O Sr. Dwight distribui o resultado da prova de álgebra enquanto fala sobre sua esperança de que ocorra uma melhora geral no desempenho do próximo bimestre, mas eu não estou prestando atenção ao que se passa ao meu redor; somente eu e aquele pedaço de papel que revela meu pequeno fracasso existimos no mundo.
Um C + estampado em letras garrafais diante de mim e, pela primeira vez, receio não conseguir alcançar meus objetivos. Pela primeira vez duvido de minha capacidade e Harvard torna-se um sonho um pouco mais distante.
Anos de esforço e notas perfeitas poderão ser jogados na lata do lixo por conta de três meses de distrações. Não, eu não estava me dedicando mais aos estudos como antes, não aproveitava mais os intervalos para ler as publicações oficiais do dia, estudos não faziam mais parte de minhas atividades aos finais de semana e as horas antes de dormir não eram mais dedicadas às lições de línguas. Muito havia mudado.
O sinal toca e eu saio da sala carregando minhas coisas sem olhar para ninguém. Ouço meu nome ser chamado, mas não paro. Passo pelas pessoas nos corredores como se nada existisse ao meu redor; preciso de ar fresco, preciso sair dali.
Quando estou embaixo da cerejeira ao lado do refeitório, consigo soltar com força o ar que estava preso em meus pulmões, jogo minhas coisas sobre as raízes da árvore e fico ali, andando de um lado para o outro.
Atrás de mim ouço alguém se aproximar, sei quem é; fui até lá esperando que ele aparecesse em algum momento.
- Tudo bem, princesa? - aproxima-se e me abraça pelas costas. - Chamei por você lá na sala, mas você não me ouviu. O que aconteceu?
Afasto-me de seu abraço e, sem me virar para ele, apenas entrego o pedaço de papel que estava em minhas mãos.
Ele permanece calado por alguns segundos, não olho para seu rosto, tudo se debate dentro de mim, não quero olhar para ele, quero que a raiva permaneça ali, ela me dará forças, alimentará a melhor decisão.
Depois de um tempo ele diz:
- Você pode falar com o Sr. Dwight; pode tentar recuperar a nota com um trabalho. Esse C+ não precisa ir para seu currículo. - Daniel tenta me apoiar, compreendendo o motivo de minha angústia. – Não é o fim do mundo.
- Não é o fim do mundo? – viro-me para ele, os olhos chispando de raiva.
- Não, não é. Sei que é importante para você tirar notas boas, mas ...
- É importante para mim tirar notas boas? – eu o interrompo. – Você fala como se fosse uma escolha, como se houvesse outra opção. Eu preciso tirar notas boas. – enfatizo a palavra "preciso". – Mas, para você isso não importa. Claro que não. Você não entende o que é sonhar, planejar, e fazer tudo para ser alguém na vida!
Meu namorado olha para mim com as sobrancelhas unidas, visivelmente ultrajado pelas minhas palavras.
- Acho melhor conversarmos uma outra hora. Vamos, vou te deixar em casa, depois pensamos juntos no que fazer para recuperar sua média. - estende a mão para que eu a pegue e para que possamos ir juntos para casa. Mas, eu não a seguro, continuo onde estou.
- Pensarmos juntos em algo que possamos fazer para recuperar minha média? Eu posso te dizer um milhão de coisas que NÃO devo fazer para manter minha média escolar em um nível em que possa, ao menos, sonhar em ser aceita em Harvard! - viro-me de costas para ele, meu coração se aperta dentro do peito, sinto os olhos arderem, é a decisão mais difícil da minha jovem vida. - Isso não está funcionando. - digo quase num sussurro.
Sinto a aproximação de Daniel às minhas costas.
- O que não está funcionando? - olho para ele e, mesmo embaçados pelas lágrimas que se acumulam, meus olhos conseguem captar o desapontamento e a inconformidade que anuviam sua expressão. Desvio o olhar e respondo:
- Nosso namoro não está funcionando para mim, todo esse tempo que gasto com você é um tempo a menos para estudar.
- O tempo que gasta comigo? - questiona com seriedade.
- Para você pode estar tudo bem, tudo é lindo, você não tem grandes planos e ter uma garota para se distrair e dar uns beijinhos deve complementar brilhantemente sua rotina! - volto o olhar para ele. - Quando você me conheceu sabia o que eu queria, o que eu esperava, sabia que não era pouco, que eu não tenho sonhos que uma garota comum de Lakewood teria, você sempre soube que meus objetivos demandavam cem por cento de minha dedicação. Ultimamente, tenho me esquecido deles, só penso em aproveitar, em ser uma adolescente comum, mas estou sendo tola, não posso esquecer todo o esforço que fiz até agora, não posso me desfazer dele! – abaixo o olhar e continuo. - Não há espaço na minha vida para um namorado, sinto muito.
- Você está terminando comigo? - Daniel diz muito sério e minha alma se afunda dentro de mim. – É isso? Está terminando o nosso namoro? - Não consigo responder, apenas balanço a cabeça em afirmação.
Daniel se aproxima de mim, segura o meu rosto, forçando-me a olhar em seus olhos.
- Me diga, Sofia! Diga olhando para mim! Você quer terminar o nosso namoro? Quer terminar tudo por causa de uma nota? - seus olhos azuis se cravam nos meus e vejo a maior chama de esperança que um dia poderei enxergar.
- Não é por causa de uma nota. Esse só foi o primeiro tropeço, se eu continuar assim, outros virão. - respiro fundo e continuo. - Sinto muito, mas não posso deixar de escolher o meu futuro quando ele se mostra tão prementemente em perigo. É melhor assim, antes de nos apegarmos mais um ao outro. – Daniel se afasta virando as costas. Ele passa as mãos nervosamente pelos cabelos e se volta novamente para mim, agora visivelmente irritado.
- Acontece, Sofia - Daniel aproxima-se e segura meu rosto, nossas faces coladas - que eu já me apeguei, meu coração já é seu. Você pode me pedir qualquer coisa, eu posso te dar mais espaço se é o que deseja, o que quiser eu faço por você! Só não diga que não há afeição suficiente para sofrimento. Só não diga que se terminarmos tudo hoje, amanhã estaremos bem porque não houve tempo para nos apegarmos um ao outro. Só não diga que será natural te ver amanhã sem poder te tocar e que eu ficarei bem, porque isso não vai acontecer! - ele diz ofegante, a raiva estampada em seu rosto.
Desvio meu olhar, afasto-me da influência de seus olhos, não consigo mais encará-lo, não quando aquelas palavras atingem tão profundamente o meu coração. Retiro lentamente suas mãos do meu rosto, apenas o beijo no rosto e digo em seu ouvido:
- Nós somos muito jovens, Daniel, temos uma vida inteira pela frente e, se eu sou tão especial assim para você, um ano não fará diferença para seus sentimentos. Mas, agora, eu preciso de um tempo para me dedicar ao meu futuro, só peço que não me odeie e não se esqueça de mim. - dou outro beijo em sua face, pego minhas coisas no chão sem olhar para ele e saio, após três meses, no sentido do ponto de ônibus, retornando à velha rotina.
Somente quando estou em casa, trancada em meu quarto, é que permito que as lágrimas represadas desçam livremente pelo meu rosto. Hoje não haverá como voltar à rotina, Daniel estava correto: já não é mais tão cedo ...
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Segunda Chance
RomanceSofia é uma garota solitária, estudiosa e obstinada. Tudo parece bem na sua vida perfeitamente planejada até a chegada de Daniel a Lakewood. Quando o belo garoto de olhos azuis requer sua atenção, ela tem que decidir entre os planos já traçados e os...