Uma série, uma vida - nem tão distantes

2.

A única coisa que Tarjei fez o resto da semana foi comer e dormir, porque não queria pensar nos testes que seriam na terça à noite. E assim a sexta-feira seria mais um dia como qualquer outro, até que Tarjei recebeu uma ligação que não teria hora pior para aparecer. Era Lisa (Eva) e não atendê-la era o mesmo que chamá-la para sua casa, porque ela ficava eufórica e acabava indo para a casa da pessoa sem ser convidada. Tarjei queria menos ainda que ela fosse até lá, então atendeu.

- Alô?

- Oiii, como vai, sumido? A gente te manda mensagem e você nunca vê; já fizemos umas duas festinhas sem você.

- É... que pena.

- Por que você está com a voz de quem acabou de acordar e nem saiu da cama?

- Porque é justamente isso que aconteceu. - disse Tarjei bocejando.

- TARJEI!!! São duas horas da tarde de uma SEXTA FEIRA!!!! E os testes para o novo personagem da SUA temporada serão semana que vem!! Você deveria estar animado.

- Eu já falei para meio mundo que eu. estou. animado. Agora será que eu não posso nem descansar um pouco? - a nova menção dos testes deixou Tarjei ainda mais desconcertado. Parecia que o elenco inteiro sabia... e se eles estivessem lá? Ótimo. Mais uma coisa para se preocupar.

- A última coisa que eu vou fazer hoje é te deixar descansar, então se você não quer que eu vá até a sua casa para te arrancar da cama; você vai prometer que vai à festa de hoje. Isso é uma ordem.

- Ah Lisa... não faz isso não. Eu não estou muito na vibe de festa hoje...

- Você. Vai. E pronto. 20:00 na minha casa. - e assim ela simplesmente desligou. O pior era que ele sabia que ela falava sério. Seria atormentado até a morte se não fosse a essa festa. Mas ainda faltavam seis horas... ele poderia dormir mais um pouco. Virou para o outro lado e cochilou de novo, sem nenhum peso na consciência de estar passando mais tempo dormindo do que acordado.

Um tempo depois, Tarjei acordou por conta própria, mas provavelmente porque seu corpo não estava aguentando mais dormir. Pegou e celular e se assustou: eram quase 20:00 e haviam 7 ligações perdidas e 26 mensagens de Lisa. Nem abriu-as, só pulou da cama e tomou o banho mais rápido de sua vida. Colocou a primeira roupa social que viu pela frente e enquanto escovava os dentes chamou um táxi. Quando desceu, esperou uns dois minutos por sua chegada, e viu que já eram 20:15.

Ao chegar, notou que a casa de Lisa estava normal por fora, mas ouvia os gritos e a música alta e via as luzes de dentro. Não queria entrar lá... mas antes que pudesse decidir entre entrar ou ir embora, Lisa em pessoa saiu da casa e veio ao encontro de Tarjei. Ela não estava bêbada, mas por pouco.

- Olá... que bom que veio. - e colocou um copo de alguma bebida na mão dele. - Divirta-se. Espero que encontre uma garota legal, porque... pensando bem, você anda meio encalhado. - Ótimo. Doce como um limão.

Lisa estava quase se jogando no pescoço do amigo para se apoiar, mas pegou sua mão e o empurrou para dentro da confusão de pessoas que estavam ali dentro. Tarjei começou esbarrando em pelo menos vinte pessoas, que estavam animadas demais para se importar, mas conseguiu arrumar um canto vazio para ficar.

Ficou ali encostado na parede, bebendo aos poucos o que Lisa colocara em sua mão. Fechou os olhos em um momento, imaginando quem seria o ator que contracenaria com ele... quando uma mão tocou seu ombro.

- Olá... - era uma garota que ele nunca vira na vida. Ela estava claramente bêbada, e a festa mal havia começado. Ela abraçou Tarjei com um braço enquanto virava o copo na boca com a outra mão. - Está sozinho?

- Sim, mas eu namoro. - Tarjei notou como sua mentira saíra nada convincente, mas a bebida não deixou a garota notar isso.

- E daí? Se ela não está aqui nem vai saber... - a garota largou o copo e tentou beijá-lo, mas ele se afastou com facilidade.

- Sou fiel à ela. Desculpe-me mas... - mas a garota já saíra andando trôpega como se nada tivesse acontecido. Ela nem lembraria daquilo, com sorte.

Com mais meia hora de festa, Tarjei já havia bebido uns quatro copos e o salão começava a girar. Quando pegou o quinto copo no bar, Josefine se aproximou dele:

- Tarjei! Não sabia que viria - ela o abraçou, mesmo um pouco bêbada ainda era fofa, mas ele não conseguiu retribuir o abraço porque seu corpo estava pesado.

- Ooi... - ele falou bem baixo, deitando a cabeça no ombro dela sem perceber o que estava fazendo. Josefine notou que ele não queria nada com ela, só estava chapado o suficiente para não aguentar nem segurar a própria cabeça.

- Quer ir para casa? Eu te levo. - disse ela gentilmente.

- Não vou estragar sua festa... vamos ficar aqui mesmo. - ela soltou uma risada descontraída, triste e engraçada ao mesmo tempo.

- Você não está estragando minha festa, querido Tarjei. Outra pessoa se deu o trabalho de fazer isso. Quer ir? Não quero mais ficar aqui também.

- Então está bem.. - e assim eles seguiram juntos para fora da casa de Lisa.

Ninguém notou a saída dos dois porque a festa estava cheia demais. Josefine estava com seu carro, e estava sóbria o suficiente para dirigir, então Tarjei foi com ela; mas dormiu logo que entrou no carro. A garota pegou o caminho mais longo para ver as luzes do parque. Estavam lindas... e a lembravam de algo que ela não queria lembrar. Depois de quinze minutos, estacionou na frente da casa de Tarjei e o acordou. Ele já estava bem melhor pelo pouco que dormira, então disse:

- Quer entrar? Vamos conversar um pouco - ela hesitou. - Não vou tentar nada com você. Vamos conversar como amigos. - Isso já era óbvio, mas ela estava vulnerável naquele momento e apesar de não saber o porquê, Tarjei notou.

Josefine acabou concordando, e eles entraram na casa dele fugindo do frio do céu estrelado.