A Sala de Balé

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VOLTEI

Bom gente, nesse capítulo tem menção Vkook, ok? Boa leitura e 2bj

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O dia amanhecia nublado, frio. Não que fosse novidade, Jungkook sabia que, por mais estranho que soasse, naquele internato o verão nunca chegava. Por isso, o outono parecia ansiar a vinda do inverno, pois as temperaturas ficavam cada vez mais baixas e insuportáveis. Busan nunca fora tão gelada.

O tecido fraco do uniforme e o cachecol mal feito não esquentavam a pele trêmula do Jeon, que implorava por um aconchego morno a cada passo que dava para a sala de música. Porém, sorria. Os dentes barulhentos se perdiam em um sorriso enviesado, adorava cantar no final das contas.

Os corredores perdidos na leve penumbra da madrugada, ecoavam seus passos, lentos. Não havia pressa, estava cedo. Quando ultrapassou a soleira da porta da sala, que rangia, riu pelas narinas, embeveado ao que viu que o velho piano estava de volta. Apressou-se em direção a ele, esfregando as palmas umas nas outras ao que frio ultrapassava o fino tecido das luvas cor de vinho que usava. Sentou-se na banqueta e tirou do bolso seu caderno de anotações, ficando feliz ao se lembrar do homem que o salvou daqueles garotos na semana retrasada. Ah, não havia como agradecê-lo, tamanha sua gratidão. Sorriu, contente para variar, colocando suas músicas sobre o piano e posicionando os dedos nas devidas teclas. Porém, quando ia tocar a primeira nota, tudo o que sentiu foi dor. A tampa fechou-se em seus dedos.

- Não toque. Não toque o piano, estás me ouvindo, pirralho? - disse uma mulher, a mão delicada apertando a tampa em suas mãos.

- Mas, senhora... Esta é uma sala de música. - gaguejava de cabeça baixa

- Sim, a minha sala de música. - arregalou os olhos. Esta era a nova professora?

Infelizmente, a doce senhora que dava aulas havia falecido no mesmo dia em que aquele estranho o salvou. Estavam esperando uma substituta desde então.

- Eu soube, Jeon - o aperto aumentava, as pontas dos dedos da nova professora já brancos - de tua fama nesta escola. Não permitirei que pessoas como ti trisquem neste piano, eu quero ele limpo, você o sujará com teus pecados.

- Sim, senhora, não tocarei novamente. - Ah, como doeu dizer aquilo, doeu tanto quanto seus dedos, que agora estavam livres.

Massageava-os ao que os alunos entravam na sala, formando-se na bancada do coral. Ele foi também, mesmo com os olhares nojentos direcionados a ele, mas, não somente a ele. Kim Taehyung entrava pela porta, o garoto de quem roubou um selinho. Eram melhores amigos, mas todo o ocorrido os separou de forma hostil, fria, assim como o inverno que chegava. Os olhos se conectaram por um fração de segundo e ele estremeceu. Droga, tinha que parar com essas coisas que estavam acontecendo, seu coração não parava de bater e seu rosto parecia incandescente, sentia o mesmo vindo do Kim. Bateu palminhas em seu rosto e se posicionou para começarem a música.

- 1, 2, 3 e...

E a cantoria começou, estavam ensaiando o canto de Gloria em latim, já em prelúdio para o Natal, porque apresentariam na praça e teria que ser perfeito.

- Não, não, não! - as vozes se tornavam sussurros e depois, o silêncio vinha. - Kim Taehyung e Jeon Jungkook, fora do tom e do ritmo! Vamos, de novo, apenas os dois.

E recomeçaram, de novo, de novo e de novo... Mas nunca bons o suficiente. A professora era rígida e tomou a medida de dar uma palmatória na mão de cada um dos desafinados com sua régua de madeira, mas Jeon sabia, sabia que sempre esteve no tom. Nenhum dos dois havia saído do ritmo, reconhecia isso.

A dona-morte não é uma mulher | Jjk + PjmOnde histórias criam vida. Descubra agora