EMBARQUE NO AMOR

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Conto da Fanny412


Melissa

Como se não fosse o suficiente ser abandonada no altar, eu ainda tinha que ouvir meus pais me culparem de alguma forma, por tudo o que tinha acontecido. Carregar o sobrenome Melo era um verdadeiro carma, qualquer decisão errada e você simplesmente jogava o nome da família na lama. Mesmo eu não tendo escolhido ser abandonada por meu noivo, Matthew, ali estava eu, ouvido de mamãe e papai como eu era a desonra da família, o fardo que eles tinham que carregar, enquanto minhas irmãs Melody e Melanie eram perfeitas.

Eu estava tão cansada de tudo aquilo, tudo o que eu queria era o apoio e carinho deles. Era o que famílias normais faziam em situações como a em que eu me encontrava, não era? Ou o que, pelo menos, deveriam fazer, certo?

Eu estava sentada no altar, os ouvindo falar sem parar, enquanto os convidados me olhavam com piedade, eu não podia permitir que aquilo continuasse, então me levantei e disse tudo o que estava sentindo.

— Já chega! — gritei, surpreendendo-os. — Será que não podem agir como pais uma vez em suas vidas? Eu já estou cansada de tudo isso. — Minhas irmãs me olhavam com carinho. — Já entendi que sou o grande erro da família Melo, a decepção para todos. — Lágrimas já enchiam meus olhos — Eu não tenho culpa de o Matthew simplesmente ter desistido na última hora. Eu não fazia ideia de que isso poderia acontecer, tá legal. Para mim tudo parecia perfeito, mas talvez ele tenha percebido que tudo estava andando rápido demais — fui falando tudo que estava preso em minha garganta. — E nada disso teria acontecido se vocês não tivessem se metido em minha relação com ele, praticamente o obrigando a me pedir em casamento. Parabéns, mais uma vez conseguiram estragar a minha chance de ser feliz. — Eu percebi que estava chorando quando o soluço escapou de minha boca.

Olhei para seus rostos horrorizados e antes que eles pudessem dizer qualquer coisa, revertendo a situação ao seu favor, sai correndo pelo longo tapete vermelho, tirei o véu de minha cabeça e o joguei no chão.

Ouvi alguém me chamar, antes de descer os degraus da igreja, mas não olhei para trás, não queria escutar mais ninguém, eu já estava farta. Tudo o que queria era ir pra casa, deitar em minha cama e ficar quieta, fingir que tudo estava bem e que ninguém me olharia com pena, ou me julgaria quando me visse sair na rua no dia seguinte.

Dei sinal para um taxista que passava em frente à igreja, por sorte, corri até o táxi e entrei a tempo de ver papai, mamãe e alguns dos convidados na porta, assistindo a minha fuga nem um pouco educada, como os dois diriam.

Dei o endereço ao taxista e encostei minha cabeça no vidro do carro, deixando as lágrimas caírem.

Quando acordei na manhã seguinte, não me surpreendi ao ver minha secretária eletrônica lotada de recados, à notícia se espalhara rápido, como eu havia imaginado.

Coloquei minha cafeteira para funcionar e apertei o botão para ouvir alguns dos recados, que eu já sabia sobre o que se tratava. Os primeiros eram de meus pais, dizendo o como eu tinha sido indelicada ao tratá-los daquela forma perto de toda aquela gente, que não deveria ter saído daquele jeito e blá, blá, blá. Os outros eram de convidados e amigos, me dando seu apoio e expressando seus sentimentos, dois de minhas irmãs, dizendo que se eu precisasse, poderia passar um tempo com elas, mas o que me chamou a atenção foi um recado em especial. Eu estava com a xícara de café na mão quando ouvi a voz de Matthew ao telefone.

— Oi Mel, sou eu, o Matthew. Tenho certeza que eu sou a última pessoa que você gostaria de ver ou ouvir agora, mas eu preciso te dar algumas explicações. Não tenho ideia da barra que você deve estar segurando agora, mas eu não podia fazer isso com a gente, isso não só foi, como é o melhor para gente. Eu não podia permitir que nossos pais continuassem nós manipulando, como fizeram a vida inteira. Mel, você é uma mulher linda, qualquer homem que ganhar seu coração, será um homem de sorte, mas esse homem não sou eu e nós dois já sabíamos disso desde o início. Não tinha sentido continuar com esse teatro até nos destruirmos.

Essa é a nossa chance de ser feliz, ser feliz de verdade, fazer as nossas próprias escolhas. Eu já estou correndo atrás da minha felicidade Mel, não só quero como acho que deveria fazer o mesmo, mas não precisa ser agora, tire um tempo, longe de tudo, um tempo só para você, e reflita.

Eu tive a indelicadeza de trocar nossas passagens de lua de mel em uma para você. É uma viagem em um cruzeiro, 10 dias, partindo do Rio de Janeiro até Buenos Aries. Sei que sempre teve o sonho de conhecer Buenos Aries, acho que agora seria uma oportunidade boa, dizem que as praias de lá não são tão bonitas quanto as brasileiras, mas acho que será uma distração bem-vinda. O navio partira amanhã, às 7:00. As passagens estão no seu apartamento, num envelope em sua bancada, caso queira levar alguém. — Fui até a bancada e lá estava o envelope, que antes não havia notado. — Espero que goste e mais uma vez, sinto muito, espero que seja feliz Mel, você merece. Bem, agora tenho que ir, talvez a gente se esbarre por aí um dia desses e quem sabe possamos ser bons amigos, até. — Depois, tudo o que eu ouvi foi o barulho do bip, no silêncio de meu apartamento.

Eu estava brava, comigo mesma, com Matthew, primeiro por ter sido um babaca e naquele momento, porque ele tinha toda razão e ainda estava sendo legal comigo.

Eu precisava ter coragem e tomar as rédeas de minha própria vida, nãopodia continuar permitindo, que papai e mamãe continuasse me controlando. Batias unhas de minhas mãos no mármore gelado, olhando para o envelope sobre ele.


(Continua no e-book disponível na Amazon)


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Calor, Amor e Sonhos De Um Verão InesquecívelOnde histórias criam vida. Descubra agora