Cais do Porto ou A Fond Farewell

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Gostaria de escrever algo simples sobre um determinado momento

Poderia ser sobre um dia em que você está sentado no cais do porto

Acompanhando o movimento disforme das nuvens

E você está conversando,

Um pouco alegre,

Um pouco embriagado, com seu novo amigo de cabelos azuis

Olhos fixos na profundidade das águas batendo no cais

Olhar mudo de tristeza frente ao ritmo incessante do rio


São as primeiras horas da manha de 2019

Não há uma nota de alegria ou felicidade

Ou celebração pelo futuro vindouro

Apenas um pesar que percorreu a madrugada toda

E percorreu as horas

E percorrerá todos os dias até esse ano acabar


O olhar alterna um pouco entre o horizonte cinza, indefinido

Um pouco nas águas turvas do cais

Ate seus olhos pousarem leves nos meus

E eu perceber seu esboço de sorriso

E dentro dele seu peito lacerado

Tentando alçar um voo solitário na manha estranha, difusa


Kurt Cobain ou Elliott Smith

Não são talvez nosso ponto em comum

Mas diria também essa percepção de que talvez

La no fundo

Lá no fundo mesmo

As coisas não se resolverão

E tudo seguirá como tem sido, como sempre foi

Sem um brilho no olhar

Sem um gesto sincero de amor continuo


Lhe falo sobre a garota ruiva que me teve

Em seus braços delicados na Redenção

Você me surpreende com Sappy do Nirvana

E um olhar fixo na profundidade da água

Como que medindo sua imensidão aos nossos pés


Gostaria sim de possuir esse singelo poder

E com todo cuidado do mundo cauterizar fibra por fibra

Essa tristeza que brota esparsa na tua manha


Mas eis eu aqui

Tão distante como você

Com meu resto de trago no copo

Observando o nascer único do dia


E você não tem ideia que

sentado ali no cais

Na duração exata de um momento

Eu estive próximo

Como poucas vezes estive

E ouvi sua voz na manha nascente


Na verdade eu estou lá ainda

Sempre estarei

Fria Lâmina  (Vaga Poesia)Onde histórias criam vida. Descubra agora