Por Favor, F.L.O.R.E.S.Ç.A !

Outono

43.
As quedas das folhas significam o passar das estações.
E as minhas folhas estão todas no chão.
E no desenrolar da nossa estação.
Você mudou.
Você foi outono.

44.
Nós éramos quentes.
Ferventes.
Acesos.
Quando foi que nos tornamos secos,
Apagados,
Frescos ?

45.
Nos tornamos instáveis. Ora quentes. Ora frios como neve. Nos tornamos furacões nervosos que traziam a ira de Zeus, mas no tornamos fim de tarde vazio, sem o cheiro do café ou o quente do corpo que ilumina o dia. Nos tornamos ventanias e nevoeiros que assustam as árvores e as fazem chorar folhas até se esvaziarem de dor. De seco. Nos tornamos pequenos, e costumávamos possuir altura. Formosura. Beleza. Então, o que é nos tornamos agora ?

46.
Você brilhou tanto em mim.
E sinto ter usado o passado nisso.

47.
O seu jeito está sujeito a mudança.
Meu peito está sujeito a mudar.
De você.

48.
Você me trazia flores.
E depois, hálitos agressivos regados a vodka.
Você me trazia paz.
E depois, gritos agonizantes e assustadores que me forçavam a ser invisível.
Você me trazia brilho.
E depois, me apagava cada soco que proferia contra minha capacidade.
Contra meu ego.
Contra meu rosto.
Nós costumávamos ser um casal.
E depois, eu deixei a você porque precisava ficar viva.
E você não tinha isso.

49.
Você gostava das minhas flores.
Mas não das minhas raízes.
O Outono trouxe a verdade.
E você não conseguiu mais enganar a ninguém.
A beleza é teu signo.
E seu ascendente é a incerteza.

50.
A alma da terra fica exposta quando o amarelo do céu escorrega nas folhas.

51.
É necessário respeitar meu próprio tempo.
Minha própria desconstrução.
Agora não é a hora de florescer.
E tá tudo bem.

Dentro de mim, há um lugar onde eu construo e desconstruo memoriais quase que constante e simultaneamente. A cada memorial quebrado outro cresce no lugar, por exemplo agora. Agora eu estou quebrando o memorial da insegurança. E construindo um da coragem porque estou falando com você através desse livro. Isso se deve as minhas mudanças e evoluções. Eu cansei de ficar me culpando por atitudes passadas. Eu não tinha a maturidade que tenho hoje. Então eu desconstruo e faço outro. Do zero. E assim sigo. Esses memoriais são construídos por agentes que eu chamo de segundos. Porque basta segundos pra que eu tome uma decisão que destrua algo e faça outra coisa. Basta 10 segundo de coragem pra mudar uma vida ou acabar com ela. Basta apenas segundos. Milésimos. O que você quiser chamar. Assim, eu explico a você que eu sou outra depois da página 45. E uma outra antes da página 21. Não se acomode a viver em um terreno com a mesma cara sempre. Meu cantinho dos memoriais está sempre em uma constante obra. E ela não vai acabar até que meu último batimento chegue.

52.
Quem é você e porque está morando no meu reflexo ?
-Crise de identidade.

53.
Você era incrível pra mim. Eu podia chamar de casa e correr pra me esconder da chuva. Mas, eu não sei mas te chamar. Eu assisti você mudar e lutar por alguém ou algo que já não era mais nós dois. Vi teu peito se encher e já não era mais das flores que eu plantei a você. Vi teu olho brilhar e já não era mais com meu riso. Eu não podia mais insistir. Tinha acabado. E só eu não sabia.

54.
Segunda ela estava de cabelo liso.
Terça tranças ocupavam sua cabeça.
Na quarta ela me deu bom dia com cachos castanhos.
Na quinta, ela estava com um cabelo tão curto quanto minha paciência.
Na sexta, sua careca brilhou mais que teu sorriso.
Ela mudou.
E não era do cabelo que eu estava falando.