Capítulo 2 "Tristezas sem Fim"

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A chuva caia como pequenos pingos de lagrimas que se espalhavam por toda parte, o aroma de angustia pairava no ar, uma tristeza que parecia não ter fim, como um campo onde se vê o começo mas não o final. Haile estava sentada em frente ao espelho de seu quarto, seu olhar estava completamente vazio, sem esperança, sem vida. Era como se parte de seu mundo tivesse sido arrancado dela sem sua permissão, tudo ao seu redor parecia ter acabado. Um turbilhão de pensamentos rodeava sua mente, lágrimas rolavam de seu rosto. Como foram tristes seus últimos momentos com ele, se arrependera das coisas que dissera claro, no entanto seu pai não estava ali e não iria mais voltar, ele se foi para sempre.

A porta do quarto se abre e sua mãe aparece, com olhos inchados e pesados.

– Haile querida, estamos quase prontas para ir. Você está pronta?

Em meio a um soluço Haile responde.

– Sim, já estou descendo – ela fala sentindo que seus olhos estão marejados novamente.

– Ah minha querida! – Meredith abraça a filha, um abraço forte e ao mesmo tempo suave.

Haile não sabe o que dizer, nem mesmo o que fazer, apenas aceita o abraço, porque é a única coisa que consegue fazer.

As duas saem do quarto, descem a escada e se dirigem para a sala de estar onde Lily, sua irmã mais nova está sentada, isolada num canto em um sofá. Haile para por um momento e olha para a irmã triste e sozinha como um pássaro indefeso que está com medo.

Ela se parece tanto com nosso pai – pensa Haile

Vários flashbacks passam por sua mente, como que levada para o passado por uma visão distante, ela se recorda dos tempos em que eram crianças, de quando corriam pela casa toda com os pés sujos e descalços e os cabelos soltos ao vento sendo perseguidas de brincadeira pelo pai. Lágrimas começam a rolar de seu rosto, Lily sempre parecera mais com o pai que ela, tinha os cabelos castanhos e cacheados e as pontas emaranhadas meio avermelhadas, bochechas rosadas, um pequeno nariz e é claro os olhos azuis que herdara dele. Seu corpo já demostrava características de uma adolescente de dezesseis anos, tudo nela lembrava a Haile de seu pai, ela segue na direção da irmã que está segurando uma foto em seu colo.

– Lily – chama Haile, mas sua irmã não responde.

Então Haile se aproxima e se abaixa, quando vê a foto que sua irmã está segurando, era uma antiga foto de família, que tiraram nas férias de verão quando estavam pescando.

– Ah Lily, sinto muito! – Diz Haile para a irmã. – Por favor, fale comigo.

– Nem acredito que ele se foi – Lily se pronuncia.

– É nem eu.

– Como será daqui para frente sem ele?

– Sinceramente eu não sei.

– Sinto falta dele.

– Eu também.

As duas se abraçam e choram por alguns segundos, quando a mãe as chama. Está na hora de irem.

A chuva continuava a cair lentamente, um clima bem frio para um enterro, estava repleto de pessoas, Joseph Evans era um homem honesto e querido por todos, um homem gentil e bom que sabia amar e perdoar, havia deixado sua vida de lado para ajudar as outras pessoas e fazer o bem não importava quem fosse.

Toda cidade compareceu ao enterro, Meredith a mãe de Haile dispensou o velório como era a vontade de seu falecido marido.

O cemitério de Harbor Church estava repleto, todos os amigos, vizinhos e familiares estavam presentes. Haile estava em frente para o caixão junto com sua mãe e irmã, Katherine, Nathaniel e todos os seus amigos estavam lá também, prestando seus sentimentos, afinal todos amavam Joseph.

Após o caixão ser fechado e depositado na terra, todos começaram a ir embora, um por um, ficando somente Haile próxima ao local onde seu pai fora enterrado há poucos instantes.

– Vamos querida. – Disse Meridith.

– Antes eu preciso fazer algo mãe, pode me esperar?

– Sim querida está bem.

Quando sua mãe se afasta aos poucos Haile se senta em frente ao túmulo de seu pai e começa a chorar baixinho.

– Sinto muito pai, me perdoe... Eu não queria... – Ela deposita uma rosa vermelha no túmulo de seu pai. – Eu te amo pai. – Diz ela com um sussurro leve.

Levanta-se e vai em direção ao carro, sua mãe a está esperando lhe dá um beijo na testa e entra no carro, logo em seguida Haile faz o mesmo.

A viajem de volta foi totalmente silenciosa, em alguns momentos a mãe tenta conversar com elas, mas logo o silencio volta a reinar na atmosfera do carro, as três vão para casa.

Ao chegar em casa, Haile vai direto para o quarto, não sente vontade de comer nada que suas tias trouxeram, ela se joga na cama, coloca seus fones de ouvido, seleciona a sua PlayList no Spotify e ao fundo toca precisamente "Because of You" de Kelly Clarkson, suas lembranças não a deixam escapar nem por um segundo, seu mundo simplesmente desaba em um mar de emoções: Dor, raiva, culpa, remorso. Tudo se mistura em uma coisa que nem mesmo ela consegue descrever.

Será que sua vida se resumiria a isso? Simplesmente se lamentar sempre que visse uma foto, ou ouvisse uma música que a fizesse se lembrar de seu pai e de como era sua vida antes disso? Seus sonhos se foram, sonhos como ter seu pai a levando para o altar no dia de seu casamento, ou batendo palmas no dia de sua formatura, de segurar sua mão e tocar barriga quando estivesse grávida...

Mas de uma coisa ela sabia, seu pai não ia querer que ela ficasse triste para sempre, ele a chamaria de sentimental demais e diria para que ela seguisse, esse era o desejo dele, ela teria de encontrar uma forma de reagir e lutar para ter sua vida de volta, era isso que seu pai iria querer que ela fizesse, e era exatamente isso que faria, não importava o quanto fosse doloroso, precisava e sentia que no fundo que iria fazer isso, tinha de seguir em frente, podia e faria isso. Por ele. Por ela. E teria a sua vida de volta.

Trilogia The Supernatual World I - Quem é Você? (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora