Ao contrário daquela sucata pública que atendia aos menos favorecidos, o prédio particular era limpo, repleto de vasos de plantas e silencioso. Era tranquilizador. Havia um grande balcão circular onde algumas secretárias atendiam pessoas bem vestidas. Vi o nome do doutor Pedro Rocha numa plaquinha perto de uma atendente bonita e me surpreendi: era um consultório de ultrassonografia. Outro Rocha, seriam parentes?
Fomos até a moça, que nos atendeu com eficiência e simpatia. Eu disse a ela que o doutor Pedro estava nos esperando e que o doutor Alberto tinha ligado. Ela nos mandou aguardar e saiu, voltando alguns segundos depois acompanhada de uma mulher vestida de verde. Ambas exibiam largos sorrisos. A de verde pediu que a acompanhássemos por um corredor comprido.
No corredor havia várias portas que exibiam os nomes dos médicos e suas especialidades, e bancos estofados onde algumas pessoas aguardavam. No final do corredor estava o nosso destino. A moça abriu a porta para que entrássemos, pediu que nos sentássemos nas cadeiras confortáveis que havia diante de uma mesa e saiu, nos deixando sozinhos na sala.
Se tratava de uma sala escura e fria, com quadros nas paredes e vasos de plantas artificiais. Um aparelho de ar condicionado estava ligado e fazia barulho. Bryan encolheu os braços e eu senti minha pele arrepiar por causa do frio. Eu não estava nem um pouco confortável naquele lugar, e Bryan estava ainda mais assustado. Ele olhava em volta a todo momento e apertava meu braço onde sua mão trêmula repousava.
Poucos minutos depois, um homem apareceu, vindo do interior do consultório, e então tivemos uma surpresa: o tal doutor Pedro era, nada mais, nada menos, que uma versão mais feliz e mais saudável do doutor Alberto. Eles eram gêmeos idênticos! O dr. Pedro, porém, era mais simpático, tinha menos rugas e menos cabelos brancos, o que me fez pensar no quanto o local de trabalho pode influenciar na vida de uma pessoa.
Ele nos recebeu amavelmente, já sabia o nome de Bryan e a razão de ele estar ali, o que significava que o Alberto tinha dado detalhes ao telefone. Ele pediu que o acompanhássemos a outra sala, que era ainda mais escura e mais fria, onde indicou uma porta e disse que Bryan deveria urinar e voltar. Estranhei aquela instrução. Por que o Bryan tinha que mijar antes do exame?
A mim ele indicou uma cadeira confortável num canto escuro onde eu me sentei e esperei. Bryan saiu do banheiro cabisbaixo e deitou-se no local onde o médico indicou, uma espécie de maca inclinada, ainda mais alta que a do pronto socorro. Muito delicadamente, o doutor Pedro o fez levantar a camisa e abaixar a bermuda deixando à mostra a barriga branca e gordinha que ele tinha. Bryan virou o rosto para o lado oposto ao médico, talvez por estar por vergonha.
O exame começou e de onde eu estava não era possível ver a tela onde o médico via as imagens que vinham do aparelho. Espichei o pescoço e tudo o que vi foram imagens cinzentas e disformes que se moviam. Intimamente, duvidei de que o doutor estivesse entendendo alguma coisa. Enquanto movia um aparelho sobre a barriga de Bryan, ele ia fazendo perguntas em voz baixa. Eram perguntas comuns, como nome, idade, onde morava, etc.
— Você tem quinze anos? — ele perguntou e Bryan assentiu. — E veio só com o seu primo? Nenhum outro adulto? — Bryan negou com a cabeça olhando para a parede oposta. — Tem sentido essas dores nos últimos meses?
— Aham.
— Antes disso não?
— Não.
Ele continuou a fazer perguntas simples às quais o Bryan respondia com gestos ou monossílabos, e parecia muito concentrado em seu monitor. Até que a porta se abriu com suavidade e o doutor Alberto entrou sem fazer barulho. Parou ao lado de Bryan, de forma que eu não podia mais vê-lo nem ver o monitor. Não gostei.
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Dezesseis anos - antigo Intersex (DEGUSTAÇÃO)
RomanceAmostra de vinte capítulos. Livro impresso e e-book. Publicado anteriormente como "Intersex", essa história que emocionou muitos corações está de volta, agora com uma narrativa mais madura e mais verossímil.