30 DIAS //Josh Beauchamp #Wattys2019

2° Dia - Posso ter seu telefone agora?

- Bom dia quase tarde flor do dia! - por um momento achei que fosse minha mãe me acordando, o mesmo jeito doce e a fala suave, mas está faltando o cheiro do café, a luz invadindo meu quarto pela janela... e eu percebi que não estou em casa.

- Bom dia, Sofy - respondi baixinho com voz de sono, coçando os olhos e logo depois passando a mão pelo cabelo.

Quando finalmente despertei, me dei conta de que estou com a mesma roupa de ontem, jogada pelo sofá com um cobertor de lã cobrindo metade do meu corpo.

- Você dormiu aí antes da pizza chegar, com o celular na mão e tudo - meu celular - coloquei ele ali em cima, você tava segurando ele com tanta força que me deu trabalho pra tirar. - ela disse, rindo.

Não respondi nada, só sorri de volta com um sorriso meio sem graça, não tenho o melhor dos humores pela manhã. Sofya foi em direção ao seu quarto e eu fui atrás, peguei minhas coisas de higiene, toalha e roupa e fui direto tomar banho pra finalmente começar o dia. No clima frio de Edmonton a água quente do chuveiro e o regulador térmico do banheiro me deixa mais confortável, no Brasil eu nunca tomaria banho assim.

- Seu tio vai fazer almoço pra gente hoje? - perguntei já saindo do banho, com uma toalha na cabeça e outra no corpo.

- Ele vai fazer o jantar, teve que sair pra resolver umas pendências do passaporte da viagem, mas ele deixou dinheiro pra gente almoçar por aí.

Concordei com a cabeça. Olhei pela janela e o sol está brilhando, o vento é bem frio mas a neve ainda não chegou, não vou precisar me agasalhar tanto. Separei um vestido de manga média, um tênis baixo e me arrumei enquanto Sofya entra no banheiro. Olhei para o celular e agora entendi por que ela disse "bom dia quase tarde", ja é quase hora de almoçar mesmo. Fiquei desbloqueando o celular algumas vezes enquanto me arrumo, mas ele não vibrou mais, sem notificações do instagram, só mensagens do grupo da família. Acho que acabei espantando ele, antes não tivesse respondido nada, quanta estupidez.

- Já terminou? Estou morrendo de fome e quero te levar no meu restaurante favorito, na volta levo você pra conhecer a família que você vai "morar" - e fez aspas no ar, enquanto se olha no grande espelho que tem na parede, ao lado da porta. - Vamos, Emily!

Coloquei o creme de cabelo nas mãos e fui ajeitando o cabelo, enquanto desço as escadas atrás dela. Sofya pega o dinheiro em cima do mármore e seu celular. Meu celular, droga.

- Ei, eu esqueci meu celular em cima da sua cama, vou buscar rápido.

- Okay, mas depressa! Já estou na porta te esperando! - Subi o mais rápido que pude, lavei as mãos na pia rapidinho, peguei o celular e desci de novo - Ótimo, agora podemos ir.

- Por favor, me acorde mais cedo mas não me faça me arrumar nessa velocidade. - dei de ombros e ela riu, mas na verdade eu tô falando bem sério.

Andamos um pouco até avistar o tal restaurante, muito simples, ao lado de uma confeitaria que, juro por Deus, eu poderia morar na vitrine de tão linda.

Entramos - no restaurante, não na confeitaria, infelizmente - e o lugar que parece pequeno de fora, por dentro é gigante.

- Impressionante como todo mundo pensa que é pequeno e se surpreende quando entra - Sofya diz, procurando uma mesa, como se estivesse lendo meus pensamentos - Meu Deus, Emily... você não vai acreditar.

- O que foi!?

- Disfarça e olha por cima do meu ombro... - ela virou de frente pra mim devagar, e eu olhei como ela disse.

Lá no fundo, na mesa do canto. Josh. Ian. E uma garota que tá de costas pra mim, não faço ideia de quem seja.

- Quem é ela? - deixo escapar

- Como eu vou saber? Ela tá de costas! Mas isso não importa, foca em quem está com ela.

- Ok, eu percebi, vamos para o outro lado do restaurante - fiz o gesto com a cabeça - e vamos parar de sussurrar também.

Quando viramos nossos corpos na direção contrária, aconteceu exatamente como nos filmes, talvez o roteirista das minhas férias não seja tão original e queira continuar os clichês do cinema, construí os próximos 2 minutos na minha mente e vi ele se concretizar em questão de segundos.

"Emily!?"

O suficiente pra reconhecer que Josh Beauchamp acabou de me chamar, causando um eco por todo lugar, me deixando vermelha de vergonha na frente de todos. Olhei para o lado e Sofya do está mesmo jeito, voltamos nossos corpos a posição de antes e acenamos juntas para os primos sentados lá no fundo, a garota continuou como estava, plena. Ele nos chamou pra ir até lá, senti a mão de Sofya beliscar minha cintura enquanto caminhamos lado a lado na direção deles, posso até afirmar que sua unha me feriu, da força que ela colocou.

- Não sabia que conhecia esse restaurante, Sofya. - Josh disse, sorrindo, me deixando sem graça por completo pois me fez lembrar das mensagens de ontem.

- É, pois é...

- É o favorito dela. - Ian cortou, deixando todo mundo surpreso, lançando um olhar para minha amiga que por sinal, está mais vermelha do que antes.

- Então, meninas, essa é Taylor Hatala, uma amiga minha e...

- Elas devem me conhecer, Joshua - devem conhecer? e como assim Joshua? - tudo bem com vocês?

- Sim, é um prazer conhecer você pessoalmente, sou fã do seu trabalho.- minha cabeça diz "Cala a boca Sofya" mas meu rosto sorri por educação. - Sofya - e estende a mão pra garota, que finge que não vê e volta o olhar para Josh.

Não quero ficar parada aqui que nem uma idiota e ver minha amiga pagando pau pra uma garota que se acha, não tenho paciência, quero arrastar Sofya daqui e ir pra outro canto.

- Por que não sentam com a gente? - perguntou Josh

- Claro! - Certo, Sofya, você venceu. Ela automaticamente sentou ao lado da tal da Taylor, me deixando como única opção disponível sentar ao lado de Josh.

A comida deles tinha acabado de chegar, roubei algumas batatas fritas de Josh enquanto a conversa rolava e eu e Sofya esperamos nosso prato. "Conversa", por que só se ouve a voz de Taylor na mesa, engrandecendo suas várias apresentações e como ela está ansiosa para comemorar seu aniversário de 16 anos hoje a noite, numa festa supostamente simples a qual ela não para de contar os detalhes e os convidados.

Creio que eu não esteja conseguindo disfarçar meu tédio muito bem, a cada minuto Josh aperta minha coxa direita coberta pelo tecido do vestido, abaixo a cabeça todas as vezes pra conter o riso.

- Será que agora eu posso ter seu telefone, Emily? - ele sussurrou em meu ouvido, passando a mão por trás do meu ombro e encostando o rosto no meu. Eu, que antes estava olhando pra baixo, agora estou encarando os olhos cor de oceano de Josh Beauchamp e tudo ao redor parece parar pra contemplar a vista que só eu estou vendo. Ele me deu seu celular já aberto na agenda, anotei meu número e desviei meu olhar para a janela atrás dele.

- Eu posso ter anotado um número qualquer - sussurrei também ainda olhando para a janela, mas consigo notar o olhar dele pra mim.

- Parece que eu vou ter que ligar pra saber.

Ele tirou o braço que está atrás de mim e apoiou na mesa, salvando meu número como @yanemily_, como no meu instagram.

- Parece que vou ter que salvar seu nome como @joshbeauchamp.

Nesse exato momento, uma garçonete chegou com nossos pedidos e eu e Sofya já tinhamos até esquecido da comida, de tão distraídas que ficamos com nossas diferentes conversas.

- Bon Appétit, Emily Yan.