jack White.

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Acordo no susto, como nas últimas 2 semanas. Olho para o relógio e o que vejo nele são canções amarguradas do sujeito de chapéu. Tocar violão as 4 da manhã visivelmente trazia graça para a vida do homem sentado próximo a minha janela. Eu o chamava de Noa. Não o conhecia o suficiente para lhe inventar nomes mirabolantes, nem trocar acenos e sorrisos. Ele me conheceu bem o suficiente para poder dedicar-me todas as palavras tocadas por suas mãos.

Caminho até a janela e arrasto de leve a cortina branca, queria vê-lo e descobrir qual sua roupa de hoje. Noa tem um estilo de dar inveja para qualquer um. Inevitavelmente escuto sua voz e logo a sensação de familiaridade me aquece por dentro. Num piscar de olhos, acompanho baixo a música que invade meu quarto, fazendo de mim uma pessoa que nem ele. Nossos olhares se encontram e ele sorri. Seu chapéu era preto, e seu cabelo caía por entre seu rosto me permitindo ver nitidamente um brilho que jamais consegui enxergar. Ele estava vivo. Nunca imaginaria que você me faria viver também.

Quando para de tocar, meu corpo amolece e sentindo a necessidade de mais, sento a estreita da janela e fico te olhando. Você balança suas pernas e arruma seu chapéu, perguntando-me mentalmente qual seria a próxima canção. Você sabia, sempre soube. Sua mão é rápida e logo Blunderbuss começa a criar forma por entre tuas cordas e, naquele momento, meu mundo girou em torno de um único ser. Poderia te dar a mais sincera risada e lhe inventar uma incrível história de aventura e terror só por ser o que você foi pra mim.

Lhe agradeço com a cabeça e resolvo voltar para a cama. Fecho a cortina e me despeço das tuas notas. Deito minha cabeça no travesseiro e fecho os olhos. Nunca te disse isso mas suas cantorias desafinadas viraram o evento mais esperado por mim desde que você se mudou, e talvez não acredite mas o seu chapéu nunca lhe coube tão bem quando tirou ele.

Obrigado, Noa.

Obrigado.


palavras.Where stories live. Discover now