Corações Perdidos

6. Você não saberá como eu me sinto

Chen acordou com o som da chuva. Xiumin dormia ao seu lado com um braço sobre sua cintura. Ele afastou o mais velho com cuidado e saiu da cama indo para a janela cujo vidro estava cheio de pingos da chuva fina. O jardim lá embaixo era iluminado por alguns pontos de luz espalhado pelo largo espaço, mas tudo era vazio e triste. Se não fosse tão moderno e bem cuidado, Chen poderia comparar com aqueles jardins abandonados dos contos de fadas. O jardim bonito parecia perfeito, mas sem vida, como tudo naquela casa exceto seu dono. Seu dono... Era a pessoa mais divergente, estranha e misteriosamente cativante que ele pudesse conceber. O que falava ia de encontro ao que fazia, era curioso e Chen descobria-se encantado por todas as nuances que ele revelava.

Era sua terceira noite ali, a primeira lúcido. Tinha sido um dia longo, ele tinha feito sua mudança e então ido contar a sua irmã. Minoah não escondeu a surpresa, mas gostou de saber que Chen estava dando uma chance de começar algo novo, ele acabou por contar tudo, era mesmo péssimo em mentiras e sua pequena irmã, exceto por "aconselhar a tomar cuidado, afinal homens por mais legais, podiam ser maus", lhe desejou boa sorte. Ele ficou muito chocado, até por que sua irmã ainda sofria com a violência que sofrera meses antes, por ela falar algo como aquilo, mas evitou expressar, afinal Xiumin tinha sido taxativo, ele tinha que ser forte por ela, não o contrário. Chen tinha levado muito a sério aquelas palavras, não importava se o doutor tinha alguns problemas emocionais, ele parecia ser um ótimo médico. Todos no hospital o amavam e respeitavam e ele tinha por três vezes socorrido a si, sem pensar duas vezes, para Chen aquelas eram provas de que Xiumin era uma pessoa boa.

Quando voltaram para a casa dele, jantaram em um silêncio confortável, tomaram banho e então Xiumin o chamou para cama, eles deitaram juntos e incrivelmente dormiram. Quantos anos não dormia acompanhado? Simplesmente dormir? Xiumin parecia ainda mais jovem e sereno adormecido, como ele era lindo... Chen não podia se conter em observá-lo, talvez nunca se cansaria de olhar aquele homem dormindo, respirando tão tranquilo, como um anjo, seu anjo. Seu anjo problemático, acrescentou sorrindo.

— Volte para cama Jongdae, venha.

A voz de Xiumin sou baixa e Chen evitou se assustar, ele estava de olhos fechados, não moveu um músculo, mas estava acordado? O médico sorriu.

— Eu estou acordado, acordei quando levantou. Volte.

E ele estendeu uma das mãos, Chen obedeceu aceitando o gesto e indo para os braços dele que o arrastou para o peito e passou a acariciar a suas costas em um toque muito leve. Chen gostava de estar nos braços dele, era reconfortante. Era seguro. Fechou os olhos e se aconchegou melhor, sentiu que recebia um beijo em seus cabelos e sorriu mais uma vez, como aquele homem podia lhe dizer que não sabia agir como um namorado? Talvez Xiumin não se conhecesse o suficiente.

Quando acordou na manhã seguinte, o sol iluminava a cama e seu corpo enrolado nos lençóis. Ele se sentiu, pela primeira vez em muito tempo, com preguiça de sair da cama, aliás, ela era imensa, macia e confortável, parecia um pecado não ficar mais um pouco. Ele enrolou por um tempo e então finalmente acordou. Foi até o closet exagerado, em sua opinião, onde na noite anterior ganhou um espaço imenso que jamais iria usar, diga-se de passagem, pegou um par de roupas confortáveis e foi para o banho. Trinta minutos depois descia a escadaria da sala silenciosa. Chen passou a observar melhor o lugar, Era tudo bem claro, iluminado, mas ainda assim frio. O muro do lado e fora, depois do longo jardim era alto, mais alto do que uma casa comum teria. Se pudesse arriscar diria que tinha no mínimo uns quatro metros. Por que seria? Xiumin tinha medo de ser assaltado? Sendo que mesmo depois daquela altura ainda tinha cerca elétrica? Era estranho. Reparou também que muitos cômodos do andar de baixo estavam vazios, sem absolutamente um móvel ou uma cortina, nada. Só as paredes brancas e janelas com vidro fechado. Os únicos lugares habitáveis no andar de baixo, concluiu, era a cozinha, a sala central e uma outra menor cheia de aparelhos de ginástica. Chen entendeu de onde o corpo escultural do médico era trabalhado.