Capítulo IX

39 8 4
                                    



   

A semana transcorre ligeira e meu primeiro encontro romântico será hoje, sexta-feira, após a reunião do Clube de Leitura.

Daniel e eu passamos toda a semana juntos na escola. Andamos de mãos dadas pelos corredores, nos beijamos furtivamente durante os intervalos e almoçamos sob uma árvore no jardim lateral ao refeitório.

É isso mesmo. Não almoço mais na arquibancada da quadra de basquete.

No primeiro dia em que ficamos juntos no Colégio, Daniel convidou-me para almoçar com ele em um lugar especial. Então, ele me levou até essa árvore, uma cerejeira deslumbrante, já com indícios de floração.

- Estamos em meados de março e ela já está começando a florescer. - ele explicou. - No final do mês e início de abril é a temporada das cerejeiras. Vamos nos sentar aqui todos os dias e assistir. - diz sorrindo.

Daniel estende seu sobretudo preto para que eu não me suje e nos sentamos sobre as raízes da cerejeira. Ele se recosta no tronco enquanto eu me sento entre suas pernas com as costas apoiadas em seu peito.

Ficamos ali, dividindo nosso almoço e nosso calor, rindo e conversando amenidades, contando histórias sobre nossas vidas, compartilhando nossas preferências e nossos sonhos. Todos os dias esses momentos passam como o bater das asas de uma borboleta, rápido como o pulsar de nossos corações.

Agora, estou no meu quarto tentando me arrumar para nosso encontro. Daniel virá me buscar em casa para irmos juntos ao Clube.

Sabe aquele dia em que parece que você está com duas mãos esquerdas e sequer consegue passar um delineador nos olhos sem que fique tudo torto?

Depois da quarta tentativa, desisto de fazer uma maquiagem mais elaborada e decido pedir socorro a quem entende mais do assunto do que eu. Vou até o corredor e bato na porta do quarto de Samantha que está se arrumando para a festa de Carol.

- Pode entrar! - avisa do outro lado.

Coloco minha cabeça na fresta da porta entreaberta e a encontro em frente à penteadeira enquanto se maquia.

O quarto de Samantha é estiloso como ela. A parede azul petróleo onde está encostada sua cama tem quadros claros com molduras pretas pendurados ao estilo escandinavo. A penteadeira branca com pés estilo James Eames está sob um grande espelho redondo com luzes de camarim. Cada detalhe é pronunciado pelo bom gosto, revelando a sofisticação e contemporaneidade que lhes são peculiares.

- Oi! - digo sem jeito. Ela vira o rosto, ainda segurando o pincel que estava usando, e me olha com uma sobrancelha arqueada. Solto um suspiro audível, abro a porta totalmente e entro em seu quarto, fechando-a atrás de mim. - Preciso da sua ajuda!

- Hum! O que a senhora "não saio com você" quer de mim? - alfineta. Eu sabia que Samantha tinha ficado chateada por conta do ocorrido de terça, mas eu, realmente, não tive tempo de me desculpar.

- Sinto muito! Não foi minha intenção te desprezar, Samantha. Mas, você sabe muito bem que eu não suporto seu namorado. Não sei o que te deu para propor esse encontro de casais. Connor não consegue dirigir uma palavra para mim que não seja sarcástica ou ofensiva! - digo e ela bufa.

- Não convidei vocês para irmos juntos a um restaurante e ficarmos só nós quatros. Convidei para uma festa onde estarão presentes dezenas de outras pessoas!

- Mas, mesmo assim, acho que Connor e eu não funcionamos no mesmo ambiente.

- Certo! E o que você quer de mim? - ela pergunta sem paciência e eu pondero esquecer a maquiagem e sair com meu orgulho intacto daquele quarto.

Segunda Chance Onde histórias criam vida. Descubra agora