*Capítulo 2*

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Na livraria tenho um funcionário.
- Bom dia Marcos. - digo entrando na livraria, encontrando com ele arrumando alguns livros na prateleira.
- Bom dia Fernanda. - disse ele mandando uma piscadinha.
Bom a livraria não andava muito bem, pois nós vendiamos apenas livros de viagem, não dava o lucro desejado, e muitas das vezes fechava o mês no vermelho.
Por exemplo,  esse mês fechamos devendo 347 libras, ainda pagar o salário do Marcos, as despesas da loja, e teria que cortar mais algumas coisas do dia-a-dia.
Marcos ao me ver fechar as contas do mês, puxou o assunto.
- Quer que eu vá comprar um suco de laranja? - disse ele esfregando as mãos, com cara de cachorro sem dono, com um pouco de dor pela minha falta de grana.
- Melhor trazer meio copo de suco, é o que da pra eu pagar. - disse olhando ainda para o caderno com números negativos.
- Entendido. Irei trazer meio copo de suco de laranja e um café pra mim. - disse ele logo saindo da loja.
Continuei vendo as anotações no caderno. Quando a porta da frente faz um barulho, avisando que alguém tinha acabado de entrar.
Levanto meus olhos, e me deparo com uma mulher procurando alguns livros em uma das prateleiras, folheando o livro, com um óculos escuro.
- Quer uma ajuda? - levanto da cadeira e dou dois passos pra frente, ela para o que tá fazendo e olha pra mim por cima dos óculos escuros.
- Não, só estou olhando, obrigada. - respondeu ela voltando pro livro.
Blusa branca, jaqueta de couro preta, boina, um colar de prata, parecia devota de algum santinho, um anel na mão esquerda, calça jeans e um tênis.
- Ok - respondi apenas, olhando pra ela curiosa. - Esse livro aí não é bom, no caso de vc pensar em comprar. - disse ao ver ela interessada demais no livro onde tinha pouca escrita e muitas figuras, ela continuava quieta olhando pra mim por cima dos óculos, então continuei.
- Mas se estiver interessada na Turquia, tenho um ótimo aqui,  que pelo o que ele escreve, ele esteve mesmo na Turquia. - não sei o que estava acontecendo comigo, eu não parava de olhar pra ela, ali parada na minha frente.
- Obrigada eu vou pensar - foi só o que ela respondeu. Mas não me convenci.
-Caso queira, tenho outras opções de livros aqui. - mas quando viro pra uma tela de monitor de segurança, vi um rapaz colocando um dos livros na calça. - Poderia me dar licença só um minuto? - E fui até o rapaz.
Ele fingia estar olhando as opções nas prateleiras, a mesma que ele cometeu o delito.
- Com licença. - disse ao chegar perto do rapaz.
- Sim -  disse ele se fazendo de desentendido.
-  Ma notícia, temos câmeras aqui. - disse apontando para onde a câmera se encontrava, em um canto no teto.
- E daí? - disse ele com desdém.
- E eu vi vc colocar o livro dentro das calças. - E apontei para onde eu vi ele colocar o mesmo.
Ele então desconversou.
- Que livro?
- O que está nas tuas calças oras. - disse mantendo a calma. Ele ainda manteve a palavra.
- Mas não tenho nenhum livro dentro das calças. - Disse ele olhando pro chão, talvez envergonhado.
Vendo que iríamos ficar nesse dilema por uma vida, ele não admitindo que tinha um livro nas calças e eu acusando ele mesmo com as imagens, resolvi pegar pesado.
- Então vou chamar a polícia, e se eu estiver errada, e vc não estiver com um livro dentro da tua calça, eu peço desculpas. - disse não dando mais assunto.
Ele então disse:
- E se por um acaso tiver mesmo um livro nas minhas calças? - perguntou meio sem jeito.
- Então quando eu voltar pra mesa vc iria colocar ele no mesmo lugar que encontrou, ou simplesmente compraria ele. Mas falo com vc num instante. - disse deixando o homem lá com sua consciência.
Voltando a sala onde a celebridade estava, encontrei ela observando a cena toda, quieta e interessada.
- Me desculpe. - disse quando me encontrei de frente pra ela novamente.
- Tudo bem, eu estava pensando em roubar esse aqui também, mas mudei de ideia. - disse ela com um sorriso no rosto. - Foram assinados pelo autor? - continuou ela, vasculhando o livro.
- É, ele assinou todos, e se vc encontrar um sem assinatura, ele iria valer uma fortuna. - ela sorriu.
Fomos interrompidos pelo cleptomaniaco.
- Oi, com licença. - disse ele, pelo menos é educado. - Poderia me dar um autógrafo?
- A claro. - disse ela pegando o papel e a caneta da mão do rapaz sem noção. No mínimo ela foi mega educada. - Qual é o seu nome? - perguntou ela.
- Lucas - respondeu ele, assistindo ela escrever algo no papel. Ela entregou pra ele. - O que está escrito aí? - O cara não sabe ler, é sério isso? Então ela disse.
- Aqui está minha assinatura e em baixo está escrito, Lucas vc deveria estar preso. - deixou o cara todo sem graça.
- Essa é boa. - respondeu ele com um sorriso amarelo, pegando o papel. -  Quer o meu telefone? - sério que ele perguntou isso? De verdade que ele perguntou isso?
- É tentador, mas não. - a mulher é mega educada. Atenciosa, famosa, e simplesmente educada. - Eu vou levar esse aqui mesmo. - disse virando pra mim e passando o livro que permanecia com ela. Enquanto o cara sem noção saiu da loja.
- Tá bem, ok, as vezes não pode ser tão ruim ne? - disse me dando por vencida - Mas vou ti dar esse aqui de presente. - Isso mesmo dei o livro que tinha oferecido pra ela antes dela escolher esse. Coloquei tudo em uma sacola e entreguei pra ela.
- Obrigada - Ela pegou a sacola da minha mão e sorriu, e foi em direção a porta. Saindo da minha loja. Poxa que mulher, e o melhor, era mais linda que na TV.

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