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O celular de Tarjei quase se quebrou ao ser jogado no sofá da sala e não cair no chão por pouco. Ele estava confuso; mais que isso: perturbado. Quem era aquele garoto!? Como podia ser tão perfeito para o papel? POR QUE causara tudo aquilo em Tarjei?!? Isak iria se apaixonar... mas havia algo errado ali. Não. Tarjei se recusava.

O jovem foi até à cozinha e preparou um macarrão porque cozinhar o acalmava. Acabou errando um pouco na quantidade de sal, já que sua mente estava vagando em outro lugar... desistindo de ser útil ou fazer algo que desse certo, pegou o celular rejeitado e viu várias mensagens de Josefine. Nesse momento, ela ligou para ele. Decidido a não guardar mais aquela dúvida sufocante, atendeu:

- Alô?

- Tarjei... já chegou dos testes? Como foi? Queria saber o que... - ele interrompeu a garota, e não ligava que sua voz soava suplicante.

- Josefine, você poderia vir até minha casa?

- É... claro. Agora?

- Sim. Quero conversar com alguém... que eu confio.

- Huuum, acho que eu entendi. Obrigada por confiar em mim, estarei aí em cinco minutos.Exatos cincos minutos depois, a campainha tocava. Tarjei correu como um louco, abriu a porta, e deixou uma Josefine sorridente entrar. Assim que ela deixou sua bolsa no chão, Tarjei a abraçou com força, talvez pulando em seu pescoço; sem que nenhum dos dois dissesse nada. Ela apenas colocou seus braços em volta dele, deixando que ele aliviasse suas dores e angústias; porque ela entendia sobre isso. E sabia o quanto a incerteza doía.

Um tempo depois, eles desfizeram o abraço e Josefine pegou uma das mãos de Tarjei, olhando dentro de seus olhos, tão fundo como que vendo sua alma.

- Quer contar o que aconteceu? - ela perguntou suavemente. Ele assentiu, e assim os amigos sentaram-se no sofá; Tarjei martelando em como contaria o que estava sentindo para ela. Nem mesmo ele próprio entendia muito bem. No começo, as palavras saíram travadas e difíceis, mas logo ele as despejava, simplesmente tentando arrancar de seu coração o que elas lhe traziam.

- Eu... estava preocupado no início. Quando Julie me disse que o Isak ia se apaixonar por um GAROTO, eu achei que tudo estava perdido. E eu fui naqueles testes malditos pensando que eu falharia nas cenas do Isak e do Even só de olhar para quem quer que fosse que conseguisse o papel. Mas Josefine... foi pior. Bem pior. Aquele garoto que conseguiu o papel... ele não era como os outros, e não fui só eu que notei isso. Todas as pessoas queriam que ele fosse o Even, porque parece que aquele Deus grego NASCEU para ser o Even. Tudo nele se encaixa, e...

- Espera! - Josefine interrompeu-o, rindo um pouco. Ela estava toda sensibilizada por tudo que ele estava contando, mas Tarjei Sandvick Moe era PÉSSIMO em esconder as coisas. E ela era ótima em percebê-las. Ele parou subitamente e olhou-a. - Você percebeu o que acabou de dizer?

- Eu estava contando sobre os testes que acabaram com a minha vida quando você me interrompeu.

- Não. Não é isso. Você disse: "Deus grego". Eu ouvi perfeitamente e sei que meu amiguinho aqui não sabe esconder o que sente muito bem.

- Eu fiz o quê!? Eu não disse isso. Nunca diria isso. - ele sabia que havia dito na verdade, mas não sabia como deixara aquilo escapar.

- Aaah disse sim! Eu ouvi bem. E está tudo bem, ok? Tudo bem achar um garoto bonito. Mesmo sendo um garoto também. Eu acho garotas bonitas o tempo todo, não há problema nenhum nisso.

- Mas sua personagem não vai ter que se apaixonar por elas!

- Então admite que disse o que eu ouvi? - Josefine provocou. Tarjei sentiu até suas orelhas queimarem, então desviou o rosto.

- Tá bem... eu disse. Mas é que... ele...

- Ele é lindo e você está com medo de acabar sentindo algo pelo ator quando na verdade são os personagens, apenas, que deveriam se gostar.

Tarjei ficou perplexo. Ela resumira o que apertava seu coração melhor do que ele seria capaz. Era exatamente aquilo... mas parecia tão ridículo quando verbalizado.

- É, mas... isso não é possível. É uma ideia louca que eu coloquei na minha cabeça... e não pode acontecer. NÃO PODE! - Tarjei elevou a voz ao se levantar e colocar as mãos na cabeça. Estava realmente mal. Dentro de sua mente, nada fazia sentido. Nunca havia achado um garoto bonito antes; nunca havia sequer notado se eles eram bonitos ou não. Não fazia questão de reparar neles... e agora, isso estava acontecendo.

- Olha só, amigo. - Josefine também levantou, séria e decidida. Havia algo em seus olhos que quase soltava faíscas. - Acho muito complicado você estar gostando dele. É difícil alguém gostar de outra pessoa sem mal conhecê-la, além disso vocês só se viram uma vez. Pelo que eu sei, você nunca demonstrou interesse por outros rapazes, e eu acho...

- JOSEFINE! Olha para mim. Eu. Não sou. Homossexual, ok!?!? - ele tratou aquela simples frase da amiga como uma ofensa, e assim ela se irritou ainda mais.

- É exatamente isso que eu ia dizer. O seu preconceito, Tarjei, é o problema. E daí se você for? Qual é, especificamente, o problema em gostar de pessoas do mesmo gênero? Não há nada demais.

Ele ficou parado, olhando para o chão, com uma expressão de raiva deformando seu rosto. Não queria aceitar, mas para ele não era preconceito.

- Eu não sou gay, Josefine, porque eu nunca me interessei por favor nenhum rapaz antes. Nunca. E você já está dizendo que eu sou, só porque eu o achei bonito?

- Em primeiro lugar, não sou eu que estou dizendo. VOCÊ estava com medo de estar gostando dele. Segundo, talvez você nunca tenha tido interesse antes, porque não considerava isso. Você nunca se deu a chance de descobrir. E isso está te transtornando tanto por dois motivos: você não aceita a possibilidade de que possa ser gay, bi, ou o que for; e como você barrou inconscientemente essa ideia todo esse tempo, agora que pela primeira vez você achou um garoto bonito, você tem medo de tentar. Tentar para ver se isso mesmo que você é. E se não for, tudo bem também. Mas nós, Tarjei, vivemos uma vez só. E se não soubermos nem mesmo quem somos... qual o nosso propósito?

- Tá bem. - foi tudo o que ele respondeu, mas sua cabeça estava a mil.

- Então... eu vou te deixar pensando. Qualquer coisa me ligue, ok? - ela o fez sentar novamente no sofá e foi embora. Deixá-lo despir suas próprias camadas como pessoa, e descobrir o que o estaria aguardando em sua alma e coração; era importante. E assim Tarjei ficou quase dez minutos pensando sobre aquilo. No fim, com os olhos ardendo de pouco piscar, e a cabeça dolorida, ele chegou à uma conclusão: permitiria-se tentar. E esperava uma resposta para a pergunta que nunca se calava: O que estava sentindo?

Uma série, uma vida - nem tão distantesOnde histórias criam vida. Descubra agora