Soyeon respirou fundo, contando até três.
A sua frente, a balança prata brilhava contra o chão amadeirado, a falta de roupas em seu corpo a fez ofegar quando seu pés pisaram no pequeno quadrado de metal a sua frente. O qual ela tanto temia.
Os números começaram a subir conforme ela deixava seu peso cair sobre a balança. Seus dedos tremiam, o coração ameaçava parar a qualquer momento.
Os números assustadores só pararam de subir quando seu peso atingiu uma marca. 58,5.
Então ela ofegou, saindo e voltando para a balança um total de 5 vezes para conferir se aquilo não estava errado. Se aquilo estava realmente acontecendo mais uma vez.
Mas estava, era aquilo o que os números diziam. Cinquenta e oito quilos. Cinquenta e oito camadas de massa moldando o seu corpo. Cinquenta e oito partezinhas de dor cravadas em sua pele.
Seu olhos começaram a arder conforme ela se afastava da peça de metal presa no chão, sentindo o frio acolher cada vez mais seu corpo em meio ao quarto.
E então, ela parou, em frente a um espelho grande grudado na porta de seu guarda-roupa.
Dessa vez, as lágrimas vieram. Fortes e sem aviso prévio. Manchando seus olhos e cravando a dor em seu rosto fino.
Soyeon, mesmo sentindo sua cabeça doer em resposta, observou cada pedaço de pele exposta diante do espelho; os dedos gordinhos e o rosto pouco marcado, os ombros largos e pernas grossas demais. As finas camadas de gordurinhas dobrando seu pescoço e as mesmas contornando sua cintura.
E então, ela chorou mais. Com a imagem angustiante do espelho lhe tomando todo o ar. Com a pessoa diante de si, transbordando transtornos, fazendo-a se odiar. Cada vez mais.
Sua mente voltou para as duas semanas anteriores, em que sua barriga doeu de fome, mas ela não comeu. Em que sua garganta se fechou pela quantidade de vômito derramado, mas ela não parou. Em que suas pernas falharam milhares de vezes pelos exercícios dolorosos, mas que ela fez chegarem até o fim. Em que, sua mente e corpo pediam descanso em uníssono, mas a ideia da perfeição não as deixava em paz. Não as deixava dormir, não as deixava comer, não as deixava viver.
Então, sua mente contornou as lembranças de dores físicas crescentes, e voltou para os traumas emocionais que grudaram em sua mente como uma tatuagem exposta na pele.
Se lembrou das risadas abafadas por seu rosto gordinho, se lembrou das milhares de vezes que lhe foram impostas dietas e exercícios cansativos, apenas por seu corpo aparentar ter mais massa formada. Se lembrou dos apelidos que machucaram, dos amigos que a traumatizaram e dos familiares que não ligavam se suas opiniões a cortariam por dentro; eles apenas jogavam as palavras contra seu rosto, e deixavam que dor fosse problema da garota que mal entendia o porquê de verem tanto mal em uma quantidade a mais de comida, em uma porção a mais de peso.
Mas o mundo com o tempo a fez entender, com muita dor e sofrimento, a fez entender que ela não era o suficiente.
Porquê Soyeon tinha que entender que garotas bonitas estão abaixo do peso, que garotas bonitas tem ossos aparecendo em seus ombros, que garotas bonitas tem a cintura pequena e pernas finas, que garotas bonitas tem o maxilar marcado contornando o rosto perfeito, que garotas bonitas são magras. Que garotas bonitas não são como ela.
Soyeon nunca quis alcançar a perfeição, então porquê exigiam tanto isso dela? Porquê a poluíram a ponto de fazê-la odiar o que vê no espelho? Porquê a machucaram a ponto de o faze-la desejar morrer por sem quem é?
Novamente, seus olhos encontraram o espelho, e mais um excesso de peso foi capturado por seus olhos marejados e queimaram sua alma.
Sua barriga roncou, a fome a corroía por dentro, doia em seu corpo todo e fazia suas pernas perderem a força a cada passo firme que era dado entre seu quarto frio.
Mas agora, Soyeon sabia que garotas bonitas não comem. Garotas bonitas são magras. Garotas bonitas são o oposto dela.
E voltou a chorar, deitada entre os lençóis frios de sua cama, nadando entre a dor física e cansaço emocional. Presa entre os esteriótipos que foram grudados a força em sua pele e que, agora, não a deixavam mais respirar.
Soyeon dormiu chorando naquela noite, com a mente vagando entre a frustração e a tristeza porquê, mais uma vez, ela percebeu que não era o suficiente para o mundo e pelo jeito, nunca seria.
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pretty girls don't eat.
Fiksi PenggemarSoyeon nunca quis alcançar a perfeição, então porquê exigiam tanto isso dela? Jeon Soyeon | oneshot | 0319 Essa história pertence ao WATTPAD.