Estação Creta

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Olho fixamente pela última vez antes de embarcar no veleiro. A cabana onde fiquei nos últimos meses depois que fugir de Gales fica quase imperceptível da praia, mesmo sendo uma das primeiras da estação Creta.

Creta, foi o nome dado a ilha esquecida durante o atentado terrorista que destruiu a humanidade no ano de 2030. Era um dia normal, como de costume por todo o planeta terra, até que bombas foram jogadas de aviões e aviões contra prédios. Em locais públicos, caminhões de gás tóxico matou em minutos todos que estivessem num raio de três quilômetros.
A história se repetiu mesmo depois de anos após a segunda guerra e o atentado de onze de setembro e ninguém entendia até que a organização Hórus assumiu os atentados.
Com metade dos líderes mundiais mortos e exércitos destruídos, quem sobreviveu aos atentados foram obrigados a se esconderem até os Rounds tornarem o mundo uma ditadura.
Sem ao menos percebemos, deixamos algo ruim se infiltrar em nosso meio, do jeito mais fácil que eles conseguiram.

A organização Hórus até o ano de 2025 era apenas uma pequena empresa de tecnologia que visava melhorar aparelhos já existentes e trazer inovações ao mercado. O projeto inicial deles, intitulado de "Projeto Íris", vinha como uma ferramenta que ajudaria pessoas que passaram por momentos traumáticos a superarem seus medos e perdas. O protótipo foi um sucesso, quando testadas em pessoas que presenciaram ou foram vítimas de crimes e estavam em estado depressivo. Logo depois, foi testado em criminosos sentenciados por crimes hediondos.

A técnica parecia ser bem simples: uma lente de contato biônica era coloca nos olhos dos pacientes a serem testados, depois um pequeno chip era inserido na têmpora e em seguida o processador tinha acesso a todas as memórias do paciente. Podendo reprograma-la, adicionando ou deletando qualquer memória que o paciente tenha vivido até aquele momento de sua vida.
A ferramenta se tornou uma febre e até o primeiro ano de lançamento só podia ser usada com autorização médica, visando o melhor tratamento. Até o terceiro ano já estava sendo usada em tribunais e pela polícia internacional.
No quarto ano, além de estar disponível para todos nas lojas da Hórus a empresa já tinha levado todos os prêmios importantes e seu lucro aumentado em bilhões. Porém as memórias só poderiam ser acessadas pelos servidores da Hórus que ficavam no prédio da sede em Chicago, EUA. Quem quisesse ter suas memórias acessadas e alteradas tinha que ir até uma base que ficava em praças e lá um médico e um técnico fariam a alteração.

Lembro que tinha cinco anos quando o projeto foi lançado. Mamãe disse que era um ótimo avanço e que ajudaria milhões de pessoas. Mas ao mesmo tempo, ela não concordava de o projeto ir para o público em geral. Na visão dela somente os afetados com memórias terríveis poderiam fazer o uso.
Ela era psiquiatra forense e trabalhava diretamente com psicopatas. Ela foi uma das testemunhas dos primeiros testes feitos com Íris em um caso de abuso sexual contra uma criança de 6 anos. O vizinho do menino na época, atraia o garoto para sua casa oferecendo horas de diversão no vídeo game. Segundo o relato do garoto, enquanto ele brincava o tal vizinho o acariciava de forma estranha. O caso foi descoberto depois de uma denúncia anônima de outro vizinho. O garoto e o agressor foram submetidos a Íris e ambas as memórias foram apagadas. Como o caso tomou notoriedade na região o garoto e seu pai ganharam novas identidades como forma de proteção, assim como o vizinho.

Mamãe na época tinha medo que o mesmo acontecesse comigo e não me deixava só nem por um minuto. Mesmo com papai por perto, ela se sentia receosa.
Papai era médico oncologista, e durante a acessão de Íris, quando o paciente já estava em estado terminal, a Íris entrava em ação e apagava parte das memórias dos pacientes, todo o sofrimento que eles haviam passado era deletado e eles poderiam viver seus últimos dias como se nada daquilo tivesse acontecido.

Quando eu completei dez anos, meus pais resolveram se mudar para nossa casa de campo que ficava a poucos quilômetros da cidade. Mamãe tinha dito que Íris estava saindo do controle e que viver em um local onde as pessoas não tinham mais memórias era perigoso, pois perdiam o que faziam delas os verdadeiros humanos.  A essa altura praticamente a maior parte da sociedade faziam o uso de Íris. Mamãe e papai decidiram que viver no campo longe da tecnologia nos faria bem, e nenhum de nós usamos Íris. 

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