Inverno

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91.
Era inverno e a neve caia. Eu escrevi um espetáculo pra você, só pra que pudéssemos adiar o frio que tinha lá fora. Eu escrevi o roteiro, ajeitei as luzes, os microfones, posicionei você e arrumei o cenário do espetáculo. Eu entreguei o roteiro nas suas mãos, você repassou cada fala da peça em que eu idealizei você, tu disse cada coisa da qual eu queria ouvir e encanetei nos versos das falas... Mas você não quis o papel principal do espetáculo que eu me forcei a acreditar que era real, mas não é. As suas falas eram ditas por mim. Teus gestos, entradas e saídas foi somente vivido por mim. Nesse espetáculo eu atuei sozinha. Não tinha ninguém pra aplaudir o fim, porque ele não existia, sabe por que? porque fui eu quem dirigi, atuei, apresentei e assisti. Só eu. Ninguém é obrigado a vê-lo também não é? Eu sai do palco e vaguei por cadeiras e cadeiras procurando por você. Vaguei no nevoeiro que caia com o engrossar da neve, e rodei tudo mas não achei você. Esse tempo todo eu não pude perceber que estava frio de mais e alto demais e você estava aquecido e estava tão baixo que não conseguia ouvir meu gritos pra você. Foram gritos no silencio, que ecoavam mas nunca chegaram ai. As cortinas se fecharam agora. E eu não sei o que fazer. Um monólogo? Fechar o espetáculo e colocar a culpa no frio que impedia que as pessoas saíssem de casa pra ver? Eu te vi escapar por entre os vãos dos meus dedos, tentei te pegar na caída diversas vezes... Mas a tua vontade de ir fazia parte de você. E isso foi a única coisa que fazia parte de você, e não do roteiro que eu escrevi. Todo o resto fez parte dele, que gritava de tal maneira que eu não percebi que havia perdido você na primeira cena. Não tinha rubrica. Então, o que é que eu faço com todo esse espetáculo ?
- Espetáculo de inverno.

92.
E no início do inverno,
Senti falta do verão que você fez em mim.

93.
Inverno, o inferno em que eu perdi você.

94.
Haviam corpos trêmulos ao chão.
Alguns tão paralisados quanto aos corações,
Que já não batiam mais.
Ao fundo, o som do baque de corpos ao mar.
A frente a podridão trazida de longe,
Arranhava o oceano azul que levava pra longe do lar, pra longe
Do calor que trazia paz na calmaria das danças,
Do som do batuque.
A cor da paz trouxe dor aos meus,
E levou cada riso com um golpe que hoje dançam com 
Alegria.
Invasões constantes a ventres puros que,
Já não carregavam mais fertilidade.
Diferença admirada causada no choro do cavaco da
Entranha da alma de um bacuri.
O inverno chegava, mas o inferno já habitava a tempos.
-Ubuhlungu

95.
Sua partida causou em mim buracos.
Eu me construí pra nós dois, e quando você se foi
Parte de mim se foi também e
A decepção tomou conta de novo.
Onde foi que eu deixei com que nossos planos se tornassem apenas meus?
Quando foi que eu passei a amar por dois?
A esperança de que dessa vez desse certo
De certa forma apoderou-se de mim
E a cada passo com que eu dava pra dentro da melancolia que a sua falta me fazia,
Eu me perdi.
Oh meu amor, eu me perdi pra encontrar você.
Passei a ter ciúmes da lua por poder cobrir cada traço teu
Na noite em que um dia me pertenceu.
Minha carência foi de alma assim que as nossas
Passaram a não serem apenas uma.
Oh meu amor, eu não sabia que minha alma conheceria tristeza com a sua ida.
Mas eu vou me reerguer por você.
E por mim.
Eu estou construindo novos prédios em mim e o buraco está menor
Acredite.
Ninguém deve saber que eu me destruí por amor de novo.
Por saudade dele.
Eu lhe prometo que não sentirei mais nada por você e nem por nós,
Assim como me prometeu me amar até que o meu coração silenciasse
Ao lado do seu.
- Débora.

Por Favor, F.L.O.R.E.S.Ç.A !Onde histórias criam vida. Descubra agora