Capítulo 1

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Um sussurro violou a santidade do sono de Lauren. Um cheiro feminino, doce e suave, feriu-lhe as narinas. Algo quente e gentil roçou-lhe a testa. Ela esforçou-se por abrir os olhos e encontrou a face indistinta e sorridente de sua irmã gêmea. Como Meghan era médica especializada em traumas e, naquele momento, usava roupas de passeio, certamente devia ter sido chamada em casa para estar ali, ao pé da cama.

Ela passou a mão, suavemente, nos cabelos de Lauren e ela notou que havia lágrimas em seus olhos.

— Você acordou...

— Parece. Que horas são? — A voz de Lauren soou rouca, como se ela não a usasse fazia muito tempo. Sentiu a boca seca.

— Três da manhã. — Ela tentou focar o rosto de Meghan.

— Por que não está trabalhando?

— É minha noite de folga.

— Mas você teve que vir ao hospital de qualquer jeito — retrucou Lauren, correndo a língua pelos lábios ressequidos.

— Não tem problema. — Percebendo que a irmã tinha sede, Meghan colocou um pouco de água num copo e ofereceu a ela, dizendo: — Beba só um gole ou dois.

Lauren ergueu a cabeça em direção ao canudo. Incrível como aquele ligeiro movimento provocava uma dor tão terrível. Ela sorriu e bebeu dois pequenos goles, embora sua vontade fosse tomar o copo inteiro.

— O que aconteceu? — A linda boca de Meghan retorceu-se num arremedo de sorriso.

— Talvez seja eu quem deva fazer essa pergunta.

— O que quer dizer com isso? — Lauren sentia dificuldade não apenas em formar as palavras mas de concentrar-se no que estava dizendo. Efeito dos medicamentos, pensou.

— Você tem um ferimento de bala no ombro esquerdo, logo abaixo da linha do pescoço, provavelmente de um rifle. Pode dar graças aos céus que não tenha atingido algum órgão vital ou a articulação do ombro. — Meghan falava naquele tom de voz profissional e sem emoção que usava ao tratar com seus pacientes.

—Tem também um par de costelas quebradas do lado direito, causadas pelo choque com o volante quando você caiu na vala da beira da estrada. Claro, não estava usando o cinto de segurança e é de se admirar que não esteja morta. — Confusa ou não, Lauren achou incrível como a irmã passava tão depressa do profissionalismo para a censura fraternal. Ao término do relato, o tom havia mudado para irritação e incredulidade, o que, ela sabia, era motivado pela preocupação.

— Sem sermões, irmãzinha. Não consegui colocar o cinto e, além disso, não quebrei as costelas no acidente com o jipe. Isso aconteceu quando caí da plataforma de observação dos alces, depois que fui... atingida pelo tiro. Posso beber mais um pouco de água, por favor? — Meghan estendeu-lhe o copo.

— Você estava na plataforma quando foi atingida?

— Na verdade, estava descendo. — Não passou despercebida a Lauren a expressão fechada e as rugas que se formaram na testa de Meghan. — Eu precisava voltar para levar Liz ao show no gelo. — Ela baixou a cabeça contra o travesseiro e fechou os olhos, exausta pelo esforço. — Ela deve estar furiosa comigo...

— Na verdade, creio que Liz disse alguma coisa a respeito de você chegar a extremos só para não ter de sair com ela — retrucou Meghan, com secura.

Lauren mexeu a cabeça para trás e para a frente. Mesmo um gesto tão simples deixou-a atordoada.

— Não quero magoá-la, Meg, mas...

Sem Dizer Adeus - Camren (G!P)Onde histórias criam vida. Descubra agora