No fundo, no fundo, você quer uma boneca, uma princesa, uma personagem, uma criatura, uma caricatura, uma elfa, uma gótica, uma musa fitness, uma alienígena, um pedaço de papelão ou plástico sem vida, sem contradições, com características especificadas na caixa ao comprar, como uma encomenda.
Contém 1 item que adora animais.
Contém 1 item que odeia acordar cedo.
Contém 1 item que escreve poesia.
Ao menor sinal que ela demonstre de pertencer à sua espécie, você a rejeita, toma nojo, se afasta. Como ousa ela não ser como você a idealizou? Como ousa ela não morar dentro da caixinha de rótulos onde você a trancafiou? Como ousa ela ser humana?
Ela não compartilhava de seu interesse por filmes cult? Como pode rir dessa comédia ruim? Não era fã de rock? Por que tá dançando funk? Não era vaidosa? O que tá fazendo com esse cabelo desarrumado? Não era tímida? Como não tem vergonha de gostar de sexo - e dizer isso? Não era pura, casta, reservada, virginal? Como pode ter tido mais parceiros sexuais do que você? Pois é uma bela de uma mentirosa, uma propaganda enganosa.
Mas será ela a venenosa ou talvez tenha sido você que preferiu se iludir ou que não quis entender… desde o começo?
Ela é humana. Como você. A diferença é que ela sabe disso.
