Pronoia

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/prəˈnoiə/

noun

the belief that the universe is conspiring         in your favor; the opposite of paranoia.

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Algumas pessoas se sentem especialmente ligadas à ambientes, sejam eles naturais como uma floresta ou parque, sejam eles ambientes construídos pelo homem como a antiga casa dos pais ou mesmo a própria casa. Outros, diferentemente do citado, se sentem ligados a situações que acontecem numa frequência diminuta. Momentos por vezes despercebidos acabam despertando sensações raramente sentidas,  a capacidade de percebê-los pode ser ainda mais rara.

Era irônico o que acontecia; uma amante do sol, do calor e da luz, do ar puro que ambientes abertos lhe proporcionavam respirar, isolar-se em um espaço fechado por tanto tempo. Mas Chaeyoung sabia que, a demora em ter algo que agradava a faria apreciar ainda mais o tão esperado momento. Assim prosseguia, em seu apartamento de paredes claras e janelas sempre abertas, mudava-se da sala para a cozinha e da cozinha para o quarto. Plantava-se no sofá com a carta em mãos, ponderava sobre qual decisão parecia menos radical e rebelde, não gostava da ideia de ceder a raiva e a ansiedade que sentira nos últimos dias desde a descoberta feita. Tudo naquele envelope expressava as medidas desesperadas e tardias de seus pais em restabelecer contato. A redenção parecia distante daquela forma, duvidava até mesmo que uma conversa em pessoa a traria para um caminho diferente.
Os sonhos estranhos continuavam, e agora a voz soava ainda mais familiar que antes, Chaeng não era o tipo de pessoa que levava certos acontecimentos para patamares mais elevados, porém tudo ao seu redor insistia em relacionar os sonhos com a dançarina que conhecera. A voz parecia muito similar, e o ligeiro contato com Mina a trouxe um incômodo minimamente desesperador. Não poderia ser possível, sonhar com alguém antes de conhecê-lo? Os sonhos pareciam tão confusos e sem nexo inicialmente, mas ao parar pra pensar, alguns pontos pareciam fazer sentido. Mina era filha de japoneses, e acabara de chegar da América depois de anos morando no lugar citado. Era compreensível que falasse obviamente outros idiomas diferentes de coreano, pesquisando um pouco Chaeng poderia dizer se o idioma falado nos seus sonhos era japonês ou inglês.
O som de seu celular vibrando a despertara, levantou do sofá-cama sem nenhuma ideia de onde havia esquecido o aparelho. Poucas pessoas tinham seu número de telefone e devido a sua demora comum em responder mensagens e ligações, as mesmas só entravam em contato por motivos considerados sérios. Chaeyoung encontrara o aparelho embaixo de uma mesinha preenchida por livros e de pés tortos. A bateria estava nos seus últimos momentos, numa porcentagem quase zerada, as mensagens na tela eram de Jihyo. E a ligação que à pouco tivera recebido vinha da academia. O número usado somente por Park Jinyoung, ou como preferia ser chamado, o senhor JY. Dono da academia, tinha um apreço por Chaeyoung, pela forma como trabalhava apresentando uma versatilidade enorme em varias áreas artísticas. Chae então decidiu retornar a ligação, pois conhecendo o seu "chefe", falariam sobre coisas importantes. 
A ligação chamou apenas uma vez, e Chaeng ouvira a voz grave atender-lhe imediatamente. A abordagem rápida do homem obedecia seu ritmo habitual, chamara Chaeng para uma reunião na academia, que aparentemente estava passando por reformas estruturais de ensino. A jovem aceitou prontamente, mesmo estando receosa sobre o que ouviria, cumprimentou educada o homem e o perguntou sobre o filho recém nascido, Park Jinyoung estava sendo um pai de primeira viagem bem bobo. 
Ao desligar a chamada, Chae caminhou de um lado da sala a outro, passava os dedos nas mechas pouco longas que cutucavam agora a sua nuca, lembrara a si mesma que precisava de um novo corte de cabelo. A reunião estava marcada para o dia seguinte, não precisaria andar além de algumas dezenas de metros pra chegar a porta do estabelecimento. Checando novamente o aparelho, decidiu abrir as mensagens de Jihyo. 

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