8. Melhor com o passar do tempo...

143 29 0
                                    

 Chen se sentia um pouco culpado, sabia que tinha exagerado e estar sonolento não era desculpa para ter forçado a barra com Xiumin. Tinha sido bom, na verdade foi a melhor noite da sua vida, entretanto sabia que Min não estava preparado e temia vê-lo quando acordasse. E se ele o acusasse, com razão, de ter ultrapassado os limites? Ele pegou um dos filhotes no colo e foi para o jardim pensar em como encararia Min agora. Se sentia péssimo.

Não soube por quando tempo ficou ali, mas assim que viu Xiumin descer as escadas com nada além de uma calça de moletom ele perdeu a linha de pensamento. Droga! Aquele homem era lindo demais para caminhar entre os mortais, era muito injusto, como ele podia demonstrar a ele que estava se sentindo culpado quando ficava desfilando pela casa seminu? Sua libido não merecia aquele ataque frontal demolidor logo pela manhã.

— Droga metido, seu pai é injusto comigo.

Resmungou para o filhote enquanto observava como um cervo diante dos faróis, Xiumin vir até ele com um sorriso suave nos lábios.

— Bom dia amor!

Chen foi beijado e ficou atordoado pelo gesto. Min não era de demonstrar afeto.

— Bom dia...

— Venha, precisamos conversar. Hoje eu faço nosso café.

Chen deixou o filhote no chão e aceitou a mão do seu anjo para ser levado para dentro. Enquanto seguia um Xiumin sorridente, ele imaginava se por acaso não estava em um mundo paralelo.




Xiumin acordara muito disposto. E feliz. Droga, ainda não acreditava que tinha passado a noite fazendo amor com Jongdae, muito menos que em nenhuma vez teve delírios com seus pesadelos, ele sabia que era Dae, pode retribuir o que ele pedia e queria, pode se entregar sem medo de que perdesse a mente. Estava impressionado. Talvez a sua esquina tinha finalmente chegado e ele poderia seguir a diante. Sabia qual era o próximo passo e se sentia seguro, incrivelmente seguro de colocar todas as cartas na mesa para seu futuro marido, por que sim, não importava se só conhecia Dae há menos de um mês, ele pediria o outro em casamento, ele faria aquilo, não poderia perder Jongdae, ele tinha sido sua cura e seu destino, óbvio que não tinha certeza se nunca mais sofreria com seus monstros pessoais, mas sabia que Dae estaria com ele ao longo de todo o caminho.

Sorriu lento enquanto saia da cama e ia até a janela, Dae estava ali, no jardim, pensativo. Xiumin sabia que ele se sentia culpado, Chen não era um homem que romperia suas promessas. Min sabia que ele estava com medo, ou não sairia do seu lado da cama tão cedo. Eles não dormiram muito, Jongdae deveria estar cansado. Ele faria o que precisava fazer e arrastaria seu homem de volta para cama, aliás, era o queria nesse momento, tirar todo o tempo perdido nos braços daquele homem maravilhoso.

Ele desceu, buscou Jongdae, preparou o café e aguardou que outro se alimentasse o suficiente antes de começar o assunto que sabia ser indigesto, mas que precisava abordar com ele.

— Dae, está na hora de você saber o porquê de todos os meus traumas. Talvez acredito que sensível como é, já tenha uma ideia, mas eu quero contar tudo para você. Eu preciso que saiba para que possamos virar a página juntos.

— Min... Tem certeza?

Xiumin viu os olhos do outro tensos, preocupados. Ele assentiu, tinha como amar mais aquele ser humano? Ele não sabia, mas faria de todos os seus dias dignos de amá-lo o máximo que pudesse. Jongdae merecia só o melhor de si. E ele daria tudo a outro, tudo.

— Tenho certeza. Venha, vamos para a sala.

Xiumin levou seu futuro marido para o sofá aconchegante e esperou que ele ficasse cômodo antes de começar:

— Sou filho único. Minha mãe era uma herdeira muito rica, mas com pouco senso de ética, ou valores bons. Ela queria o melhor e encontrou no meu pai todos os seus desejos de grandeza, ele era bonito, inteligente, com uma família tradicional, ele era perfeito aos seus olhos e nunca mudou de opinião. Mas ele não era perfeito, ele estava bem longe disso. E eu levei dezenove anos para me dar conta, quer dizer, ele e minha mãe não ficavam muito em casa, não eram pais presentes, assim eu fui criado pelas babás, e não estava muito preocupado com isso, mas depois do meu aniversário de dezenove anos passei a observar que meu pai estava muito em casa e minha mãe passava a fazer viagens cada vez mais longas. Eu estudava o dia inteiro no melhor colégio de medicina e não tinha muito tempo para me dar conta que tinha algo de muito errado nisso. E eu não entendi. Até ser tarde demais.

— Em uma noite de sábado que voltei tarde de um encontro entre meus colegas de sala, meu pai estava em casa com quatro amigos. Todos na sala, seminus. Foi horrível. A cena impregnou-se na minha memória como se fosse cravada lá em chamas. Eu estava cansado, um pouco afetado pelo álcool, e lento demais para fugir. Foi uma longa noite infernal, fui violentado brutalmente pelos cinco e ninguém estava lá para me ajudar, ninguém. Na manhã seguinte eu estava tão enojado, horrorizado, assustado que parecia ter sido sugado para um poço escuro. Como eu denunciaria meu pai? Quem acreditaria em mim? Ele era o queridinho da sociedade, eu seria tachado como mentiroso. E eu me calei. A pior das minhas decisões.

— O grande problema das vítimas é que elas se sentem culpadas, e é por isso que a maioria tem dificuldades de lidar com a agressão, por que a pior agressão é a psicológica e não cicatriza como a dor física. Ela não passa.

— Eu deixei a faculdade por longos cinco meses, me tranquei em mim mesmo, tinha medo de sair na rua, tinha medo de ver pessoas. Você sabe como é, por que assistiu o mesmo com a sua irmã, são padrões mais ou menos comuns. Meu pai desapareceu naquele dia, mas eu tinha horror que ele voltasse, troquei todas as chaves, murei toda a casa, instalei sistemas de segurança, despedi todos os empregados. Me isolei. Então veio a depressão, a tentativa de suicídio, a fase do ódio absoluto. Dois meses depois da agressão, recebo a ligação que minha mãe tinha sofrido um acidente de carro com o amante e ambos estavam mortos. Eu era seu único herdeiro e por incrível que pareça ela tinha tirado o meu pai do testamento. Três meses depois disso ele volta para casa, faz um escândalo na rua até que eu deixei que ele entrasse, então eu tive o incide de que se eu não tomasse uma decisão iria enlouquecer como ele, meu pai ajoelhou pedindo perdão e então deu um tiro em sua própria cabeça. Você pensa em suicídio até assistir a um, a percepção muda totalmente. Abafei tudo da imprensa, cuidei de todos os tramites legais, saí daquilo tudo decidido a evitar que outros fosse ao fim da linha que eu quase cruzei. Voltei para a faculdade e recomecei. Construí a clínica, me capacitei de todas as formas possíveis em apoio às vítimas de abuso e comecei a clinicar logo que terminei a residência. Mas eu já era outra pessoa, cheia de problemas, traumas e assombrado pelos monstros daquela noite, me tornei super reservado e apenas Sehun, e posteriormente Luhan tinham minha amizade. Também existe um psiquiatra que passou a fazer parte do meu cotidiano também, seu nome é Lay e ele é uma boa pessoa, embora causador de intrigas.

— E bem. É isso basicamente. Nunca imaginei, sinceramente que eu fosse virar a esquina, superar um pouco disso, mas noite passada você me mostrou que eu poderia deixar para trás, se você estiver comigo. Me sinto livre desse pesadelo, não inteiramente, mas em boa parte dele e isso foi graças ao seu amor Jongdae, nunca vou ser capaz de retribuir tudo isso, ainda tenho muitas pedras em meu caminho, contudo prometo que vou tentar o meu melhor, por você, eu prometo isso. Por que eu também te amo, você é a luz na minha escuridão e eu não posso mais viver sem você, eu preciso de você Dae, muito. Nós podemos ser uma família para Minoah, juntos, eu tenho certeza que ela também chegará a sua esquina e seguirá em frente assim como eu fiz, só precisamos de paciência. E de amor, mas isso você transborda para todos, não é?

— Min...

Jongdae saltou em seu colo o enchendo de beijinhos que o fez rir contente. Ele chorava e Min sabia que era de tristeza e felicidade. Jongdae era sensível e aquilo era uma das coisas que mais amava nele.

— Isso é um sim?

— Sim, é um super sim. Eu estarei aqui com você para tudo doutor, absolutamente tudo. Por que eu te amo, e sei que será a melhor família para minha irmã, você é meu anjo. Nosso anjo.

E Xiumin, sem resistir por muito tempo fez o que queria desde que acordou. Carregou o outro de volta para a cama. 

Corações PerdidosOnde histórias criam vida. Descubra agora