Capítulo 10

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Concentração, é o que preciso nesse momento.  Mesmo com todo aquele acidente da semana retrasada, a moça ainda não quis desistir de mim, e que o "treinamento pesado" começaria. 

Só não imaginava que envolvia métodos malucos, ficar amarrada numa cadeira, para manter postura e tentar pegar algo que está à minha frente; por exemplo

- Eu não vou conseguir, me desamarra

- O modo como está nesse momento, é assim que deve ficar quando se sentar em uma mesa.  Agora pegue uma xícara nesta exata posição.

- Está muito longe - Faço manha - É impossível para mim

- Apenas faça - Não se importou com o que disse anteriormente, bufei, e tentei como pedido mas ao invés de um avanço, consegui um outro maravilhoso tombo.  A cadeira caiu literalmente para trás, comigo junto. - Ainda temos muito mesmo a fazer - Dá um longo suspiro pesado.

•×∆ו

As aulas não paravam de ser um desastre atrás do outro.  Era eu rolando escada abaixo com um vestido rodado, caindo com uma bandeja com copos e pratos de vidro (quem deu a idéia do material, por favor se auto-demita do cargo, obrigada), batendo a cara na parede por estar sem ver por conta de uma venda, engasgando com o chá e etc.

- Posso parar? - Digo já com a cara enfiada no chão

- Intervalo. - Toca na cabeça, como todas as outras vezes.   

Ranco quase que com força bruta os saltos que ela me fez usar, e vou até o quarto, onde Luanny me aguardava rindo de tudo o que acontecia quando eu estava em "aulas", debochando, e chorando .... de dar risada.

- Haha, minina você é uma figura mesmo - Fala em meio a gargalhadas

- Fica rindo, que eu vou enfeitiçar seu cabelo pra acordar todo ferrado. Ai!

- Me livre, não tenho nada a ver com seus acidentes viu? Hum - Diz enquanto me ajuda com os machucados, que fui adquirindo como bônus.

- Se eu fosse embora, não teria que passar por nada disso, iria ser do meu jeito - Falo em meio novamente aos devaneios de sempre

- Guria, realmente não lhe entendo - Assume

- O quê?

- Você praticamente se deu tão bem nessa idade, de forma repentina, ganhou uma vida que tantas outras pessoas gostariam de receber. E simplesmente despreza com toda a força, e nem se dá ao luxo de querer se adaptar ou passar a gostar um pouquinho que seja.

- Não tenho culpa se não me ouviram. Falei claramente que uma outra garota qualquer amaria mais do que eu. Não esperava nadinha, não a almejei. - Dou de ombros

- E por que não diz seus sentimentos para eles dois?

- Porque.... Eles ficaram tão felizes e comovidos quando aceitei, e além do mais, são muito gentis e amáveis; não merecem saber, não ME merecem - Aponto para mim mesma - Uma pessoa tão ingrata em oportunidade de uma nova e boa vida. Não sei explicar direito mas não consigo ver nada como real, pra mim é ilusão, ou um sonho perdido de alguém. É surreal.  E além do mais, insistiram que só Deus na causa, me sequestraram senhor - Coloco os braços pra cima como se eu tivesse dito a coisa mais absurda

- Sim sim, risos. Aceite, Agatha. Nada vem fácil, muito menos de bandeja como foi para você.  Aproveite o máximo que puder, dê o seu melhor e estará tudo bem mas não esconda quando estiver assim.

- Se em dias de aulas de "adaptação" me dou tão mal, se não consigo ser sincera comigo mesma, se não consigo admitir essa situação toda, como posso ser princesa? - Falo sentindo minhas lágrimas brotarem - Não posso nem contar com quem deveria, que só querem meu bem, por receio de magoá-los....eu tô sozinha... - Falo a última frase como um sussurro

- Oh querida, errar é normal da mesma forma que tropeçar. Caiu, levante e tente outra vez.  É assim que aprendemos e seguimos. Você é novata ainda, há tempo para se adaptar. E se quiser pode contar comigo

- Sério?

- Claro. Quando precisar estarei do do teu lado, e não é só porque sou praticamente sua babá - Ri e dou uma tapa fraco no seu braço - Irei lhe ajudar, inclusive com seus conflitos pessoais e dúvidas, mesmo não sendo muito sabia há há - Ela ajoelha no chão como se fosse me pedir em casamento - Posso ter a honra de ser  sua amiga, aqui? - Sentir aquelas palavras me deu um aconchego

- Pode. - Digo por fim, derramando algumas lágrimas- Mas levanta que isso tá ridículo haha - E me desabo em chorar

- Sim que mico você me fez passar, mas ótimo, CHEGA DE CHORAR AMIGA AFF, PARECE UMA TORNEIRA MINHA FILHA - Sorrio com aquilo e me acomodo em um abraço, enquanto me acabo - Pronto pronto - Eu não queria sair daquele abraço nunca mais, eu jurava que seríamos inimigas desde que cheguei aqui, pois era mais uma pessoa impossível de se acreditar, e também ficava morrendo com cada coisinha que fazia. Eu posso confiar nela, mas ainda não irei conseguir contar tudo o que passa pela minha cabeça nesses dias. Não dá. Simplesmente. Mas agora tenho uma amiga, outra quero dizer, que eu poderei manter mesmo com todos os meus chiliques.

É.

Isso é especial para mim.

ו∆•×

Retornei para as aulas mas sorrindo todas as vezes que "um escorregão" acontecia. A madame ficava brava e nem ligava para ela, só fazia eu rir mais ainda e da cara dela.

- Pegue a xícara, princesa - Me dava livrada

- HAHAHAHA, se-sem violência ó? Livrada desnecessária Aaahh hahaha - Me contorcia rindo e não parava, parecia uma hiena. Até caio para trás, mas não perdi o pique.

- Ah, outra vez. Não devia ter lhe deixado ter intervalo - Bate a mão na testa desapontada.

Podia até ser que tivesse dado, tudo errado nas minhas práticas, mas não posso deixar de lado meu riso, meu eu.  Só me esforçar para chegar lá, e irei dar meu melhor, com bom humor e como havia prometido.

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