1.Bruno, o gentil. Jonatas, o bravo.

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Eu não queria ir para aquela fazenda para começo de conversa, e agora estou aqui no carro pegando uma hora de viagem para voltar no mesmo dia, em um reencontro de familia que eu não vejo ha séculos, com novos primos que eu não conhecia e outros que quase nunca nem falei. E não apenas meus pais não me deixem ficar sozinha em casa assistindo Netflix, como eu também ficam bravos pela minha reluta! Porque não é suficiente para tirar no mínimo nove nas provas,  não beber e nem usa qualquer coisa que as pessoas da minha idade adoram fazer, não são suficientes para eu ser uma filha de familia e dedicada. Ah nao, nao estar extremamente entusiasmada em rever em um monte de pessoas que eu nao lembro, me faz uma adolescente revoltada e rebelde. 

"Vicky, por favor, tire essa cara de enjoada e coloca um sorriso no rosto para cumprimentar sua familia. Encontros como esses sao dificeis de acontecer, e eu ficaria grata se as pessoas não pensassem que eu criei uma filha rebelde e mal humorada. Já estamos chegando." disse minha mae, como se eu fosse a representatividade do mal humor. 

Enfim, chegamos. Tinha muita gente em volta da churrasqueira, assim como na varanda da casa entrando e saindo, e crianças brincando na grama. Metade daquelas pessoas eu nao via ha muito tempo, entao ou tinham envelhecido demais para reconhecer algo por tras das rugas, ou tinham crescido o suficiente para eu nao reconhecer qual primo ou prima é quem. Aquela menina é minha prima Eloisa, ou mais um menino que nasceu durante meus anos de ausencia? Sao muitas mudanças! Emanuelle, com quem eu costumava brincar quando ainda frequentava aquele lugar e uma das unicas pessoas que realmente reconheci de cara, estava com cara de nojo, mexendo no celular, e dando risadinhas para ele, e me tratou como se nao soubesse quem eu era quando fui cumprimenta-la, sem tirar os olhos do aparelho, praticamente. Além disso,  o lugar tinha mudado, agora tinha estábulos para os cavalos, e o dobro deles. Se tem uma coisa que eu sentia saudades, eram os cavalos. Eu amava correr por ai e apostar corridas com o meu pai. Obviamente ele sempre me deixava ganhar, mas era muito bom a sensação de ser boa em alguma coisa. Encilhando dois deles, encontravam-se os gêmeos, Bruno e Jonatas. Eu me lembro deles, nunca brincamos muito, sabe, por mais que fossem irmãos de Emanuelle, mas sempre estavam por perto na hora do almoço, na mesa das crianças. Um deles sempre foi muito mais gentil que o outro, só nao conseguia me lembrar qual, o outro sempre teve um ar de que estava constantemente bravo. Agora crescidos, tinham tomado forma, e ficado nitidamente mais bonitos, embora que por alguns segundos, eu nao tenha conseguido decidir qual estava mais. 

Como os olhei de longe, e eles nem sequer estavam olhando em minha direção, passei reto e cumprimentei o resto das pessoas. Como disse antes, metade das pessoas haviam mudado muito, e a outra metade eu nem sequer conhecia, algumas mulheres chiques demais para estarem em uma fazenda, e outros homens corpulentos, eu nem sequer havia visto na vida, e ainda tinham crianças que me faziam duvidar se eram da mesma familia que a minha. Supus que algumas dessas mulheres e homens, fossem agora casadas com alguns tios e tias solteroes, e as crianças filhos deles. Era obvio na verdade, visto pelos beijos e abraços. Até fui apresentada ha alguma delas. Sempre soube que a minha familia por parte de pai era grande, mas agora estava extremamente maior. 

Depois de fazer a minha parte e cumprimentar todos com um sorriso no rosto, o que eu poderia fazer ali se limitou a ficar sentada dentro de casa vendo TV, que passava o Datena gritando tragedias, e nao tinha o controle a vista para mudar o canal. Algumas pessoas que passavam por onde eu estava, apenas falavam para eu aproveitar o dia lindo que estava fazendo lá fora, sem saber que eu nao tinha literalmente nada de melhor para fazer, e quando a opçao de assistir o Datena gritando se torna melhor do que a outra disponivel, é porque a situação realmente nao é boa. Pelo menos era melhor ficar sentada fingindo estar entretida, do que no meio de muitas pessoas realmente entretidas demais com o que estao fazendo para parar  e fazer uma conversa social com voce. Mas os questionamentos estavam realmente começando a me constranger, dando a entender que eu deveria estar socializando com a familia e nao enfiada dentro de casa, e me senti obrigada a sair. 

Entre GêmeosOnde histórias criam vida. Descubra agora