PIMENTINHA

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Conto da autorkarolblatt


O biquíni era a preocupação dela.

Principalmente, quando se comparava com as outras garotas. Todas esguias com pernas magras, enquanto as de Bia eram abundantes, assim como os seios, no conjuntinho de nadar incrustrado de pimentinhas.

Pimentinhas? Pelo amor de Deus, o que a mãe tinha na cabeça quando enfiou aquele biquíni de dois anos atrás na sua bolsa? Será que ela não sabia que seu corpo mudara desde os seus dezesseis anos? Além da moda de "pimentinhas" estar morta feat enterrada há tempos?

Bia suspirou.

De qualquer forma, não adiantava reclamar. Seu outro biquíni tinha sido destruído depois da bobagem que sua prima fizera ao tentar passar a tesoura nele para deixá-lo mais estiloso...

Ah, mas Cassandra teria seu troco. Se teria!

Bia não tinha escolha, a não ser usar as lastimáveis pimentinhas! E justamente no pior dia! No dia da fogueira de praia, quando ela teria a chance (se tivesse muita, muita coragem) de sentar-se ao lado de Michael, quando ele fosse tocar o violão.

— Bia, já está todo mundo lá fora!

Cassandra, sua prima, entrou na barraca com um semblante impaciente.

— Eu não vou.

— O quê?

— Não posso, Cassy! — Bia protestou, indicando seu próprio corpo. — Como posso sair com esse biquíni minúsculo e com essas pimentinhas ridículas?

Cassy se aproximou para estudar melhor a imagem da prima.

— Bem, é um pouco fora do tempo... — Começou e depois se lembrou de que ela mesma fora a culpada por arruinar a outra peça. — Mas fica bem em você.

Bia fez uma careta.

— É melhor eu ficar. — Suspirou, cansada. — Vá com os outros. Se divirta na praia.

— Nem pensar! — exclamou Cassandra. — Olha Bia...

— Olhe para mim, Cassy. Eu não posso ficar por aí desfilando com esse tipo de biquíni, não sou magra como...

— Nem ouse terminar a frase Beatriz Campos Sodré! Você é uma garota linda sim, e nós vamos para a fogueira com os outros. — Cassandra foi até os parcos pertences de Bia e remexeu-os, até encontrar uma bonita saída de praia. — Pronto, aqui está.

Estendeu-a na direção da prima.

Bia analisou a peça, desanimada.

— Não vai adiantar nada.

— O que não vai adiantar é você ficar aqui escondida e deixar Michael nas garras daquelas duas ariranhas.

Bia tentou não rir, mas não conseguiu.

— Você não devia falar assim de Paty e Brenda.

Cassy apenas rolou os olhos.

— Se não fossem primas do Nando, nenhuma delas estaria aqui. Era para ser uma viagem apenas com pessoas que nós gostamos.

— E não gostamos delas? — insistiu Bia, incapaz de resistir. — Ou você não gosta delas?

— Eu, nós, dá tudo no mesmo. — Cassy atirou a saída de praia em Bia, que a segurou em um reflexo. — Você é minha melhor amiga e faz parte do acordo odiar tudo e todos que eu odeio.

Cassy colocou o cabelo loiro atrás da orelha e cruzou os braços. A postura assegurou a Bia de que a prima não deixaria a barraca sem ela.

Com um suspiro e entre resmungos, Bia colocou a saída de praia sobre o biquíni de pimentinha.

— Eu não vou perder nada se não for. — Deu de ombros, num último esforço.

— O Michael...

— Não me nota há muito tempo e não vai acontecer agora, Cassy.

A quem as duas queriam enganar? Michael crescera ao lado de sua casa. Era o vizinho bonitão e antes havia sido seu melhor amigo. Pelo menos eram melhores amigos, até serem cruelmente separados pelo ensino médio. Desde então, ela se tornara a gordinha Geek e ele o atleta popular, sempre disputado por garotas que eram o oposto de Bia: magras e perfeitas. Cassy devia saber que não seria uma viagem em grupo para acampar na praia que o faria, finalmente, voltar a enxergá-la.

Entretanto, Cassy não sabia de nada. Nada mesmo! Nem desconfiava de seu terrível estado. Imagine! Uma garota com quase dezoito anos completos, que nunca fora beijada!

Mas alheia a todos os pensamentos da amiga, Cassy apenas rolou os olhos e se aproximou, enganchando seu braço no de Bia.

— Ora, reclame menos e ande mais. Precisamos chegar até os outros. — Em seguida, começou a arrastar Bia para fora da barraca. — Além disso, talvez você tenha uma surpresa muito grata. Afinal, eu disse que iria recompensá-la pelo biquíni. 

Calor, Amor e Sonhos De Um Verão InesquecívelOnde histórias criam vida. Descubra agora