Um

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Marie Mackenzie,

Ontem fiz dezesseis anos, no orfanato ninguém nunca lembra então já estou acostumada, mas como todos os anos eu fui para o jardim de noite e chorei por horas até o cansaço me atingir.

Mas, agora eu estava guardando meus livros no armário, quando fui chamada na sala da diretora, as novas amigas de Anny riram já imaginando que eu ia levar bronca, ajeitei o uniforme do orfanato e segui até a sala dela, dei duas batidas na porta e fui autorizada entrar.

Ao passar pela porta, minha atenção foi toda para um homem que estava sentado, após a diretora falar meu nome ele se levantou, sua bunda marcada na calça social foi o alvo da minha atenção, mas olhei para a diretora que falou novamente meu nome mandando eu sentar.

— Aconteceu alguma coisa, diretora?
— Sim, aconteceu. Precisamos conversar, Mackenzie.

Ela nunca nos chama pelo nome, isso meio que faz tudo ficar formal demais e tenso, olhei para o homem que estava de pé, as mangas da sua camisa social estavam dobradas até seu cotovelo, os primeiros botões da camisa estavam abertos mostrando um pouco o seu peitoral, seus olhos eram uma cor confusa parecia verde misturado com cinza então não sei definir de fato a cor, mas esses olhos me pareciam bem familiar.

Seu cabelo era preto como carvão, até pareciam brilhar no topete perfeito e alinhado. Sua boca era de um rosado forte e também carnuda, a barba estava alinhada porém precisava ser feita, sua sobrancelha grossa estava feita e até senti um pouco de inveja, sinceramente esse homem é lindo.

— Diretora, eu não quero ser mal educada. Mas não entendo o porquê estou aqui, ainda mais na frente desse homem estranho.
— Mackenzie, eu sei que está parecendo confuso agora. Mas logo você irá entender, vou explicar tudo e serei direta.
— E, então?
— Este é Damon, o seu tutor legal. Ele veio buscá-la!

Meu olhar foi intercalado da diretora para o homem ali parado de braços cruzados, mas é óbvio que ele era o Damon, fiquei até surpresa por não ter reconhecido o meu meio irmão, afinal os olhos dele continuam com a mesma intensidade.

— Damon!

Falei o nome dele dando risada, a diretora olhou para mim com a testa franzida, já ele não mudou sua expressão. Eu levantei da cadeira, coloquei minhas mãos sobre a mesa e olhei diretamente nos olhos da diretora Cristina.

— Este homem não é o meu tutor, muito menos é o Damon. Porque o meu meio irmão, para mim, ele está morto.

Falei tudo na maior calma, então olhei para ele que ainda estava do mesmo modo, a diretora respirou fundo e colocou sua mão sobre a minha.

— Mackenzie, não torne as coisas difíceis, ele é seu irmão.
— Diretora, nos deixe sozinhos por um minuto.

Damon estava com a voz grossa e firme, ele não pediu por favor muito menos olhou para ela, mas mesmo assim a diretora confirmou com um aceno de cabeça e saiu da sala. Eu me endireitei e cruzei os braços, encarei Damon que ainda olhava para mim do mesmo modo, começamos uma competição de olhares até que ele desistiu, ele sempre desiste.

— Marie..
— Você achou mesmo que eu ia tornar tudo fácil, Damon?
— Me escuta, Marie.
— Te escutar? Para que? Para você dizer mentiras, Damon? Se for isso, então eu passo.
— Eu não podia fazer nada naquela época, éramos crianças. Como eu ia relutar contra nossos tios, sendo que eu só tinha doze anos?
— Não sei, Damon. Porém, você prometeu que ia cuidar de mim, que iria me proteger e na primeira oportunidade você me deixou.
— Eu sei que foi difícil para você, mas..
—Não, você não sabe o quão difícil foi para mim. Não faz ideia do que passei, do que tive que suportar calada, minha vida foi um inferno desde que você me deixou. Agora após anos, acha que pode vir aqui e agir como se nada tivesse acontecido.
— Marie, eu vim te buscar e você vai embora comigo, querendo ou não, agora vá buscar suas coisas.
— Você não manda em mim, Damon.
— Eu sou o seu tutor, portanto à partir de agora eu mando em você.
— Quer saber, você deveria ter morrido junto com os meus pais.

meu tutorOnde histórias criam vida. Descubra agora