1. Como você poderia saber ?

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Deveria ser só mais uma noite, mas nunca eram apenas noites, por que as noites podiam trazer monstros e Min conhecia todos e cada um deles, tinha feito do seu trauma sua razão de vida e nunca tinha se arrependido. Nunca, ainda assim, algumas noites se sentia não tão preparado assim, como seus dois amigos e companheiros naquela jornada lhe diziam, algumas noites ele ainda temia os monstros perturbadores.

E chorava, sozinho, naquele quarto vazio e sombrio. Ele estava só, esteve nos últimos anos e talvez estaria para sempre, podia ter amigos agora, pessoas que precisavam dele também, contudo no fim do dia voltava para seu quarto sozinho, sua cela, seu cárcere, por que ainda não se sentia preparado para confiar de novo, talvez nunca se sentisse preparado. E ele não seria o primeiro nem o único, infelizmente aquela realidade era muito comum no mundo atual.

Ele abriu os olhos e encarou o teto branco, simples, sem adorno. Depois se voltou para o relógio de cabeceira e viu que mais uma vez acordava na mesma hora da noite. Uma da manhã, sempre uma da manhã. Sem sono e com a mente cheia de lembranças que não se apagavam, nunca. Quando teria fim? Todos lhe perguntavam, todos os dias e ele nunca teve a resposta, por que não existia uma, cada caso era um caso, cada situação uma situação, não havia fórmula, nem milagre e seu melhor companheiro seria o tempo, mas ninguém realmente podia prever nada, você nunca iria saber sem passar por isso, esse era um dos poucos fatos que existiam e eram reais, não haviam respostas, só consolo, migalhas.

Ele suspirou fundo e tentou voltar a dormir, mas então seu celular chamou e ele nunca recusou uma única chamada, muitas vezes apenas poucos gestos faziam toda a diferença.

— Pronto.

— Min! Cara, desculpa mesmo, sei que teu dia foi longo, mas acaba de chegar uma vítima aqui... Ela tentou a última saída, eu não saberia se ela não estivesse completamente em choque, mas ela é uma vítima...

— Eu chego em vinte minutos, envie a paciente para a ala verde, faça os primeiros socorros.

— Combinado.

Xiumin saiu da cama, se trocou e saiu da mansão correndo, entrando no carro mais rápido que tinha e provavelmente infringindo diversas leis de trânsito até chegar ao seu hospital, que na verdade era mais uma casa de repouso para vítimas de violência extrema, do que um hospital de verdade.

Ele tinha acordos e muitos tratados com outras instituições para que vítimas de abuso fosse levadas para ele, e como haviam poucos hospitais na região e muitos pacientes, nunca houve muita reticências por parte dos outros, e os que tinham, eram calados com dinheiro, o que mais tinha a além de dor e memórias horríveis. Eles nunca saberiam, nunca entenderiam, por que o mundo médico era frio, eles viam mortes e todos os tipos de coisas sórdidas do ser humano para serem mais do que práticos em sua profissão, talvez em outra realidade Xiumin seguisse aquele caminho, mas o destino fez questão de mudar a sua vida e todos os seus valores. Ele resolveu fazer que sua infelicidade fosse útil e então ele idealizou a The colors house, por que depois de um abuso violento seu mundo se tornava cinza, as cores se perdiam e o branco era assustadoramente sufocante. Devolver as cores ao mundo alheio era parte do trabalho em que se propôs a dedicar sua vida sombria.

Ele entrou na sala central e Sehun veio até ele com o prontuário na mão, seu amigo mais próximo, secretário e enfermeiro chefe tinha os olhos assustados, o que por si só já era um sinal claro de que a paciente fizera algo muito ruim. Sehun sempre mantinha sua cara de pôquer e ela era fixa e muito persistente.

Xiumin pegou o prontuário e passou a lê-lo enquanto ia para a sala de emergências, denominada ala verde. Sua equipe era pequena, mas muito eficiente. Seus olhos percorrerem os dados pessoais e pararam no motivo da primeira internação do hospital central. Suicídio por overdose. Mas eles não tinham mais leitos e eram nesses casos específicos que A Casa Colorida aceitava pacientes, mas parecia que o destino a enviou ao lugar certo. Quarenta por cento dos suicídios eram a reta final de um ser humano que sofreu abusos violentos. A dor turvava a mente e era difícil sobreviver ao nojo de si mesmo.

Corações PerdidosOnde histórias criam vida. Descubra agora