O vidro estava escuro como um mar vermelho. Parecia querer me cobrir, me sufocar junto. Minha garganta continuava travada. O choque. Em minha mente, a voz de menininha gritava alto, porém ninguém a sua volta parecia ouvir. Não havia dor aparente. Porém, me sentia longe...longe da luz...longe de tudo. Esperei que alguem me abraçasse. Esperei que meu pai viesse e me pegasse no colo e me levasse para casa. Mas só havia silêncio. Tentei me elevar acima do medo, tentei abrir os olhos para buscar alguma ajuda, mas fui dominada pelo pânico quando descobri que estava sozinha. Minha mãe sumira. Tentei falar, chamar alguém, mas o barulho das sirenes me ensurdecia. Comprimi as mãos contra os ouvidos apertando-os até que doessem, e me encolhi. Queria me tornar tão pequena que ficasse invisivel. Dormir, eu queria dormir. Também queria que Jones estivesse ali comigo, por mais estranho que pudesse parecer. Sentia um leve toque de paz quando ele estava por perto. Mas naquele momento nada sentia, além de uma forte onda de agonia. Lagrimas quentes escorriam pelo meu rosto, parecendo queimá-lo. Até que subitamente, pude sentir uma mão no meu ombro. Por um instante permaneci ali deitada, simplesmente estremecendo, sentindo-me aprisionada, enquanto o sonho ia lentamente desaparecendo. Uma voz grita meu nome, uma voz masculina e com um soar de panico....
-Chloe!
Olho a minha volta e vejo um ambiente familiar. Alguns posters de bandas pela parede e um tom preto e branco. O tom claro de umas partes do ambiente faziam meus olhos doerem, fazendo com que fechassem e abrissem repetidas vezes. Ainda um pouco confusa, olho para os lados e vejo minha escrivaninha, com alguns papeis e lapis jogados como em um quarto de criança.
Como um eco, ainda ouço aquela voz chamando meu nome. Quem seria que.....
*alguem abre a porta*
Ainda deitada, me apoio nos cotovelos e apenas olho para o rosto pálido de dona Sara me encarando na porta. Estava tudo muito estranho. Faltava algo. Faltava aquela energia contagiante, faltava os berros e sorrisos.
Com um silencio perturbador e ela ainda me olhando como um fantasma, um monstro que habita em baixo da cama de crianças, pronto para devorar seus pés. Levanto de vagar ainda um pouco desnorteada.
-já estou descendo. Afirmei para Sara sem olhar para ela. Apenas me levantando e colocando minhas botas.
Sara sai e fecha novamente a porta. Ok... isso foi esquisito.Tudo parecia relativamente desconfortável, sentia meus olhos pesados. Provavelmente porque não havia tido uma tranquila noite de sono. Minhas mãos pareciam tremer constantemente como se correntes elétricas passassem pelos meus nervos.
Comum de acontecer em noites de pesadelos como esta, minha cabeça doía como se houvesse tomado uma paulada.
Depois de alguns minutos sentada na beira da cama, com a esperança daquela dor insuportável passar. Sem êxito, obvio. Percebi que ainda estava com a roupa de ontem. Calça jeans preta um pouco rasgada na coxa e uma blusa cinza com a estampa de um selo já quase apagado por ser já velha a mesma. Pego algumas coisas e vou até o banheiro no fim do corredor, ainda no andar de cima.
Tomo um banho frio, para tentar acalmar os nervos e ter alguma sensação de estar viva naquele momento. Fazia 15° lá fora. Mesmo assim, nada como um choque no corpo para sentir que ainda sou humana. Tantas coisas aconteceram nos últimos dias, que não tenho a mínima ideia do que seja absoluto ou não. Tyler depois de tantos anos de apenas encaradas e sorrisos pelos becos da vida, ele me beija apenas sendo a forma de se livrar de uma encrenca naquele dia conturbado. Para ele, realmente nada deve ter significado. Não que eu ligue mas... por anos sempre o notei. Nada sei sobre ele. Seus pais, sua familia. Tudo que sei é que ele morou por anos em uma casa com aparência de abandonada no fim da estrada do rio Drownlake. Suas notas são sempre ruins e ninguém, absolutamente ninguém ousou algum dia mexer com ele. Houve alguns boatos de uns anos atrás de que ele havia feito amizade com um garoto no colegial, porém depois de alguns meses de amizade, o rapaz ficara estranho e agressivo e nunca mais souberam do paradeiro dele. A vizinhança dizia que ele apanhava em casa ou algo do tipo. Que ele havia fugido por causa das agressões. Vários boatos, porém nenhum deles com provas concretas. Culparam Tyler por ter ajudado ele na possível fuga. Outros disseram que ele brigara com o rapaz e durante a briga houve um acidente e ele sumira com os vestígios de um possível assassinato.
Tantos boatos, e muitos deles apenas por ele ser... diferente. Queria saber realmente, descobrir os segredos por trás daqueles olhos castanho sangue.
Alguns flashs daquele beijo passavam na minha mente enquanto a água fria passava quase em câmera lenta da cabeça, passando pelas costas, aos pés. A luz do sol entre nuvens naquela manhã passava por uma pequena janela um pouco acima da minha cabeça. Iluminando um pouco o medalhão que usava no pescoço que por ter dormido com ele, estava pra trás se entrelaçando no meu cabelo negro e molhado.
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Drownhill
Mystery / ThrillerHabitamos em um mundo unico? Será que estamos sozinhos neste imenso cosmo? O que é mesmo real e o que é fruto de nossa imaginação? Traumas, situações nos mudam... nos moldam. A cada canto da cidade, a cada beco escuro há um segredo, um grito n...