Sindy
— Como assim seu sorvete preferido é de kiwi? Eu nem sei que fruta é essa.
Eu rio dele enquanto ele pega o sorvete de chocolate, a atendente dá um sorrisinho forçado pra ele, mas ele nem sequer olhou pra ela. Estava concentrado demais em não desperdiçar os pingos do sorvete que escorria pelas bordas do copo.
— O sorvete é mais gostoso que a fruta, eu particularmente a acho horrível. — falo enquanto ele me guia até uma mesa com todo o cuidado para o sorvete não cair.
Rio mentalmente da cena, o sorvete provavelmente não iria cair da mão dele, mas ele agia como se fosse.
Balanço a cabeça negativamente e me sento na cadeira.
— Então...Faz arte né?! — consigo perceber a malícia na afirmação dele e sorrio.
— Sim, prefiro arte gráfica. — Falo me segurando para não rir da cara dele de recepção.
— Mas que mulher difícil. Você está bem diferente da última vez que te vi. Que tal marcarmos para ir no clube do centro novamente? Pra matar a saudade.
Ele ri baixinho e eu abaixo a cabeça constrangida, talvez no dia eu tenha me soltado mais por conta do estresse da faculdade e em casa, mas agora é diferente.
— Aquele beijo ainda está na minha mente, Sindy. Você não faz ideia. — ele diz isso como se fosse algo incrível e raro.
— Espero que fique só na sua mente — falo colocando uma colher de sorvete da boca.
— Aí meu coração se parte gata. — ele diz.
Reviro os olhos e sorrio, o jeito dele é interessante, mas ele não me parece alguém profundo pra investir. Acho que devo seguir o conselho da Zoe: Apenas distração.
— Tudo bem, você sempre está por aí fumando? — pergunto mudando de assunto .
— As vezes eu dou uma tragada, mas só em momentos difíceis.
Solto um "Ah" e olho para as mãos, sem graça, eu devo perguntar quais seriam os momentos difíceis? Não, melhor não.
O celular dele toca assim que ele abre a boca para falar algo. Observo ele atender, tento disfarçar minha curiosidade olhando para o lado de fora da sorveteria.
— Pode deixar, a noite passarei aí. — Ele faz uma pausa — Adeus.
Ele suspira assim que desliga o celular.
— Trabalho. — Ele diz justificando-se.
— Trabalha em que? — pergunto me livrando do desconforto de não ter mais nada para falar.
—Faço estágio na empresa de engenharia do meu pai. — Ele diz forçando um sorriso.
— Você gosta de engenharia? — Pergunto curiosa pela resposta.
— Não, eu curto culinária, porém, meu pai nunca permitiria. — ele da um leve suspiro, olha pra mim e logo desvia o olhar para as próprias mãos.
— Eu poderia perguntar o por quê ? -Pergunto com certo receio de qual seria a resposta dele.
— Por que ele acha que isso é só para mulheres e quer que eu assuma a empresa quando ele não puder mais.
Se eu estivesse em um desenho animado essa seria a hora em que estaria saindo fumaça pelo meus ouvidos e nariz. Max com certeza percebeu minha cara de indignação.
— Não precisa ficar com essa raiva mortal pelo meu pai, gata. Nem eu me importo, então não se importe também. — abro a boca em formato de "o" e ele sorri. — Seu sorvete está virando água. — Ele diz apontando para meu sorvete que estava água pura.
Ele olha para tela do celular, me parece preocupado com a hora. Acho que isso foi um erro, era melhor eu ter ido pra casa e ficado o dia todo estudando. Ele está sempre parecendo fugir dos assuntos sérios, não que fosse realmente da minha conta, mas acho que seria mais produtivo, no momento eu estou me sentindo um peso.
— Eu acho melhor eu ir. — Falo deixando ele com um semblante surpreso, mas logo suaviza.
— Tá bom. — Ele diz ainda sentado.
Fiquei decepcionada por ele não ter pedido para eu ficar.
— Até mais. — Eu falo e ele acena com a cabeça.
Assim que me viro em direção à porta não pude deixar de fazer uma careta de frustração. Ele nem perguntou se eu quero uma carona, sendo que foi ele que me trouxe naquele carro dele que cheira a perfume doce.
Saio da sorveteria e dou uma última olhada. Ele estava me olhando pelo lado de fora e, da uma piscadinha da qual eu desvio o olhar, tentando me manter tranquila.
Chego em casa uma hora depois. Meus pés estão doendo e minha coluna nem se fala. Tentativa de ser mulher cheia de atitude que se encontra com caras e falha miseravelmente, era melhor ter ficado em casa.
— Que cara feia é essa garota? — Meu avô aparece na sala me dando um baita susto.
— Jesus. — Falo com a mão no peito, tentando recuperar o fôlego.
— Jesus tá no céu. — Ele diz.
— E quase que eu fui fazer uma visitinha a ele vô. — Digo me recuperando.
Ele ri debochado e se acomoda no sofá com um balde de pipoca do lado.
— Deixa de besteira menina, agora fala, o que houve?
Ele diz batendo do outro lado no sofá, para que eu sente lá, mas eu nego com a cabeça.
— Houve um dia cansativo e agora eu só preciso tomar um banho gelado, fazer um chá e estudar até eu não aguentar mais, para no fim dormir. — Falo deixando minha bolsa em algum canto do chão
— Que mau humor menina, vai se benzer nas águas podres do banheiro, vai. Porque meu filme vai começar e você está na minha frente.
Reviro os olhos e sorrio. Vou direto para o banheiro. Meu avô tem 85 anos, mas age como se tivesse 20 e, eu gosto disso, é como se eu pudesse falar as coisas pra ele, sabendo que ele vai entender ou pelo menos fingir que vai.
Depois que a vovó partiu ele ficou muito solitário, lia as cartinhas que eles trocavam quando eram jovens e chorava pelos cantos. Era um amor lindo, ele só voltou ao normal 5 meses depois, foi do dia pra noite e eu não entendi o que houve, mas estou gratíssima mesmo não sabendo.
Tomo um banho rápido e vou para meu quarto estudar, essa geralmente é minha vida, só estudar.
Acordo assustada com alguém puxando meu cabelo.
— Aii, aiii, vô!
Falo levantando e ele ri, sinto que minha cara está marcada pela mola do caderno e passo a mão em cima.
— Tem um cara te esperando lá fora. Pode trazer ele pra cá, porém, se previnam. — Ele diz saindo, mas volta dois passos e olha pra mim. — Você tem que parar com essa mania de dormir em cima dos cardemos e, anda logo, ele tá sentado na grama lá fora.
E finalmente ele sai, passo a mão no rosto pensando no que eu faço. Fiz um coque, vejo se minha roupa está descente no espelho que fica na frente da minha cama.
Bom, da pro gasto.
Passo pela sala e vejo meu avô deitado no sofá vendo uma cena romântica de algum filme.
Ele adorava ver filme de romance com minha avó.
Assim que saio de casa, vejo Max sentado na grama de costas pra mim e fumando um cigarro.
— NÃO POLUA MINHA VARANDA!
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Me achei em você
RomanceIsso é um conto ♥️ SINOPSE Um lance meio improvável e um amor complicado, diferenças costumam separar pessoas, as vezes juntam, mas como será viver com alguém oposto de você? É complicado. Maximus, mais conhecido como Max, sagaz nas cantadas e pr...