🎶Playlist Um - Capítulo Um🎶

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— E é por isso que não se deve nunca, jamais, tentar andar de bicicleta apenas com uma mão.

A professora parecia um pouco distraída em sua mesa, olhando ansiosamente pela janela, mas assim que ouviu as palmas desanimadas vindas dos alunos, ela rapidamente deu um leve sorriso forçado, e disse:

— Obrigada, Sarah, pela sua história... encorajadora — ela havia demorado para encontrar a última palavra, mas Sarah parecia não ter percebido.

A professora se levantou de sua mesa e foi até o armário, de onde pegou um pote de vidro decorado com adesivos da Barbie, cheio de pequenos papeis brancos dobrados desleixadamente.

Claro, você deve imaginar essa cena de um jeito bem rápido, durando 5 segundos no máximo, mas na minha cabeça ela estava durando horas e horas. Eu não queria ser sorteado, eu não podia ser sorteado.

Ela pegou o papel – depois do que parecia ser uma eternidade – e finalmente abriu-o.

— Nicolas! — ela disse com um sorriso esperançoso no rosto, e eu senti meu estômago se embrulhar. Basicamente, eu precisava ter feito um trabalho sobre um momento muito marcante na minha vida, mas o único momento marcante que veio na minha cabeça foi o daquele dia, e eu jamais iria falar sobre ele na frente de toda uma sala. E infelizmente, quando eu menos percebi, o prazo para o trabalho havia acabado e eu estava com um belo 0 destinado à ser marcado em uma tinta vermelha-fluorescente no meu boletim.

E não, o pior não era eu não ter feito o trabalho. O pior era que eu havia quebrado uma promessa.

Não é surpresa para nenhum professor que eu não sou o melhor dos alunos, mas eu sempre tentei manter a minha média razoável, pelo menos. Porém, algumas semanas atrás, as minhas notas caíram e muito. Fui chamado por cada um dos professores em particular, e todos eles falaram que era normal que minha média caísse, por conta da minha "situação familiar".

Exceto a senhora Daisy. Ela me chamou em particular assim como todos os outros, porém me fez jurar que, independentemente do meu problema familiar, eu iria recuperar as notas perdidas. E eu prometi, afinal, eu não queria ter que repetir de ano. E também, eu concordava com ela — em partes.

A senhora Daisy passou mais deveres de casa para que eu pudesse obter mais pontos – o que deixou a grande maioria da turma extremamente decepcionados –, e disse que passaria um trabalho para me ajudar.

E eu simplesmente joguei tudo isso para o alto.

Não fiz os deveres de casa por falta de motivação, e também não fiz o trabalho.

Assim que viu a minha mesa vazia e a expressão do meu rosto, o sorriso da senhora Daisy foi vacilando aos poucos, até o que me pareceu - apenas por um segundo - uma expressão de decepção.

— Venha na minha mesa depois da aula, senhor Ferrara. — ela disse com uma voz severa, que me fez engolir em seco.

×

O sinal havia tocado, e todos foram embora o mais rápido possível. Exceto eu, claro.

Fui andando o mais devagar possível para a mesa dela, seu rosto estava inexpressivo.

— Nicolas, não posso mentir dizendo que não estou desapontada, pois eu estou - à medida que ela foi dizendo aquelas palavras, eu fui me encolhendo. — Eu realmente achei que você cumpriria a promessa de não deixar sua situação familiar atrapalhar em seus estudos, mas eu me equivoquei um pouco.

Quando ela disse aquilo, eu senti meus olhos se encherem d'água, me sentindo completamente mal. Ela deve ter percebido que eu fiquei abalado, porque rapidamente continuou falando.

— Mas isso não quer dizer que eu tenha perdido a esperança em você. Eu sabia que você poderia não se dar bem tendo que depender apenas de você mesmo, por isso, eu preparei um plano B. Você está disposto a ouvi-lo?

Será que eu estava pronto? Ela poderia muito bem me mandar fazer provas extras e acabar com a minha inexistente vida social. Mas que escolha eu tenho?

Suspirei e assenti, sem saber aonde estava me metendo.

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