Capítulo 1

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                                                                                         *Anna*

   Naturalmente, uma pessoa ficaria feliz na véspera do seu aniversário, ainda mais quando se está prestes a completar 15 anos. Normalmente eu sou esse tipo de pessoa, mas este ano é diferente. Desde a hora que acordei, tive uma sensação, um mau pressentimento, que algo de ruim aconteceria, e logo. Porém, como contrapeso, Bianca não parava de sorrir, cantarolar, gabar-se por ter nascido alguns segundos antes de mim. Além do fato de ela ficar saltitando por aí como se estivesse em um conto de fadas onde tudo era perfeito. Mas a nossa realidade não é bem assim.

   Para começar, nós não conhecemos o Robert e eu me recuso chama-lo de pai. Um pai de verdade não perde 14 aniversários de suas filhas, um pai de verdade não deixa de mandar uma carta, um e-mail ou até mesmo um cartão de Natal. A unica coisa que ele já nos enviou, como prova de que ainda estava vivo, foram algumas cartas e um vale desconto, no nosso décimo aniversário, de uma livraria falida do outro lado da cidade. Mesmo claramente sendo um "pai" ausente - beirando o inexistente - ele devia ter a mínima noção de que esse não é um presente ideal para suas filhas de dez anos de idade, certo? 

  Além disso, nossa mãe (Amy) acabou de perder um dos dois empregos e isso significa o fim dos jantares na pizzaria, que já eram raros. Ah... eu já ia quase esquecendo das piadinhas e zoações que ouvimos na escola, pelo fato do nosso sobrenome ser Castilho, ao invés de Smith ou Edwards.

   Pensando bem, agora entendo o porquê ela é sempre tão positiva e alegre. Ela usa isto como escudo, para proteger os sentimentos dos outros e acima de tudo... os seus. Infelizmente não tenho esse dom, eu não consigo esconder e filtrar todos os meus sentimentos em sorrisos e atitudes positivas, a única coisa que sei fazer é transformar tudo isso em impaciência e irritação

                                                                                          (...)

   Já eram quatro horas da tarde, ou seja, faltavam oito horas para o nosso aniversário e nossas aulas tinham acabado. Indo pro meu armário encontrei com Bianca e percebi que ela tinha trocado de roupa. Antes estava usando uma calça legging preta, uma bata de manga comprida vinho, ressaltando seu cabelo castanho-claro liso - que por sinal eu invejo um pouco - e um par de coturnos bege, tudo favorecendo os seus olhos hétero-cromáticos ; mas agora vestia uma blusa caqui e shorts jeans. 

_O que aconteceu com você?_ perguntei, estranhando a mudança.

_Tive um problema no laboratório de química do professor Collins. Eu me empolguei na mistura de potássio e água, que gera hidróxido de ... _ explicava minha irmã, quando interrompi.

_Saquei saquei, você já pode parar de dar uma de rato de laboratório!_ exclamei sem paciência.

   Sim, minha irmã é muito inteligente e isso às vezes me tira do sério.

_Dios mio! Usted es muy exagerada!_ protestou ela. -

   Nossa mãe sempre nos incentivou a falar espanhol em casa e às falamos por costume.

_Tá, deixa pra lá. Vamos pra casa?_ sugeri.

   Bianca assentiu com a cabeça e fomos andando.

                                                                                             (...)

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