fazer ou já tinha 16 anos. Por que será que era atrasado? Apesar da curiosidade, não tinha intimidade para perguntar aquilo e a Luana, infelizmente, deixou passar

-Tem namorada? –eu chutei Luana por baixo da mesa, sem acreditar no que estava ouvindo. Ele deu um sorriso e respondeu:

-Não.

Vivian ergueu de leve a sobrancelhas e precisei conter uma risada. Enquanto conversávamos, Marina e Beatriz, duas quase amigas nossas, se aproximaram. Marina era o tipo de menina que adorava receber atenção dos meninos e sempre fazia questão de dizer que eles eram loucos por ela. Eu e a Beatriz estudamos juntas durante muitos anos, mas quando conhecemos a Marina ela se distanciou um pouco.

-Bom dia. –falou Marina enquanto sentava. –Não vão me apresentar o garoto novo? – e lançou aquele seu velho sorriso, parecia uma onça pronta para o bote.

Eu e as meninas reviramos os olhos, discretamente. E precisei me segurar para não respirar fundo.

-Marina, este é o Eduardo, nosso novo colega de classe. –Respondi e vi que o Eduardo deu um sorriso para mim. Ok, ele tinha que parar de ser tão simpático.

-Oi, eu sou a Marina. –estendeu a mão instantaneamente. –E essa é minha amiga Beatriz. – Bea, como costumávamos chamar, era muito tímida, então apenas acenou para ele.

-Como vão as coisas com o Gustavo? –perguntei para a Marina

-Bem. Ele ainda não voltou de viagem, vai perder alguns dias de aula.

Gustavo era o namorado dela, ele fazia o segundo ano e até que nos dávamos bem, mas tinha minhas dúvidas se ela realmente gostava dele.

-Eu não vi vocês na aula. –disse Luana, mudando um pouco de assunto.

-Nós havíamos ficado no 1B, mas nossas mães convenceram o diretor a nos colocar no 1A para que todos estudassem juntos. –explicou Beatriz. –Então vamos começar com vocês hoje.

-Que legal, bom saber que continuaremos colegas. –falei, ela apenas sorriu. Realmente tínhamos nos distanciado. Mas talvez esse ano as coisas mudassem.

-Onde fica a biblioteca? –perguntou Eduardo, mudando o assunto repentinamente.

-No andar de cima. Eu até te levaria lá, mas tenho que ir à coordenação. –respondeu Heitor. –Larissa será que você pode ir lá com ele? Você conhece o lugar tão bem como eu.

Fiquei sem saber o que responder, mas a Luana me cutucou por baixo da mesa e acabei dizendo sim.

***

-Chegamos. –falei enquanto abria a porta. –Nós temos 10 minutos antes da aula começar.

-Tem certeza que você não quer voltar? – apontou em direção a porta - Acho que consigo encontrar a sala.

-Não, eu vou esperar. Também tenho que procurar um livro. – Falei rapidamente, antes que ele tirasse conclusões precipitadas.

O colégio tinha duas bibliotecas. Esta ficava no andar de cima, perto das salas do ensino médio, e era um pouco maior que a outra. Tinha longas estantes de madeira que ficavam do lado esquerdo da entrada e terminavam perto de uma janela que tinha vista para a quadra de esportes. Do lado direito ficava o balcão da bibliotecária e uma estante com alguns livros de coleções raras. Fui caminhando até o corredor onde ficavam livros de química, precisava complementar o pouco mais o conteúdo visto na sala. Quando faltava cinco minutos para o sinal tocar fui até o corredor onde Eduardo estava, para chamá-lo.

-Vamos?

-Claro só preciso guardar esse livro. –respondeu. Mas quando ele foi guardá-lo, esbarrou na estante e derrubou alguns livros, que estava um pouco soltos, no chão. Eu fui tentar ajudar.

-Não se preocupe. Eu e o Heitor sempre fazemos isso. –falei tentando contornar a situação e evitar que ele ficasse envergonhado.

-Vocês são namorados? – perguntou de repente e precisei de alguns segundos para dar a resposta.

-Claro que não, acredite, ele não me mandaria aqui com você se nós namorássemos. –eu e minha capacidade de falar demais. Torci mentalmente para ele não reparar no que eu tinha acabado de dizer.

-Por quê? –perguntou surpreso.

Nesse momento nós terminamos de guardar os livros e eu disse que deveríamos nos apressar para não perder a aula. Virei imediatamente e fui para a saída. Quando chegamos à sala, a porta já estava fechada e decidimos esperar a segunda aula.

-Então, você não respondeu minha pergunta. –disse assim que sentamos em um banco perto da sala.

-Que pergunta? – Fingi não entender sobre o que ele estava falando.

-Sobre o Heitor não mandar você comigo, caso vocês namorassem. – fez questão de falar, mesmo sabendo que eu sabia. E me encarou, como se me desafiasse a falar. Descobri que ser encarada por ele era pior do que ver seus sorrisos sendo distribuídos.

-Não é nada demais. –respondi tentando me desviar do assunto.

-Começar uma amizade com segredos não é nada bom. – rebateu dando uma piscadela.

Eu sorri para ele, tentando diminuir minha vergonha, mas tinha certeza que já devia estar da cor de um tomate. Brinquei um pouco com minha a unha, até consegui responder

-É porque você é um cara bonito, então ele não arriscaria. -eu, definitivamente, precisa aprender a ficar com a boca fechadinha.

-Bonito? –Perguntou erguendo uma das sobrancelhas e com um sorriso

Senti meu rosto ficar vermelho na mesma hora, mas tentei disfarçar.

-Você está gostando do colégio? –tentei desviar o assunto e recuperar a cor do meu rosto. Eu podia sentir ele queimando, literalmente.

-Sim, mais ainda das pessoas que têm nele. –respondeu sem olhar em minha direção

-O pessoal é super gente boa. As meninas são super engraçadas e o Heitor tem muita coisa em comum comigo. Não sou tão próxima de todos da sala, mas a maioria também é de boa.

-Você sabe que não é disso que eu estou falando. –disse me encarando, os olhos parecendo mais verdes ainda.

Mudei novamente de assunto, fingindo não saber sobre o que ele tinha falado, apesar da frase continuar rondando na minha cabeça. Conversamos por um tempo até que o sinal para a segunda aula tocou e fomos obrigados a entrar na sala.

Pude sentir o olhar de todos caírem sobre nós. Éramos os únicos que tinham atrasado e aparentemente você não pode ser amigo de um menino sem está interessada nele ou vice-versa. Fui o mais rápido para minha cadeira e me deixei envolver pelo que a professora falava, mas ainda não conseguia tirar a conversa com Eduardo da cabeça. Não era possível que em uma semana eu tivesse me interessado pelo cara novo. Encostei minha testa na palma da mão e respirei fundo. Tentando ignorar a Vivian e a Luana, que pareciam estar em um show de humor e rindo feito bobas. 

Quando o Cupido ErraOnde histórias criam vida. Descubra agora