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Matthew Stewart.
Sete anos antes.

Somos constituídos por células, aproximadamente dez trilhões delas. Então, quando você ouve alguém dizer coisa do tipo "cada célula do meu corpo a deseja", pode ter certeza que é desejo pra cacete.

E enquanto observava pelo microscópio os diferentes tipos de células naquela gota de sangue, meu pensamento estava fixo em Katherine Adams. Eu estava no automático, fazia algumas anotações no caderno e voltava a olhar pelo microscópio para conferir se estava tudo certo. A aula extremamente chata e repetitiva de biologia celular acontecia pelo menos uma vez por semana e eram as duas horas mais chatas até então.

Pela visão periférica pude notar que alguns dos meus colegas já estavam entregando os seus relatórios para o professor, outros se retiravam da sala conversando animadamente sobre os planos para o final de semana.

Eu ainda não tinha nenhum, mas esperava encontrar com Katherine novamente.

O ar-condicionado da sala marcava 17C°, o que era desnecessário já que lá fora não passava dos 20C°. Se não fosse pelo meu suéter azul e o jaleco branco por cima, provavelmente estaria com frio e um pouco mais irritado do que o normal. O verão estava chegando ao fim, algumas folhas já começavam a cair das árvores, deixando o chão cada vez mais cheio delas. Fechei o caderno e me afastei da mesa no momento em que o professor avisou que a aula havia terminado.

— Matthew, espere um minuto, quero falar com você.

Olhei para ele sem esconder meu mau humor. Soltei um suspiro pesado enquanto guardava as coisas na mochila, jogando-a sobre o ombro e caminhando até sua mesa.

— Sábado iremos receber uma turma de alunos que farão um tour pelo campus — ele me olhava sobre os óculos redondos enquanto falava, gesticulando com as mãos. — A garota que fica encarregada disso está doente e preciso que assuma o lugar dela.

Eu tinha planos para o final de semana e não envolvia ficar de babá de um monte de adolescentes loucos por uma festa em alguma fraternidade, mas aquilo não era uma pergunta e senti que não poderia recusar sem uma boa desculpa.

— Tenho uma prova na segunda, preciso estudar... — Harris levantou a mão, me interrompendo.

— Os alunos chegarão às nove horas, seja pontual — disse e voltou sua atenção para os papéis sobre a mesa. — Dispensado, Matthew.

Fiquei alguns segundos ainda encarando o homem que continuou em silêncio, focado nos seus próprios afazeres. Larguei meu relatório sobre a pilha de folhas em sua mesa e caminhei até a porta pisando duro, irritado por ter de perder meu final de semana com um bando de alunos do colegial ao invés de aproveitar como todos os outros alunos ou até de forma melhor, caso conseguisse convencer Katherine a sair. Não era má vontade, mas acontece que metade das pessoas que vinham ao campus no final de semana para conhecer, estavam mais interessadas nas festas das fraternidades do que em conhecer o local em si.

Deixei que meu pensamento voltasse aos olhos verdes e penetrantes de Katherine Adams e sorri com a lembrança.

Desde a festa na Kappa Tau Gamma, eu e Kate passamos a nos falar com certa frequência, almoçando juntos pelo menos duas vezes na semana, conversando diariamente pelo WhatsApp, nos marcando em memes no Instagram. Até jantamos uma vez.

Katherine Adams era diferente de todas as outras e não só por causa do seu olhar marcante, que parecia mostrar a sua alma. Kate sorria e o mundo parava para ver, mesmo que ela parecesse não notar isso. Ela era engraçada e ria das minhas piadas, por mais sem graça que fosse. Kate não buscava status e não queria ser notada. Tinha sonhos e corria atrás deles sem se preocupar com a opinião dos outros.

[DEGUSTAÇÃO] Nove Meses Para AmarOnde histórias criam vida. Descubra agora