— Você é muito fraco, Éricles! — gritei. Oi, prazer. Meu nome é Enkidu.
— Você que é! — respondeu meu melhor amigo ao tentar me acertar um soco no peito.Visto que éramos melhores amigos, estávamos sempre brincando das mais diversas formas, não havia um dia no qual nós não fizéssemos isso. Às vezes, o dia inteiro. No caso, luta era a brincadeira de hoje.
— Como? Eu já te acertei muito mais do que você me acertou.
— Tem razão. É porque eu só estava guardando minhas energias.
Dizendo isso ele se aproximou de mim calmamente com sua guarda baixa, então me aproveitei da situação e desferi um golpe rápido em seu peito. Bom, quase desferi, se não fossem os seus movimentos sagazes e ágeis. Com o braço esquerdo ele defendeu o meu soco e com a mão direita socou minha barriga. Torci-me um pouco para frente com a dor, ele botou seu pé atrás de minha perna com a mão no meu ombro, logo em seguida me derrubou no chão e veio com seu punho na direção do meu rosto. Se eu fosse um bandido ou alguém do mal, ele com certeza teria se dado muito bem, mas eu era seu melhor amigo e ele parou seu punho a poucos milímetros do meu rosto.
— Eu não te disse? — disse Éricles dando uma leve risada.
— Ai… — gemi.
— Ai, caraca. Desculpa. Te machuquei?
— Só um pouquinho. Tá tudo bem.
— Vem. Levanta. — disse-me, segurando minha mão para me ajudar a levantar.
— Isso foi incrível, cara! Me ensina! Onde aprendeu isso tudo? — falei, com a maior empolgação do mundo!
— Ah, só fiz o que a imaginação mandou. — disse meu amigo com um tom calmíssimo, coçando sua nuca.
— Sério!? Sua mente é realmente incrível, hein! — falei este fato. Meu companheiro era a criança mais inteligente da nossa vila, a Vila de Ciqua. Ainda que não houvesse muitas crianças por aqui, ele tinha total direito de carregar esse título.
— Bom, — comecei a falar — o sol já tá se pondo. Acho que a gente podia ir pra casa.
Meu amigo concordou e fomos andando juntos e conversando até onde nossos caminhos se separavam.
— Até amanhã, En. — disse ele, acenando sua mão.
— ‘Té, cara. — disse eu com um sorriso.
Chegando em casa, não vi meu pai nem minha mãe. Passei pela porta e precisei parar na sala. Fiquei lá encarando a espada que estava pendurada na parede. Eu precisaria de quatro mãos para segurar todo o seu cabo. Seu guarda-mão era um pouco pequeno comparado a outras espadas. Sua lâmina era longa e levemente curvada e sua ponta era afiadíssima. Acho que o nome desse tipo de espada era katana, mas o que mais me interessava nela era a sua bainha. Havia algo escrito nela. Algo escrito com uma letra difícil de se ler. Entretanto, eu tinha certeza absoluta que aquilo não fazia parte do meu alfabeto, ainda que eu só tivesse onze anos, mas era algo que sempre fazia quando estava sozinho em casa. Ficava ali, encarando a espada com toda a sua beleza, com os olhos focados principalmente no que estava escrito.
— Justiça! — gritou meu pai, me dando um susto que me fez pular e cair no chão.
— Porra, pai! — reclamei com o calor do susto.
— Olha a boca, caralho! — disse meu pai a frase mais confusa que já ouvi na vida.
— Ensinando palavrão pro meu filhote, Ânson!? — disse minha mãe, chegando na sala.
— Não me chama de filhote, Sonielly. — disse à minha mãe, com um tom um tanto quanto arrogante.
— É mãe pra você, garoto! Você me respeite. — disse ela com um rosto muito sério, que rapidamente abriu um sorriso bem gostoso de se ver. — Vamos! O jantar já está pronto.
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Lâmina da Justiça
FantasyEnkidu supostamente era um menino como qualquer outro, até se interessar pelo lado de fora de seu vilarejo. Em suas aventuras, ele encontra as coisas mais bizarras e conhece pessoas que fazem toda a diferença na sua jornada, principalmente seu mest...