Íris

A caixa de antiguidades

Deixo as sacolas de compras que papai trouxe da cidade em cima da mesa da cozinha, ele vem logo em seguida com uma caixa de madeira que está mais para um baú velho. Ele deixa na bancada que divide a sala de jantar e a cozinha.

- O que é isso? – falo já ficando na ponta dos pés próximo a bancada.

- É algo para depois do jantar! – Papai fala abrindo um sorriso misterioso.

- Espero que seja algo pra mim. – Mamãe completa abrindo o mesmo sorriso misterioso que papai.

- E como foi no enterro papai? – falo e o sorriso dele imediatamente se fecha.

- Como você sabe do enterro? – papai fala já virando os olhos em direção a mamãe, que a essa altura está esquentando o jantar dele. – Silvia? Você contou alguma coisa pra ele?

A conversa rapidamente muda de tom e papai que até a poucos minutos estava alegre, segue em direção a mamãe que está à beira fogão elétrico.

- O que você contou a ele? Tínhamos combinado de fazermos isso juntos lembra? Quando ele tivesse idade para compreender o que está acontecendo.

- Eu sei Thomas, mas não podemos mais esconder nada do que tá acontecendo lá fora. O mundo tá perigoso demais, para ficarmos omitido coisas do nosso próprio filho.

Vê meus pais se chamando pelos seus respectivos nomes sempre soou como um problema que estava perto a ser colocado em discussão. Eles nunca tiveram grandes discussões, as que me lembro, quando estávamos ainda no nosso apartamento foram sempre a portas fechadas. Nunca entendi porque os adultos discutem por problemas idiotas, como: o horário de chegada em casa, roupas que devem ser vestidas ou não, acenos de cabeça ou apertos de mão a serem dadas em outros adultos.

- Foi culpa minha! – interrompo a discussão de meus pais. – Foi eu quem pediu para ela me contar. Ela estava preocupada com o senhor e eu queria saber o porquê, aí ela me contou sobre o Íris.

- Tudo bem querido! Só tínhamos combinados de fazer isso juntos para podermos tirar todas e qualquer dúvida que você venha a ter e lhe explicar o real projeto íris. – Ele vem em minha direção e fala me colocando em cima da bancada.

- Papai, mamãe me explicou tudo o que eu precisei saber e também o que tá acontecendo lá fora. – Digo dando-lhe um abraço apertado. – O importante é que você está bem.

Vamos terminar o jantar, vem Peter! - mamãe fala colocando o prato do papai já na mesa.

Papai me desce da mesa e vou em direção ao meu acento.

- Depois tenho uma surpresa para vocês dois! - papai fala depois de dá a primeira garfada.

Olho para mamãe com cara de surpresa e em seguida volto a olhar para a caixa que papai trouxe. Penso ser qualquer coisa do nosso antigo apartamento, sei lá! Talvez meu videogame, ou nossa tv.

- Pois eu espero que seja uma coisa boa, se não for nada você vai ficar sem sobremesa. – Mamãe fala rindo e isso contagia e todos riem ao mesmo tempo.

Depois do jantar, papai vai lavar os pratos e mamãe retira o sorvete de chocolate da geladeira e serve em pequenas taças de porcelana que segundo ela foi herança de sua avó.

Seguimos para sala de estar e mamãe traz consigo a bandeja com os sorvetes.

- E qual é a surpresa senhor Thomas? - mamãe fala, já nos entregando as taças com o sorvete.

- Vejam só! - papai deixa sua taça sobre a mesinha de centro da sala e vai em direção a caixa que trouxe da cidade. Ele a coloca sobre a mesa de centro. – Estão preparados?! - ele tenta força uma animação que só ele até então está sentindo.