Ok, foi uma péssima ideia ter concordado com o plano B da senhora Daisy. Uma ideia horrível.
- Nicolas, você está prestando atenção no que eu estou dizendo? - disse Sarah, enquanto caminhávamos juntos até sua casa.
- Claro. - respondi, mesmo sabendo que essa seria a maior mentira que eu contaria no dia.
Ela me encarou - com aqueles olhos escuros e assassinos, da maneira mais assustadora possível -, como se fosse capaz de me cortar ao meio apenas com um pensamento.
- Enfim - ela continuou. - Os encontros do clube do livro acontecem todo sábado, das três às seis horas da tarde, e toda quarta, das seis às sete horas da noite. Entendeu?
- Uhum - respondi, distraído com uma criança que havia caído ali perto. Tive que fazer força para segurar o riso. Sarah pareceu não notar a - incrível - queda e, se notou, não demonstrou reação alguma.
Caminhamos por mais algum tempo, passando por casas de todas as cores, formas e tamanhos, uma mais estranha do que a outra. Me perguntei se as casas eram tão esquisitas por dentro quanto eram por fora.
- Chegamos - disse ela, e paramos na frente de uma casa um pouco... chamativa. A casa de Sarah tinha o telhado de um laranja‐fluorescente, e as paredes do lado de fora azul-escuras com uma enorme porta amarela destacada na casa - como se a casa em si já não fosse um grande destaque.
- Eu sei que você quer rir. Ela é estranha, mesmo. - disse Sarah.
- Estranha não seria a palavra que eu usaria. - disse eu. - Estaria mais para... peculiar.
Ela riu.
×
A casa de Sarah era um pouco mais normal por dentro, com uma sala de estar aconchegante e uma cozinha do lado, para que ninguém que esteja vendo TV na sala tenha que andar muito para conseguir comida. A sala tinha três sofás, com uma mesa de madeira branca no centro e uma televisão relativamente grande, onde um programa da Disney passava, apesar de estar lutado.
E, sentada no sofá, mexendo em seu celular, havia uma garota. Com lindos cabelos pretos presos em um rabo de cavalo alto, Tiffany Huang estava sentada na ponta do sofá, com as pernas cruzadas e vestida em seu típico vestido rosa-bebê.
- Largue o celular, Tiffany - disse Sarah, e Tiffany se levantou em um salto.
- E isso são modos de se falar com alguém, Berry? - disse Huang. Ela estava vermelha, não sei se de raiva ou de vergonha por ter se assustado daquele jeito. - Onde já se viu, chegar silenciosamente desse jeito e me chamar como se já estivesse aí há eras. Isso não é coisa que se faça.
- A sua cara no final valeu mais a pena do que qualquer outra coisa - disse Sarah. - Não é mesmo, Ferrara?
E, como se um interruptor tivesse sido ligado em sua mente, Tiffany finalmente pareceu me notar. Ela começou a andar na minha direção, e só parou quando seu nariz estava quase se encostando com o meu.
- Eu conheço você de algum lugar... - disse ela.
- Aula de história - foi tudo o que eu disse. - Eu sento atrás de você.
Ela me encarou com os olhos semicerrados, um olhar que me fez engolir em seco. Era como se ela fosse Maat, prestes a pesar meu coração contra a pena no julgamento dos mortos.
- E o que ele está fazendo aqui - perguntou ela à Sarah. - Não me diga que ele é mais um de seus casinhos de um dia...
- O quê? Claro que não! - Sarah parecia indignada, o que me magoou um pouco, não vou mentir. - Esse daí não faz o meu tipo nem se for o último homem da terra. Não, ele está aqui para o clube do livro.
- Clube do livro? - ela me encarou de novo, de um jeito que me deu calafrios. - Você é do tipo que lê?
- Hm... Não. - respondi. Na verdade, eu estava ali porque havia feito um trato com a senhora Daisy de que, caso eu me desse bem no clube do livro, ela me daria os pontos de que eu precisava. Mas eu decidi não falar nada disso, afinal, Tiffany Huang tinha o poder de intimidar qualquer um ao seu redor, e isso estava funcionando perfeitamente comigo. - É uma longa história.
- Sei - disse, seca. Ela se virou para Sarah rapidamente. - Você sabe quando as outras meninas vão chegar? Francamente, elas estão sempre atrasadas.
E, neste exato momento, a campainha tocou, como se o universo tivesse atendido ao seu pedido.
Sarah correu para atender a porta e, de repente, duas garotas estavam paradas do lado de fora. Uma delas tinha a pele escura, os olhos castanho-claros combinando perfeitamente com o tom de sua pele. Seus cabelos eram castanho-escuros, pintados de azul nas pontas, e cortados um pouco acima do ombro; ela possuía um leve risco na sobrancelha, que você só perceberia se olhasse por um bom tempo para seu rosto - exatamente como eu estava fazendo. Ela usava um short jeans rasgado em algumas partes, uma regata preta, sem estampa alguma, e uma camisa quadriculada azul por cima.
Ao seu lado, havia uma outra menina, um pouco mais baixa do que ela. A menina tinha cabelos loiros quase brancos, presos em uma trança mal feita. Usando um suéter azul-bebê e uma calça jeans, ela me lembrou um pouco da Luna Lovegood, de Harry Potter.
- Finalmente! - disse Tiffany. - Achei que vocês demorariam mais uma enternidade para chegar.
- Não demoramos tanto assim, Tiffany. - disse a menina loira. - E nos dê um desconto, Charlie quase não conseguiu sair de casa...
- Leah. - repreendeu-a a menina de cabelo azul.
- Desculpe, desculpe. - disse Leah. - Enfim, o que importa é que chegamos. E... quem é você?
Parece que eu finalmente havia sido notado.
- Nicolas. É uma longa história, mas eu vou fazer parte desse clube do livro agora.
Leah sorriu de ponta a ponta, como se essa tivesse sido a melhor notícia de seu dia.
- Ótimo! - disse ela. - Eu adoro longas histórias.
Alguém colocou a mão no meu ombro.
- Você devia se sentar, Nicolas. - disse Sarah, atrás de mim. - Porque Leah não vai descansar enquanto não ouvir toda a história. E nem eu.
Respirei fundo.
Essa seria uma tarde longa.
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Playlist de Histórias
FanfictionE se suas músicas saíssem da sua playlist e viessem parar em uma história? iniciada: 12/2/19 reescrita: ... terminada: ...