Cartas Nunca Entregues

CARTA AO MEU PASSADO 003

DESTINATÁRIO:
a eu um ano depois da primeira decepção.

Querida eu que se decepcionou,

      Conseguiu perceber o quanto cresceu com tudo o que doeu aí no peito? Percebeu o quanto essas coisas ruins foram boas pra você? Essa traição irá te transformar, pouco a pouco, nos próximos anos. Você não perdeu uma amiga e um amor, não. Pelo contrário. Você ganhou uma experiência que levará para o resto da sua vida e que irá apelidar carinhosamente como: regra de três.

      Depois que isso aconteceu, você mudou de escola, não viu essas pessoas por um ano e conheceu pessoas novas. Fez novas amizades. Tudo mudou. Nessa nova escola, você começou a ter medo de ser magoada novamente, por isso começou a se prevenir do seu jeito. Criou essa regra – inclusive gostaria de agradecer, porque ainda funciona magnificamente bem – para conseguir ter o mínimo de controle da sua vida. Afinal, sabemos que por mais que possamos tentar, é impossível termos o controle total de nossas vidas.

      Voltou a confiar nas pessoas. Voltou a dar chances a elas. Acontece que nem todas mereceram. Lembro como hoje da primeira vez que a regra foi aplicada, logo após essa decepção. Doze anos atrás, você começou a usa-la em tudo na sua vida, sem ao menos saber. Só ao escrever essa carta, agora, doze anos depois, consegui dar um apelido para o que construímos. Vou te contar como você transformou essa decepção em aprendizado, e cresceu tanto a ponto de conseguir confiar e perdoar como antes.

      Alguém se tornava importante. Ok. Vocês criavam algum tipo de vínculo, você se importava e até podia chegar a amar, mas aí, esse alguém magoava você. Não importava de qual maneira, mas doía, você sentia. Então, perdoava. De coração. Mesmo que a pessoa não te pedisse perdão, dava uma segunda chance para ela. E ela te quebrava uma terceira vez... e aí, já era. Era perda total. Da confiança, do afeto, da importância e, do seu coração. Você tirava esse alguém da sua vida porque quem realmente merece estar ao seu lado, pode pisar na bola duas vezes, mas não três. Três é demais. E fez isso pelos próximos doze anos, até hoje, escrevendo, chamar de regra de três.

      Queria te dizer que funcionou. Te possibilitou ter uma mente mais saudável e um coração menos machucado, magoado, amargurado. Te livrou de muita gente que, algumas vezes, pensou ter deixado escapar cedo demais, e depois mostrou que você fez a escolha certa. Você criou uma bela regra. Obrigada por transformar algo tão ruim, em uma característica sua para lidar com as pessoas que passaram e passarão pela sua vida – pela nossa vida – e insistem em machucar, mesmo tendo tanta coisa melhor para aproveitar. Obrigada por ter criado algo que é, sem dúvidas, sua maior força. Obrigada por ter, pela primeira vez, aprendido com as decepções que a vida te deu, e crescido um pouco com a nova experiência.

Com amor, 
a você que prova, diariamente, 
que a regra sempre funciona.