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Pedro •

Ano passado meus pais nem olhavam na minha cara. Estava cada vez mais difícil lidar com tudo aquilo. Mas tive sorte em ter Guilherme e Malena, meus melhores amigos. Os dois foram os únicos que me apoiaram e não de distanciaram de mim. Os únicos que depois que eu me assumi gay continuaram andando comigo e falando normalmente comigo. Os únicos.

Porém, esse ano meus pais finalmente aceitaram minha sexualidade. Depois de tempos, eles aceitaram. E isso me deixa completamente feliz. Agora eles falam comigo normalmente e me tratam como eu deveria ser tratado: como seu filho.

Eu lido com bullying desde que assumi minha sexualidade. No começo isso me torturava. Eu passava horas chorando por ser zoado e humilhado. Mas eu aprendi a ser forte e a lidar com isso. Hoje eu sou eu mesmo, e amo sentir o prazer da liberdade.

Somos novos no bairro. Meus pais decidiram se mudar pra cá pois queriam outra casa e morar em outro lugar. Claro que eu fiquei muito mal por ter que me distanciar dos meus amigos: Guilherme e Malena.

Eles também não ficaram nada bem com isso. E depois de muita insistir, eles conseguiram convencer seus pais a deixarem eles mudar de universidade. E agora eles vêem para minha casa duas horas antes de ir para a universidade e vamos juntos estudar.

Depois que meus pais aceitaram a minha sexualidade, meu pai me falou para sempre, sempre falar pra ele quando alguém zoasse comigo. Ele me fez prometer isso. E eu prometi. E promessa pra mim é uma coisa sagrada, se você promete, você tem a obrigação de cumprir! Então, eu falei para o meu pai sobre o ocorrido na universidade.

Quando bateu o sinal para a última aula e todos saíram da sala. Eu fui até a lixeira e peguei o bilhete que a professora tinha pego da mesa daquele garoto. Eu li e aquilo partiu meu coração. Eu não sei por que. Mas doeu. E fazia tempo que eu não me deixava abalar com esses tipos de brincadeiras, mas quando eu li aquele pequeno bilhete, meu coração travou e eu fiquei mal, muito mal.

Pois... Algo me chamou atenção naquele garoto. Ele me chamou atenção. Mesmo sendo um arrogante mal educado, ele me chamou atenção e talvez seja por isso que me magoou ler aquele bilhete. Eu não sei exatamente!

Então, quando chegou a noite, eu e meu pai ficamos jogando video game até de madrugada, eu falei para ele. Ele ficou indignado e falou que iria até a universidade amanhã e iria conversar cara a cara com os dois garotos. Mas eu falei "não". Eu não queria que ele fizesse isso. Não dessa vez.

Nós estávamos jogando video game na sala. Já era três horas da manhã e então só naquele momento, eu tive coragem de falar para ele. E então nós brigamos por que eu não queria que ele fizesse nada e ele ficou falando que eu estava defendendo dois bastardos.

Então eu saí de casa batendo a porta com força e sentei no meio fio.

Muitas perguntas passaram pela minha cabeça quando aquele garoto sentou ao meu lado. Olhei pra ele e ele estava com um cigarro.

Eu fiquei com raiva. Por que foi por causa dele que eu briguei com meu pai. Algo que eu não fazia desde que ele aceitou minha sexualidade. E agora eu estou brigado com ele, por causa de um cara que eu nem conheço!

A lembrança do meio fio não sai da minha mente e meu coração acelera cada vez que eu me lembro do seu rosto. Na hora eu estava chorando de raiva e não falei direito com ele. Eu só queria que nada disso tivesse acontecido.

Tenho 17 anos! Eu deveria parar de me importar com a opinião dos outros! Na verdade eu parei. Mas saber que o cara que me chamou atenção vai me zoar por eu ser gay me machucou. Eu não sei por que, sendo que eu nem o conheço.

Droga.

Levanto da cama e vou até a cozinha.
Pego um copo d'água e me encosto na ilha.

- Filho. - vejo meu pai vindo até mim. - Eu acho que peguei pesado. - ele fala e para em minha frente.

- Tudo bem, pai. Eu não quero ficar brigado com o senhor. - falo e coloco o copo encima da ilha.

- Nem eu. - ele fala e me puxa para um abraço.

Depois de alguns minutos abraçados ele quebra o abraço e pega o copo que eu estava tomando água e termina de beber.

- Você estava na sala? - pergunto.

- Sim, eu estava pensando. - ele responde e coloca o copo na pia. - Percebi que tinha sido duro. Eu não deveria ter gritado com você.

- Então você não vai mais pra universidade? - pergunto esperançoso. Eu realmente não quero que ele faça nada dessa vez.

- Não. - ele responde após pensar um pouco.

- Obrigado. - falo e me viro para sair. - Vou dormir, até amanhã.

- Até filhão.

Entro em meu quarto e me jogo na cama com um sorriso grande.

- Eu estou com fome. - Malena fala assim que nós entramos na universidade.

- E quando você não está? - Guilherme pergunta e eu seguro a risada.

Arrumo meus livros no braço.

- Até depois. - Malena fala junto com Guilherme e os dois entram em sua sala. Malditos sortudos que cursam a mesma coisa!

Bom... Eu estava atrasado, mas não me importei muito com isso.
Ando pelo corredor que aos poucos está ficando vazio e paro na frente do bebedouro. Me inclinei para beber a água e enchi minhas bochechas com o líquido gelado.

Eu mantinha minha cabeça baixa enquanto andava pelo corredor da universidade. Meus pensamentos estavam na praia que eu soube que tem aqui perto. Mais ou menos uns quarenta minutos da minha casa. Talvez eu chame Malena e Guilherme para irem comigo.

Um impacto bate contra meu corpo e meus livros caem no chão. Fazendo o barulho ecoar pelo corredor, já vazio.

- Droga. Me desculpe, eu estava distraído. - falo sem olhar para a pessoa e me abaixo para pegar meus livros.

- De boa. - a voz faz meu corpo estremecer por um segundo e eu me levanto, já com meus livros nos braços.

Encaro suas orbes me olhando com atenção e engulo em seco. Seu rosto está tranquilo e sua respiração lenta. Sinto minhas pernas ficarem moles com tanta aproximação e minhas mãos começam a soar frio. Ele é.. lindo demais!

Seus olhos estão com um brilho diferente... Não aquele olhar frio e de uma pessoa arrogante, o mesmo olhar do dia em que eu estendi minha mão para cumprimentá-lo...

Agora ele está me olhando diferente, como se eu fosse diferente, não sei exatamente. Mas seu olhar sob mim durante tanto tempo assim faz minhas bochechas esquentarem.

- Conlicença. - falo após vários minutos, que para mim pareceram uma eternidade. - Estou atrasado. - falo pronto para virar e correr dali. Mas assim que me viro, ele segura em meu braço rapidamente.

Encaro-o sem entender sua reação e sinto formigar o local que ele toca. Nossos olhares se prendem novamente e eu engulo em seco. Droga, por que ele tem que ser tão lindo?

Ele pisca repetidas vezes e rapidamente. E como se tivesse saído de um transe, ele arregala os olhos e solta meu braço bruscamente. Como se eu fosse alguma doença transmitivel.

E então, ele passa por mim sem dizer absolutamente nada.

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