1° Dia - É tarde em Nova York, digo, em Edmonton.

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O som da voz misturou com um sopro suave que me deu um certo arrepio na espinha e nos braços, me deixando completamente sem jeito, quando reconheci então...

- Josh? - falei, ainda temendo estar errada

- Já está indo? - ele me respondeu com outra pergunta, me dando um leve aperto na cintura e se afastando logo depois - Não acredito que você ia embora sem se me dar um tchau? um até logo? um vejo você por aí? - e fez cara de drama.

- Você estava com o pessoal ali, achei que fosse demorar, além do mais eu encontrei a Sofya logo em seguida.

- E onde ela está? - apontei para a fila de táxis e Sofya estava desesperadamente procurando um motorista - Desse jeito ela não vai conseguir nunca, os taxistas daqui não curtem levar pra lugares mais distantes, deve ser por isso que ela ta demorando tanto, onde é a casa de vocês?

- Nem eu sei, mas deve ser mais distante daqui do aeroporto mesmo... e agora?

- Eu posso levar vocês se quiserem, meu primo chega em menos de dez minutos trazendo meu carro, aceitam?

Acenei para Sofya e a chamei pra perto, eles se abraçaram e comemoraram o reencontro. Repeti a proposta de Josh e ela aceitou na hora, já cansada de tentar convencer os motoristas a nos levar. Não demorou nada e o primo de Josh chegou com um carro preto e uma mala bem espaçosa que coube todas as bagagens. Eles encostaram na lateral do carro e começaram a trocar algumas palavras antes de vir falar diretamente conosco.

- Meninas, esse é meu primo, Ian. - ele sorriu e estendeu a mão para nos cumprimentar educadamente - Essas são Sofya e...

- Emily. - por um momento ele esqueceu meu nome, então respondi sem nem pensar, pra não deixar a situação constrangedora e apertei a mão do Ian de volta.

Josh abriu a porta para mim e logo depois entrou do lado do motorista, já Ian abriu para Sofya e sentou no banco do carona. A música tocando é desconhecida por mim, parece ser  do Drake mas não tenho certeza. Olho pra Sofya e vejo ela um pouco tensa, com a testa franzida de preocupação. Segundos depois meu olhar cruzou com o do Josh pelo retrovisor e ele percebeu o desconforto dela.

- Onde vocês vão ficar? - Cutuquei ela discretamente para que ela respondesse.

- Não sei se você vai acertar, eu vou por no Waze e o seu primo segura o celular pra você, pode ser? - Ele concordou balançando a cabeça.

- Então Emilly, de onde você é mesmo? - perguntou Ian

- Sou brasileira - respondi sorridente. - por que?

- Nada, só reparei que você tem um jeito diferente, mas nada demais.

- Como assim jeito diferente? Não entendi - olhei pra Sofya e vejo que ela está atenta a nossa conversa.

- Não sei explicar, a gente sabe reconhecer quem é de fora, só isso. - ele olhou pra Josh de um jeito estranho, como um código. - E veio fazer o que aqui?

- Intercâmbio.

- Em Edmonton? Não tinha lugar mais interessante pra ir? - ele disse entre risos e todos nós rimos juntos do jeito que ele perguntou.

- Até tem, mas eu tive muitos motivos para vir pra cá e aqui estou, vou morar aqui por trinta dias.

- Bem, não tem muita coisa por aqui, mas espero que goste, qualquer coisa, conte comigo - ele olhou pra trás e piscou pra mim, senti minha bochecha corar na hora.

- Com nós dois, Ian - disse Josh em tom de correção - Pode contar comigo também, Emily. - e ele finalmente lembrou meu nome.

- Obrigada, mas enquanto a Sofya estiver por aqui tudo estará sob controle, quando ela voltar pra Moscou eu vou precisar mesmo da ajuda de vocês - percebi o olhar de josh pra mim pelo retrovisor, tentando me dizer alguma coisa e eu, ainda meio deslocada, não consegui decifrar.

Pela janela a paisagem é simples, porém de uma beleza única. O frio prepara o terreno para a chegada da neve, mas o sol ainda brilha forte no céu, que por sinal está num lindo tom de azul, combinando com os altos pinheiros e outras árvores que não sei o nome. As pilhas de folhas na frente das casas retratam o fim do outono, as pessoas andam com toucas e casacos e eu agradeço por minha mãe ter me lembrado de trazer roupas de frio. A voz do GPS atrapalha um pouco a poesia do momento, mas a música que toca no rádio disfarça.

A cada 1 minuto Sofya desbloqueava o celular, perdi as contas das vezes que a luz da tela iluminou todo o carro e ela nem se  tocou disso. A mão no queixo apoiada na janela denunciava sua ansiedade com alguma coisa mas não consigo traduzir. Os quase trinta minutos passaram até rápido, o que me deu um grande alívio.

- Se eu soubesse que você morava aqui não precisaria do waze, Sofy. - Josh quebrou o gelo, ligando a seta pra entrar numa rua que mais parece um condomínio, todas as casas idênticas dos dois lados da rua. - Eu moro a cinco minutos daqui.

- Sério? Que ótimo, podemos marcar de sair durante a semana, o que acham?

- Acho ótimo, você me avisa por whatsapp e a gente vai, né Ian? - ele respondeu já direcionando o olhar para o primo e eu aqui no banco de trás quieta, observando.

- Aqui já está bom Josh, meus tios moram naquela casa alí. - ela apontou pela janela.

- Tem certeza? Eu posso deixar vocês na porta, não tem problema...

- Tenho - sofya foi firme e cortou a fala de Josh como uma faca afiada, me causando um certo espanto. - Muito obrigada pela carona, de verdade.

Josh parou o carro na entrada da rua, todos nós descemos ao mesmo tempo e ele foi abrir o porta malas, eu fui ajudá-lo.

- Aconteceu alguma coisa com a Sofya? Ela tá um pouco estranha, ou é impressão minha? - Josh disse em tom baixo.

- Acho que é impressão sua, ela só deve estar cansada - Tentei não prolongar essa conversa, mas ela realmente tá agindo estranho desde que entrou no carro com os meninos.

Josh colocou minhas malas no chão e se despediu de mim e da Sofy, abraçando-a e logo depois ela saiu na frente. Vi Ian acompanhar seus passos com olhar de longe, mas desviei os meus olhos para não deixá-lo constrangido, depois ele entrou no carro. Josh fechou o porta malas, eu agradeci e acenei para eles, dando tchau e segui andando. Mal andei três passos e...

- Ainda vamos nos ver, - ele agarrou meu braço e desceu até suas mãos se encontrarem com a minha, fazendo meu corpo virar e ficarmos frente a frente. - não vamos?

Só consegui balançar a cabeça positivamente, por que de palavra não sai nada, travei a respiração e meus pés colaram no chão. Nossas mãos se afastaram alguns centímetros e eu rapidamente trouxe meu braço de volta junto ao corpo, ele deu a volta no carro, entrou e deu partida. Meus olhos acompanharam o veículo até que ele se perdesse na escuridão e na neblina que tomam a cidade essa hora. Agora que voltei ao meu estado normal consigo respirar fundo e processar o que aconteceu, minha mão ainda está quente do encontro com a dele, mas meu corpo sua frio de nervoso.

- O que foi que aconteceu aqui!?

- Caramba, Sofya! Que susto! - respondi arfando, depois dela simplesmente ter me despertado de vez do transe, praticamente gritando no pé do meu ouvido.

- Você não respondeu minha pergunta! O que aconteceu aqui? O que foi esse momento? Me fala Emily!

- Primeiro vamos entrar, já está tarde e eu acho que preciso de um copo d'água.

30 DIAS //Josh Beauchamp #Wattys2019Onde histórias criam vida. Descubra agora